Mudança no cálculo da meta de inflação amplia incerteza, indica especialista

O cálculo que define se o Banco Central (BC) cumpriu ou não a meta de inflação mudou no dia 1º de janeiro. A partir deste ano, a autoridade monetária perseguirá uma meta contínua e não mais a variação anual do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) observada no dia 31 de dezembro de cada ano.

Com a alteração, o BC só descumprirá a meta se o acumulado de 12 meses ficar fora do intervalo proposto ao longo de seis meses consecutivos.

O novo cálculo dá mais flexibilidade e permite à autarquia se adaptar a choques conjunturais na inflação. Mas também contribui para o cenário de incerteza que se acumulou no fim do ano passado, causado pela falta de confiança do mercado na política fiscal do governo Lula e que causou a disparada do dólar e a fuga de capital estrangeiro.

O risco é de que a mudança atrase a resposta do BC à uma possível escalada na inflação. Um modelo calculado pela Lifetime Investimentos mostra, por exemplo, que a autoridade monetária teria cumprido a meta em dezembro de 2024 caso o modelo atual já estivesse valendo — uma vez que a inflação acumulada só estouraria a meta nos últimos três meses.

A expectativa é de que a divulgação do IPCA de dezembro — marcada para a próxima sexta-feira (10) — confirme que o Banco Central estourou o teto da meta para 2024, que era de uma inflação acumulada de 4,5%.

Se a tendência se confirmar, o Banco Central será obrigado a enviar ao Congresso Nacional uma carta dando explicações sobre por que não conseguiu atingir a meta.

“A ideia do novo modelo é que se há algum barulho em um único mês — como uma safra ruim ou um pico de dólar — você não vai descumprir a meta. É mais flexível. E isso é bom por um lado. Mas como estamos numa fase em que o BC precisa ser muito conservador, se ele der alguma indicação de que essa maior flexibilidade pode fazer com que ele seja mais leniente, a incerteza vai subir”, afirma Marcela Kawauti, economista-chefe da Lifetime Investimentos.

A economista ainda indica que o Banco Central e seu novo presidente, Gabriel Galípolo, podem mitigar o cenário de incerteza ao garantir que a instituição restrinja suas previsões e análises a comunicados oficiais, usando o Relatório de Inflação para apontar os próximos passos da autoridade monetária.

“Dar indicações em reuniões fechadas ou para a imprensa é muito ruim — como fez [Roberto] Campos Neto [ex-presidente do BC] lá trás. É muito importante que o BC se atenha aos documentos oficiais.”

Novo modelo aproxima Brasil do padrão internacional

O sistema contínuo de apuração das metas partiu de uma decisão do Palácio do Planalto, em 2023. E contou com o apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do então presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Esse modelo já é adotado em economias desenvolvidas, como Estados Unidos, Zona do Euro e Canadá, e também em países emergentes, como Chile, Peru e México.

Além da apuração dos resultados, a mudança ainda altera a maneira como é definida a própria meta da variação dos preços. Antes, o Conselho Monetário Nacional (CMI) — composto por dois ministros do governo e pelo presidente do BC — era responsável por definir a meta que seria perseguida pelo BC no ano seguinte, assim como o intervalo aceitável dentro dela.

Agora, qualquer mudança exige uma antecedência mínima de 3 anos.

“Ter um regime mais flexível é um sinal de maturidade. Isso é importante. O problema é o timing, que acabou sendo bastante ruim. Ninguém esperava que a gente ia terminar 2024 dessa forma. O Banco Central tem como manter a calma fazendo uma boa comunicação. Essa é a chave”, finaliza Kawauti.

 

Este conteúdo foi originalmente publicado em Mudança no cálculo da meta de inflação amplia incerteza, indica especialista no site CNN Brasil.

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