‘Conjunção de bobagens’ se multiplicam nas redes sobre alinhamento planetário; entenda


Saiba por que os planetas do nosso Sistema Solar não estão alinhados no céu. Representação artística mostra o Sistema Solar. Tamanho na proporção certa e com as posições corretas, mas sem levar em conta as distâncias reais entre eles.
Wikimedia/Domínio Público
É fato que 2025 estará repleto de eventos astronômicos, alguns deles muito especiais. Como o g1 mostrou no início do mês, os fenômenos incluem 12 chuvas de meteoros, conjunções planetárias, dois eclipses lunares e dois eclipses solares, além de superluas.
Mas nas últimas semanas, as redes sociais foram inundadas por postagens que espalham informações confusas sobre um suposto alinhamento planetário raro neste mês.
A ideia é que alguns planetas do Sistema Solar, como Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, estariam perfeitamente alinhados em uma linha reta, como se fosse possível ver isso de fora do nosso planeta ou mesmo em terra firme. Porém, isso não passa de desinformação.
“Nenhum alinhamento desse tipo aconteceu em janeiro, nem vai acontecer em fevereiro ou tão cedo. Isso não está acontecendo”, diz Josina Oliveira do Nascimento, astrônoma no Observatório Nacional (ON).
Na verdade, o que vem acontecendo ao longo desse mês de janeiro é que, ao invés de termos um “alinhamento” perfeito dos planetas, estamos tendo uma grande visibilidade de alguns desses astros.
Ou seja, eles estão aparecendo no céu ao mesmo tempo, mas NÃO exatamente alinhados.
Entenda mais abaixo, em 5 tópicos:
Por que os planetas não estão alinhados e o que de fato está acontecendo?
Há uma melhor data para observação?
E o melhor lugar?
Todos os planetas serão visíveis a olho nu?
O próximo fenômeno do tipo vai ser somente em 2040?
1. Por que os planetas não estão alinhados e o que de fato está acontecendo?
De meados de janeiro até meados de fevereiro, quem olhar para o céu no Brasil poderá ver, a olho nu e ao mesmo tempo, os planetas:
Vênus,
Marte,
Júpiter
e Saturno.
🕕🌇 Durante esse período, esses planetas estarão VISÍVEIS logo após o pôr do sol.
Além desses astros, Urano e Netuno também poderão ser vistos no céu, mas será necessário que o céu esteja bem escuro. Além disso, para serem vistos, esses astros exigem o uso de telescópios, pois não é possível observá-lo a olho nu (os planetas estão muito distante da Terra e têm uma luminosidade bem fraca).
De qualquer maneira, é importante deixar claro que todos esses planetas NÃO estão nem estarão alinhados no céu. Eles estão apenas visíveis, cada um em sua posição.
Assim, quem olhar para o céu nesse horário do entardecer verá que esses planetas podem até parecer estar muito próximos uns dos outros, mas isso não passa de uma ilusão de ótica gerada pela nossa perspectiva aqui na Terra.
A verdade é que os planetas seguem suas órbitas em planos diferentes, e por isso vemos essas posições aparentemente alinhadas em momentos específicos.
Marcos Rogério Calil, doutor em História da Ciência pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e astrônomo da Urânia Planetário, explica que há uma linha imaginária no céu que marca o caminho percorrido pelo Sol ao longo do dia, chamada de “eclíptica”.
Essa linha é importante porque, devido à forma como o Sistema Solar se formou, todos os planetas, incluindo a Terra, estão mais ou menos no mesmo plano orbital (veja abaixo).
Animação mostra o movimento da Terra ao redor do Sol, destacando a linha da eclíptica.
Domínio Público/Wikimedia
Ou seja, os planetas seguem trajetórias semelhantes no céu, o que faz com que todos apareçam ao longo dessa linha da eclíptica.
Contudo, isso não significa que os os astros estejam alinhados perfeitamente um atrás do outro.
“Embora pareçam seguir essa linha comum no céu, eles estão, na verdade, em posições diferentes em suas órbitas”, diz Calil.
E como cada planeta tem sua própria trajetória e velocidade, então, apesar de todos seguirem de certa forma a eclíptica, o alinhamento exato que algumas imagens ou representações sugerem pela internet NÃO é real.
Em outras palavras, a eclíptica nos mostra a direção geral em que os planetas estão no céu, mas não garante que eles se alinhem de forma exata.
“Se isso fosse realmente o caso, ao olharmos da Terra, veríamos os planetas bem próximos uns dos outros no céu”, acrescenta Josina.
Mercúrio, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno em 3 de junho de 2024.
Sky Tonight/Reprodução
Entenda os diferentes tipos de eclipse no vídeo abaixo:
O que é um eclipse?
2. Há uma melhor data e horário para observação?
Calil ressalta que essa melhor visibilidade dos planetas não é algo que vai acontecer em um dia específico, como muitas pessoas têm divulgado.
Na verdade, o fenômeno está ocorrendo ao longo de um período, que começou no começo de janeiro e vai até mais ou menos o dia 10 de fevereiro.
“Ou seja, você não precisa ficar esperando uma data exata, porque o evento é algo contínuo. E a visibilidade dos planetas vai depender muito de onde você está e das condições do céu, como a poluição luminosa, além de fatores como o clima e o horário do dia”, acrescenta.
Assim, o que temos é um horário ideal para observar, que é cerca de 30 minutos depois do pôr do sol, mas isso vai variar de acordo com o local onde observador está.
Por exemplo, se você estiver em uma capital como Natal, o céu já tende a ficar escuro mais rápido, por volta das 18h, enquanto em cidades como Porto Alegre, o céu pode demorar um pouco mais para escurecer.
Por isso, Calil recomenda que,
depois de o sol se pôr, o espectador espere uns 30 minutos e então olhe para o OESTE, onde vai conseguir ver Vênus e Saturno.
Depois, basta virar um pouco para o norte, e vai ser possível observar Júpiter e Marte.
Fora isso, Josina comenta que, conforme o mês de fevereiro for chegando, o planeta Mercúrio começará a aparecer no céu logo depois que o Sol se põe, mas não será fácil vê-lo.
Isso acontece porque Mercúrio está sempre muito perto do Sol, ou seja, ou ele aparece antes do Sol nascer, ou logo depois que o Sol se põe.
Contudo, a partir do dia 20 ou 21 de fevereiro, quem tiver um bom ponto de vista para o horizonte OESTE e um céu claro, vai poder ver Mercúrio com mais facilidade.
E, no dia 25, Mercúrio vai estar bem pertinho de Saturno, o que vai tornar mais fácil ver os dois planetas juntos no céu. Depois disso, Saturno também começará a se pôr bem perto do Sol, o que vai dar para perceber entre o dia 25 e os dias seguintes.
Imagem do planeta Vênus em uma combinação de dados da sonda Magellan da Nasa e da Pioneer Venus Orbiter
Nasa/JPL-Caltech
3. E o melhor lugar?
Novamente, é preciso ter em mente que o melhor lugar para observar os astros é aquele que tiver uma boa visão do horizonte OESTE, ou seja, um local onde não haja obstáculos como prédios ou montanhas.
Além disso, o céu precisa estar limpo, sem muitas nuvens, para que seja possível ver os planetas com mais clareza logo após o pôr do Sol.
Quanto mais livre de poluição luminosa for o local, melhor será a observação, já que a luz das cidades pode dificultar a visibilidade.
4. Todos os planetas serão visíveis a olho nu?
Não. Como mencionado, apenas quatro planetas poderão ser observados a olho nu durante esse período até meados de fevereiro: Vênus, Marte, Júpiter e Saturno.
Esses planetas são mais brilhantes e podem ser vistos sem a necessidade de qualquer equipamento especial, como telescópios.
Ou seja, com o céu claro e sem muita poluição luminosa, será possível observá-lo geralmente 30 minutos após o pôr do sol.
🔭👀 Já os planetas Urano e Netuno não podem ser vistos sem um instrumento especial. Mesmo que o céu esteja perfeito para observação, esses planetas são distantes e não emitem luz suficiente para serem notados a olho nu.
5. O próximo fenômeno do tipo vai ser somente em 2040?
Josina diz que a visibilidade de vários planetas no céu ao mesmo tempo não é algo tão raro, pois Mercúrio e Vênus costumam aparecer antes do nascer do sol ou depois do pôr do sol, e planetas mais distantes, como Urano, Netuno, Júpiter e Saturno, permanecem visíveis por mais tempo.
Ela cita, como exemplo, o dia 1º de setembro de 2024, quando foi possível ver seis planetas no céu antes do nascer do sol.
Fora isso, em agosto de 2025, por volta do dia 20, haverá uma configuração semelhante, com Mercúrio, Vênus, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno visíveis antes do sol nascer, sendo que Mercúrio terá uma visibilidade melhor do que atualmente.
A poluição deixa mesmo o céu mais bonito?
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