Relembre o ano turbulento que a Boeing teve em 2024

O ano turbulento da Boeing terminou de maneira trágica no último domingo (29), quando o modelo 737 pilotado pela companhia aérea coreana de baixo custo Jeju Air caiu, matando 179 passageiros e os tripulantes a bordo.

Ainda não está claro o que causou a queda do jato, e a investigação pode levar meses. Não há evidências neste momento de que a fabricação da Boeing foi a culpada.

“Estamos em contato com a Jeju Air em relação ao voo 2216 e estamos prontos para apoiá-los”, disse a fabricante em uma declaração. “Estendemos nossas mais profundas condolências às famílias que perderam entes queridos e nossos pensamentos permanecem com os passageiros e a tripulação.”

Mesmo confirmado que esse último incidente não foi culpa da Boeing, o evento marca o fim de um ano turbulento para a fabricante de aeronaves, e que diferentemente do acidente de Jeju, a maioria desses outros problemas foi claramente culpa da Boeing.

As ações da Boeing (BA) caíram cerca de um terço neste ano, após fechar em queda de mais de 2% na última segunda-feira (30) após o acidente.

O CEO e vários outros executivos proeminentes foram demitidos e a sequência aparentemente interminável de manchetes ruins levantou sérias questões sobre a capacidade da empresa de controlar seus problemas de segurança e qualidade.

Incidente aéreo no Alasca

2024 começou com um tampão de porta explodindo da lateral de um 737 Max pilotado pela Alaska Airlines minutos após a decolagem de Portland, Oregon. As roupas e celulares dos passageiros foram arrancados e arremessados ​​pelo buraco aberto na fuselagem do avião enquanto o ar da cabine saía rapidamente.

Ninguém ficou gravemente ferido no avião, que pousou minutos depois sem incidentes. Os assentos próximos ao plugue da porta não tinham passageiros sentados neles.

Mas a investigação preliminar do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB) descobriu que o avião havia saído de uma fábrica da Boeing dois meses antes sem os quatro parafusos necessários para manter o tampão da porta no lugar.

Antes do incidente de 6 de janeiro, ele havia feito 153 voos, alguns com longos trajetos sobre o Pacífico entre o Havaí e o continente dos Estados Unidos, e foi uma questão de sorte que o plugue da porta não tivesse explodido em um voo anterior, que poderia ter causado um acidente fatal.

O incidente levou a inúmeras investigações federais, não apenas pelo NTSB, mas também pelo Congresso, a Administração Federal de Aviação (FAA) e o Departamento de Justiça.

O FBI notificou àqueles que estavam no avião de que poderiam ser considerados vítimas de crimes, e a investigação da FAA levou a uma maior supervisão da Boeing pela agência, incluindo limites sobre quantos aviões poderiam ser produzidos.

A FAA também adiou qualquer possível certificação de duas novas versões do Max que a Boeing planejava começar a entregar aos clientes este ano.

As investigações e audiências trouxeram depoimentos de vários denunciantes da Boeing, que testemunharam sobre problemas com a qualidade da empresa e procedimentos usados ​​para construir aviões, bem como pressão para colocar a velocidade da produção à frente da segurança da aeronave e retaliação contra funcionários que reclamaram.

A Boeing insistiu que tomou medidas para melhorar a qualidade e a segurança, e para encorajar os funcionários a levantar quaisquer preocupações.

Alegação criminal

O incidente da Alaska Air reabriu a Boeing para um novo processo, caso a companhia tivesse concordado em fazer um acordo três anos antes.

Em julho, a Boeing concordou em se declarar culpada de acusações federais de que havia enganado a FAA durante o processo de certificação inicial do 737 Max. Sob o acordo, ela concordou em pagar até US$ 487 milhões em multas, o dobro do que pagou originalmente sob um acordo de processo diferido em 2021.

A consequência mais séria para a Boeing foi o acordo para operar sob a supervisão de um novo monitor nomeado pelo governo.

No entanto, em outubro, um juiz federal rejeitou o pedido em parte por causa de dúvidas sobre como um monitor nomeado pelo governo seria selecionado, deixando a punição final ainda incerta.

Astronautas presos

Em junho, a Boeing finalmente lançou uma missão tripulada com sua nave espacial Starliner, levando os astronautas da NASA Butch Wilmore e Suni Williams à Estação Espacial Internacional (ISS).

A missão era aguardada há muito tempo, após anos de desenvolvimento e problemas de voo de teste que a deixaram muito atrás da nave espacial rival SpaceX Dragon no transporte de astronautas para a ISS.

Mas o sucesso durou pouco: logo após a chegada da Starliner, a NASA revelou que vazamentos de hélio e falhas nos propulsores significavam que não era seguro que a Starliner retornasse os dois astronautas à Terra após oito dias no espaço, conforme planejado originalmente.

A espaçonave finalmente retornou à Terra sem ninguém a bordo, e Wilmore e Williams estão esperando uma carona para casa em uma SpaceX Dragon em algum momento no início de 2025. Ainda não se sabe quando a Starliner da Boeing poderá transportar astronautas novamente e cumprir o contrato da empresa com a NASA.

Greve

Em setembro, 33 mil membros da International Association of Machinists começaram uma greve que interrompeu a produção do 737 Max e da aeronave cargueira da empresa.

Os membros do sindicato votaram quase unanimemente para rejeitar um acordo provisório que havia sido alcançado entre a empresa e a liderança do sindicato cerca de uma semana antes.

Muitos membros do sindicato ainda estavam irritados com a perda de um plano de pensão tradicional 10 anos antes, e permaneceram em greve por quase dois meses.

Eles rejeitaram uma oferta subsequente antes de finalmente votarem a favor de uma terceira oferta que lhes deu um aumento imediato de 13% e aumentos de 9% para cada um dos próximos dois anos, e então outros 7% no quarto e último ano do contrato.

Combinados, isso aumentou o pagamento por hora em 43% ao longo da vida do contrato.

Além do custo do novo acordo trabalhista, a paralisação do trabalho foi a greve americana mais cara do século XXI, custando à empresa, aos seus trabalhadores e aos seus fornecedores mais de US$ 11,5 bilhões, de acordo com o Anderson Economic Group, uma empresa de pesquisa de Michigan com experiência em estimar o custo das paralisações de trabalho. A Boeing levou cerca de um mês para retomar a produção após o fim da greve.

Durante a paralisação, a Boeing anunciou que seria forçada a cortar 10% de sua força de trabalho global de 171 mil funcionários, em uma medida de redução de custos para limitar perdas futuras.

Perdas crescentes

Em outubro, a Boeing anunciou um dos seus piores trimestres financeiros em anos, com seu prejuízo operacional principal subindo para US$ 6 bilhões no terceiro trimestre.

Ela estava prestes a relatar seu maior prejuízo anual desde 2020, quando estava lidando com o aterramento do Max e a pandemia da Covid-19 — gerando perdas massivas em toda a indústria aérea global.

As perdas trimestrais não foram apenas da greve, que afetou apenas as duas últimas semanas do período.

Elas incluíram uma cobrança de US$ 3 bilhões antes dos impostos por mais atrasos em seu jato comercial de última geração, o 777X, que encontrou problemas durante voos de teste e agora não será entregue aos clientes até 2026.

A Boeing alertou que as perdas provavelmente continuarão ao longo de 2025, enquanto busca fazer a produção voltar aos níveis lucrativos. A empresa perdeu US$ 39,3 bilhões desde o início de 2019, quando o segundo acidente fatal de seu principal jato de passageiros, o 737 Max, levou a um aterramento do avião por 20 meses.

A Boeing relatou perdas em praticamente todos os trimestres desde então. Sua classificação de crédito está prestes a ser rebaixada para o status de junk bond pela primeira vez em sua história.

Jeju Air

O ano da Boeing terminou em tragédia. O trem de pouso do avião da Jeju Air parecia não estar estendido enquanto tentava pousar. Houve relatos de uma colisão com pássaros, fazendo com que os pilotos do avião emitissem um pedido de socorro ao se aproximar do aeroporto em Muan, na Coreia do Sul.

O avião, um 737-800, tem um histórico de segurança muito forte, diferentemente de seu modelo sucessor, o 737 Max. O 737 Max teve vários problemas, incluindo acidentes fatais em 2018 e 2019 que mataram um total de 347 pessoas e levaram a um aterramento de 20 meses para consertar uma falha de projeto.

Dados da Boeing mostram que o 737-800 teve uma das menores taxas de acidentes fatais do setor quando comparado ao número de voos realizados.

Um avião de 15 anos, como o que caiu no domingo, dificilmente terá problemas causados ​​por uma falha de projeto ou problemas de produção atribuídos à Boeing. Mas é muito cedo para dizer por que o trem de pouso do avião da Jeju Air não foi estendido.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Relembre o ano turbulento que a Boeing teve em 2024 no site CNN Brasil.

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