Perita reforça caso de envenenamento agudo no bolo contaminado em Torres, após declaração da Polícia Civil

“Os dados apontam para intoxicação aguda de origem externa, ou seja, intencional”

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul divulgou no dia 6/1, novos detalhes sobre o caso do bolo envenenado em Torres, no Rio Grande do Sul, em 23 de dezembro, que resultou na morte de três pessoas e na hospitalização de outras duas da mesma família.

A investigação apurou que a farinha utilizada na preparação do bolo foi contaminada com arsênico, uma substância altamente tóxica, encontrada em solo, rochas e produtos industriais. Deise Moura dos Anjos está presa temporariamente como a principal suspeita de ter planejado o ato de forma premeditada, com o intuito de causar danos graves, e está sendo investigada por triplo homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e com emprego de veneno e tripla tentativa de homicídio duplamente qualificada.

De acordo com as informações divulgadas pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul, o resultado da perícia apontou que a quantidade de arsênico, elemento químico naturalmente encontrado no solo, rochas e sedimentos, além de ser componente de pesticidas e produtos industriais, encontrado na farinha era de 65 gramas por quilograma, cerca de 2,7 mil vezes maior do que a concentração da substância encontrada no bolo.

Ainda conforme o resultado da perícia, os níveis de arsênico encontrados no sangue, urina e conteúdo estomacal das vítimas estavam entre 80 e 350 vezes acima da dose considerada letal. Sobre essa questão, a médica especialista em medicina legal e perícia médica Caroline Daitx, comenta que, isso indica claramente uma intoxicação aguda, com intencionalidade criminosa. “Os sintomas relatados, como vômitos, diarreia, dor abdominal e fraqueza muscular, convulsões, além do desfecho fatal, reforçam o quadro de envenenamento agudo, provocado por doses muito superiores às que poderiam ser absorvidas acidentalmente ou por exposição ocupacional”, explica.

Daitx destaca que o arsênico é um elemento presente naturalmente no ambiente e que pode ser ingerido em pequenas quantidades por meio de alimentos e água. No entanto, a quantidade usada nesse caso excede significativamente qualquer nível relacionado a exposição ocupacional ou acidental. “Os dados apontam para intoxicação aguda de origem externa, ou seja, intencional”, reforça a perita.

Fonte: Caroline Daitxmédica especialista em medicina legal e perícia médica. Possui residência em Medicina Legal e Perícia Médica pela Universidade de São Paulo (USP). Atuou como médica concursada na polícia científica do Paraná e foi diretora científica da Associação dos Médicos Legistas do Paraná. Pós-graduada em gestão da qualidade e segurança do paciente. Atua como médica perita particular e promove cursos para médicos sobre medicina legal e perícia médica.

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