Após 7 meses internada, bebê seguirá tratamento de alta complexidade em casa; programa no Rio atendeu mais de 3,6 mil em domicílio em 2024


Catarina Gomes, de 10 meses, foi diagnosticada com bronquiolite em maio, passou pela UPA de Duque de Caxias, foi internada no Hospital estadual de Nova Iguaçu e no Zilda Arns Neumann, em Volta Redonda. Lá, a família conseguiu incluir a menina no Programa de Atenção Domiciliar ao Idoso (PADI) e ela pode voltar ao convívio da família para seguir tratamento. Família de Catarina reunida após 7 meses de internação da pequena; ela agora continuará seu tratamento em casa
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Com apenas 10 meses de idade, a pequena Catarina Gomes conseguiu uma vaga para integrar um programa da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS) que permitirá que conclua um tratamento de alta complexidade em casa, após 7 meses de internação por conta de uma bronquiolite.
Com a adesão ao programa, depois de passar por três unidades de saúde, em municípios diferentes, ela poderá seguir com o tratamento de alta complexidade em casa, ao lado do irmão gêmeo e dos pais, em Guadalupe, na Zona Norte do Rio.
Apesar do nome, o para integrar o Programa de Atenção Domiciliar ao Idoso (PADI) busca promover a desospitalização de pacientes, independentemente da idade, que estejam restritos ao leito ou com mobilidade reduzida e tenham condições de retornar para casa.
“Estou muito feliz. Sabe quando você não aguenta mais? Eu só chorava, dia e noite. Com a volta dela para casa, o ânimo mudou, a esperança triplicou. No hospital, a Catarina só dormia, em casa ela quer ficar acordada, interagir com a família”, comentou a mãe Ana Carolina Gomes.
67 dias intubada
A família de Catarina teve um primeiro susto com os gêmeos recém-nascidos, logo que descobriram que o pequeno Samuel Gomes, irmão de Catarina, precisou tratar uma bronquiolite, em maio de 2024.
Apesar da apreensão da mãe quanto à pouca idade do bebê — ele tinha apenas dois meses —, Samuel respondeu bem aos remédios prescritos pelos médicos e se curou completamente em poucas semanas.
Contudo, poucos dias depois, Catarina foi diagnosticada com um o mesmo quadro de bronquiolite. Ela teve o primeiro atendimento na UPA pediátrica de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. No local, a família já soube que a recuperação da filha não seria tão fácil quanto a do irmão.
O organismo de Catarina não reagiu ao tratamento com remédios e o quadro se agravou rápido. De volta à UPA no dia 5 de maio, a menina precisou ser internada.
De lá, ela foi levada para o Hospital Estadual Dr. Ricardo Cruz, em Nova Iguaçu, também na Baixada, onde chegou a ficar intubada por 67 dias.
Hospital Regional, em Volta Redonda
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Para desespero da família, a pequena precisou ser levada para uma unidade de saúde com mais estrutura. Os médicos então encaminharam a menina para o Hospital Regional do Médio Paraíba Dra. Zilda Arns Neumann, em Volta Redonda.
Como o hospital fica a mais de 100 km de Guadalupe, a família precisou se separar. Catarina e o irmão gêmeo Samuel ficaram afastados por 7 meses, assim como a mãe deles, que ficou no hospital com a filha. Foram 3 meses longe do outro filho.
Com o fim da licença-maternidade, impossibilitada de retornar ao trabalho, foi demitida pela empresa onde trabalhava. Restaram apenas o apoio de seus pais, avós dos gêmeos, e a esperança na melhora da filha.
Tratamento em casa é possível
Após meses de internação e depois de diferentes recursos para solucionar o quadro de Catarina, os médicos concluíram que a melhor alternativa para a recuperação da menina era a continuidade dos cuidados em domicílio.
Os irmãos Samuel e Catarina juntos em casa, em Guadalupe, na Zona Norte do Rio
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Sem saber sobre o PADI, a família de Catarina tinha medo de como seria feito esse atendimento em casa e se ela teria toda a atenção necessária fora do hospital.
“O que me incomodava mais era o processo, era pegar ela pequenininha com oxigênio, na ambulância. Ela estava entubada, qualquer coisa era um risco. Era muito doloroso ver ela nessa situação”, comentou Ana Carolina.
A perspectiva mudou quando o avô de Catarina, pai de Ana Carolina, resolveu buscar orientação na sala do PADI do Hospital Municipal Francisco da Silva Telles, em Irajá, já que, como paciente pediátrica residente do município do Rio, a pequena tinha registro no Sistema de Regulação municipal (Sisreg).
Ele foi recebido na unidade e soube o que precisava para conseguir a desospitalização da paciente. O processo, que envolve dezenas de laudos e comprovações, durou cerca de dois meses.
A separação da família terminou no dia 27 de dezembro, quando Catarina retornou para casa e para o convívio das pessoas que mais amam.
“Eu consegui vir pra casa com a Catarina depois de 237 dias de UTI. Foram dois hospitais e sete meses da gente longe do meu filho, ela do irmãozinho dela. E a gente conseguiu vir para casa graças a Deus e a uma ajuda muito grande do pessoal do PADI de Irajá, que em um tempo recorde mobilizaram tudo para conseguir trazer a gente pra casa”, disse Ana Carolina.
“Ta sendo incrível essa nova etapa com a Catarina em casa. Continua um trabalho muito grande, mas ta sendo prazeroso poder ter os dois juntos dentro de casa e viver isso. Poder cuidar dela aqui dentro, com a família unida, ta sendo um diferencial. A gente ta muito feliz mesmo”, completou a mãe.
PADI teve 3.680 pacientes em 2024
O PADI oferece assistência em casa prioritariamente a pessoas com 60 anos ou mais. Contudo, o programa da Secretaria de Saúde do Rio não tem restrição de faixa etária.
Ana Carolina e os filhos gêmeos, Samuel e Catarina, juntos após 7 meses de internação da menina
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Em 2024, 3.680 pessoas foram atendidas pelo PADI, dos quais 476 foram crianças de até 12 anos — a maioria delas em acompanhamento de alta complexidade, como Catarina.
O serviço é destinado a pacientes estáveis, restritos ao leito ou ao domicílio, portadores de doenças que necessitem de cuidados intensificados e sequenciais.
O programa está presente nos hospitais municipais do Rio de Janeiro, onde é realizada busca ativa de pacientes que atendam aos critérios para desospitalização.
Pessoas que necessitam de atendimento domiciliar, mas não estão hospitalizadas também podem solicitar os serviços do PADI na unidade de saúde municipal mais próxima de sua residência. Atualmente, o PADI realiza o acompanhamento de 1.551 usuários.
“O serviço do PADI é fundamental para romper com a centralidade do hospital na rotina de tratamento do paciente. Não só traz mais conforto e qualidade de vida ao usuário e à sua família, pondo fim nos sacrifícios de uma longa internação, mas também libera vagas nas unidades para quem precisa de monitoramento em leito hospitalar”, explicou o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz.
Ana Carolina com a filha Catarina em casa
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