Waack: Trump propõe para Gaza ideia estapafúrdia e perigosa

Dizer, como Trump disse hoje, que os palestinos têm de ir embora de Gaza lembra alguns dos piores episódios recentes e distantes da história do mundo.

É o equivalente à limpeza étnica — algo que a ordem internacional vigente desde a Segunda Guerra dizia que não poderia acontecer. Aconteceu, em vários lugares e por vários motivos, mas até aqui não tinha sido recomendado pelo país que liderou essa ordem internacional.

Para que se tenha uma ideia do que significa tirar os palestinos de Gaza, imagine esvaziar cidades do tamanho de Fortaleza ou Salvador, com seus mais de dois milhões de habitantes.

Mas o problema envolvido não é de logística, ou de se o lugar ficou inabitável ou não depois da guerra dos últimos dezesseis meses. É de princípios. Um dos mais importantes — e duramente aprendido tragédia após tragédia — é o de que não se pode admitir que o mais forte tome território simplesmente por achar que tem algum direito ou necessidade.

Depois do Canadá, Groenlândia e Panamá, Trump está propondo também transformar Gaza em território americano. O que Trump sugere significa a violação de outro princípio caro para uma ordem internacional que não seja a lei da selva: o de que negociações e acordos devem reger a convivência.

Isso se aplica especialmente à questão árabe-israelense, na qual há um entendimento de décadas de que algum tipo de acordo terá de ser alcançado para que se defina o status de Jerusalém, por exemplo, ou dos territórios árabes ocupados desde 1967 na Cisjordânia.

Nem o governo israelense, hoje dependendo de extremistas, fundamentalistas e radicais, formulou abertamente a proposta de expulsar palestinos de Gaza.

Há ideias que acabam sendo perigosas de tão estapafúrdias. Trump acaba de defender uma delas.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Waack: Trump propõe para Gaza ideia estapafúrdia e perigosa no site CNN Brasil.

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