Baixa escolaridade é fator de risco para declínio cognitivo no Brasil

A baixa escolaridade no Brasil é o maior fator de risco para declínio cognitivo, principal característica de quadros de demência. A informação foi revelada em um estudo publicado na quarta-feira (29) na prestigiada revista científica The Lancet Global Health.

O declínio cognitivo é um quadro caracterizado pelo enfraquecimento ou perda de funções cognitivas, como a dificuldade de recordar nomes, números de telefone, objetos guardados ou capacidade de aprendizagem, por exemplo. Quadros de demência são caracterizados por essa diminuição lenta e progressiva da função mental.

No Brasil, aproximadamente 8,5% da população com 60 anos ou mais têm algum tipo de demência, o que equivale a cerca de 2,71 milhões de casos, de acordo com o Ministério da Saúde. A projeção para 2050 indica que esse número pode aumentar para 5,6 milhões de diagnósticos no país.

Segundo a literatura científica, entre os principais fatores relacionados ao declínio cognitivo estão a idade e o sexo. Porém, o novo estudo sugere que as causas podem variar de acordo com a realidade de cada país.

“Os modelos de países desenvolvidos, que achávamos generalizáveis para o mundo todo, não são replicáveis. A América Latina e, particularmente, o Brasil, têm um perfil de risco de declínio cognitivo completamente diferente”, explica Eduardo Zimmer, líder do estudo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O trabalho, apoiado pelo Instituto Serrapilheira, usou inteligência artificial para analisar dados de mais de 41 mil pessoas de alguns países da América Latina, divididos em dois grupos: países de baixa e média renda (Brasil, Colômbia e Equador) e países de alta renda (Uruguai e Chile).

No Brasil, foram 9.412 casos analisados, oriundos do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil). Segundo a análise, a baixa escolaridade foi o maior fator de risco para casos de declínio cognitivo, seguida de sintomas de saúde mental, atividade física, tabagismo, isolamento social, entre outros. Idade e sexo, considerados os fatores de risco mais proeminentes globalmente, aparecem de forma menos relevante em termos estatísticos.

Para os autores do estudo, os baixos níveis de escolaridade, junto com instabilidade econômica e insegurança social do país, têm impacto significativo no envelhecimento cerebral da população brasileira, especialmente nas regiões mais pobres. Por isso, eles defendem que o investimento em educação deve ser prioridade.

“Sem dúvidas, precisamos resolver o problema da educação e melhorar as condições de escolaridade para diminuir esse risco cognitivo no futuro”, afirma Zimmer.

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