Cineasta é condenado a 3 anos de prisão por documentário sobre protestos na China

Um cineasta chinês foi sentenciado a três anos e meio de prisão pela produção de um documentário sobre os protestos ocorridos no final de 2022 na China contra os lockdowns da pandemia de Covid-19.

Chen Pinlin foi condenado por um tribunal de Xangai nesta segunda-feira (6) após um julgamento de três horas realizado a portas fechadas, informou à CNN uma pessoa familiarizada com o caso.

O homem de 33 anos foi acusado de “escolher brigas e provocar problemas” – um tipo de crime frequentemente usado pelo governo chinês para silenciar dissidentes e prender ativistas, advogados e jornalistas.

Chen, que usa o nome “Plato”, foi detido pela polícia de Xangai em novembro de 2023 após lançar um documentário para marcar o primeiro aniversário daqueles que ficaram conhecidos como os protestos do “Livro Branco”.

As manifestações em massa marcaram a maior demonstração de dissidência popular registrada na China em décadas e representaram um desafio sem precedentes para o líder Xi Jinping.

Os protestos tiveram como estopim um incêndio fatal em um apartamento na cidade de Urumqi, no oeste do país, em novembro de 2022. Muitos acreditaram que as medidas de lockdown da pandemia dificultaram os trabalhos de resgate, apesar de as autoridades negarem. A tragédia expôs uma profunda revolta popular que já vinha crescendo após quase três anos de lockdowns, testagens em massa e dificuldades financeiras.

Manifestações eclodiram em todo o país, em uma escala não vista desde o movimento estudantil de Tiananmen em 1989. Em universidades e ruas de grandes cidades, multidões se juntaram para pedir o fim das políticas Covid zero de Xi, com alguns criticando a censura e demandando maiores liberdades políticas.

Algumas pessoas seguraram folhas de papel A4 em branco – uma metáfora para as incontáveis postagens e notícias críticas removidas por censura –, razão pela qual os protestos ficaram conhecidos em alguns locais como protestos do “Livro Branco”.

Em Xangai, manifestantes chegaram a exigir que Xi renunciasse – um ato inimaginável de desafio político ao líder mais poderoso e autoritário do país em décadas.

As manifestações eventualmente diminuíram em meio a um aumento da repressão por parte das autoridades de segurança. Pouco depois, o governo chinês abandonou as restrições de Covid em uma súbita meia-volta, embora não tenha reconhecido os protestos em nenhum comunicado público.

O documentário de Chen foi publicado no YouTube e no X, que são bloqueados na China. As contas dele em ambas as plataformas foram removidas.

Em chinês, o documentário foi chamado de “Urumqi Middle Road” – uma referência à rua na qual os manifestantes se juntaram em Xangai para demonstrar sua raiva sobre o incêndio ocorrido na cidade de mesmo nome.

Em inglês, a obra recebeu o nome de “Not the Foreign Force” (“Não a Força Estrangeira”, em tradução livre). Anteriormente, Chen afirmou que quis usar o documentário para rebater a tentativa do governo de descreditar os protestos e culpar “forças estrangeiras” por orquestrarem dissidência – uma tática frequentemente utilizada pelo Partido Comunista Chinês para minimizar momentos de revolta popular genuína.

Assim como muitos jovens que participaram dos protestos, a ida às ruas de Xangai em 26 de novembro de 2022 foi a primeira vez em que Chen externou suas demandas políticas na China, de acordo com uma publicação feita pelo cineasta quando lançou o documentário.

Ele afirmou que produziu o documentário para representar sua experiência e reflexões pessoais.

“Eu gostaria de explorar por que, sempre que conflitos internos surgem na China, forças estrangeiras são sempre utilizadas como bode expiatório. A resposta é clara para todos: quanto mais o governo engana, apaga e censura, mais nós devemos falar, lembrar outros e recordar”, ele escreveu. “Apenas recordando o desencanto nós podemos lutar rumo à luz. Eu também espero que um dia a China possa abraçar sua própria luz e futuro.”

Grupos internacionais de direitos humanos pedem a soltura de Chen desde que ele foi preso.

Chen “apenas serviu ao interesse público ao registrar protestos históricos contra os abusos do regime e jamais deveria ter sido preso. Nós clamamos às democracias para que aumentem a pressão sobre as autoridades chinesas a fim de assegurar que todas as acusações contra Chen sejam retiradas”, declarou o Repórteres Sem Fronteiras (RSF) em um comunicado em março.

O opaco sistema judiciário chinês, que responde ao Partido Comunista, tem um índice de condenação acima de 99%. Julgamentos são rotineiramente realizados a portas fechadas. A China definha rumo ao fundo do ranking anual de liberdade de imprensa do RSF, aparecendo na 172ª de 180 posições.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Cineasta é condenado a 3 anos de prisão por documentário sobre protestos na China no site CNN Brasil.

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