Congresso tem 24 projetos em defesa da democracia parados; textos foram enviados após o 8 de janeiro


Medidas para aumentar pena de tentativa de golpe, por exemplo, estão travadas em comissões da Câmara e do Senado dois anos após atos antidemocráticos; PT fala em prioridade para 2025. Dois anos após golpistas invadirem as sedes dos Três Poderes, o Congresso Nacional ignora ao menos 24 projetos em defesa da democracia.
Apresentadas depois do 8 de janeiro de 2023, as propostas incluem medidas propostas pelo próprio governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), segundo levantamento realizado pela GloboNews.
Congresso
Reprodução/TV Globo
O chamado “Pacote da Democracia” anunciado e enviado pelo governo para a Câmara dos Deputados em julho de 2023 está entre as propostas paradas.
O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), sequer indicou um relator para os dois projetos enviados pelo então ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino.
Governo anuncia projetos de lei para endurecer combate a crimes contra democracia; veja detalhes
As medidas defendidas pelo governo Lula são para a criação de novos crimes, como incitar e financiar atos antidemocráticos, estabelecendo penas que podem chegar a até 12 anos de prisão. Algumas propostas também criam o delito de impedir o exercício de autoridades dos Três Poderes.
Dino queria ainda que a apreensão de bens e o bloqueio de contas bancárias fosse facilitado, permitindo que um juiz possa fazer isso por iniciativa própria e em qualquer etapa do processo — mesmo antes da denúncia ou queixa.
Saiba quais foram as consequências dos atos antidemocráticos do 8 de janeiro
Projetos travados
Depois de um ano sem avanço nas pautas, o líder do Governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), apresentou as medidas no Senado.
Por lá, os textos foram enviados para a Comissão de Defesa da Democracia, comandada por uma aliada de Lula e Dino, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA). Ainda assim, não avançaram.
Segundo o deputado Rogério Correia (PT-MG), um dos integrantes da CPI dos Atos Golpistas, projetos para fortalecer a democracia e endurecer a punição contra atentados à democracia serão uma prioridade para a bancada petista e para o governo nos próximos anos.
“Vamos dar prioridade a isso, inclusive a bancada do PT, com a nova liderança do [deputado] Lindbergh Farias, a ideia é colocar a democracia como um dos pontos centrais”, disse.
Para o deputado, as propostas não andaram por falta de mobilização popular — o que, na avaliação dele, deve acontecer com as denúncias feitas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) no inquérito golpista —, e também por desinteresse de parlamentares do Centrão.
Por outro lado, parlamentares da base governista que têm um posicionamento mais crítico apontam inação do governo federal na defesa dessas pautas no Congresso.
Evento em apoio a democracia relembra ataque de 8 de janeiro de 2023
Ricardo Stuckert / PR
Câmara e Senado parados
Na Câmara, a maior parte das propostas se concentra na criação de um dia em memória dos atos golpistas.
São oito projetos com diferentes enfoques, como defesa da democracia, combate ao fascismo e terrorismo, memória e Justiça pelos crimes contra a democracia que tramitam majoritariamente na Comissão de Cultura e são de autoria de parlamentares da base governista, especialmente do PT e do PSOL.
Outros três projetos na Câmara abordam a anistia para os condenados por atos golpistas a partir de outubro de 2022. Uma iniciativa da oposição que foi a principal pauta bolsonarista no Congresso em 2024. Há ainda dois projetos que propõem o fim do uso de cavalos para conter as manifestações na Esplanada.
Oposição critica relatório sobre golpe e defende anistia
Já no Senado, a iniciativa de anistiar os envolvidos nos atos golpistas aparece em cinco projetos, incluindo uma Proposta de Emenda à Constituição. O senador da oposição Márcio Bittar (União Brasil-AC) também quer que decisões do Tribunal Superior Eleitoral que declararam candidatos das Eleições de 2022 inelegíveis sejam anuladas. É o caso do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A oposição tem ainda um projeto para retirar a previsão do crime de Golpe de Estado do Código Penal. Na justificativa da medida, o autor, senador Jorge Seif (PL-SC), fala em “impedir o avanço da tirania” e cita uma suposta aliança do Executivo com o Judiciário como uma “ameaça à democracia”.
Por outro lado, as propostas de governistas no Senado também são mais amplas. Tem pedido de alteração na Lei Antiterrorismo para incluir ações politicamente motivadas, assim como incluir crimes contra o Estado Democrático de Direito como hediondo.
Uma outra proposta na Casa busca criminalizar a chamada tentativa de golpe de Estado não-violenta quando as ações tiverem origem de funcionários públicos, sejam civis ou militares. O texto apresentado pela senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) está parado e pode ter dificuldades de avançar, já que pode impactar a liberdade de expressão.
Apesar disso, todas as propostas também estão paradas no Senado. A maioria na mão do senador Humberto Costa (PT-PE), que é o relator na Comissão de Defesa da Democracia. Os trabalhos da comissão devem ser retomados em fevereiro, com o novo ano Legislativo. Mas não há parecer para nenhuma das medidas até o momento.
Adicionar aos favoritos o Link permanente.