Vestindo Bridget Jones aos 50 anos: a “inglesa desnorteada” cresce

Vinte e quatro anos após sua estreia na adaptação cinematográfica do best-seller “O Diário de Bridget Jones“, de Helen Fielding, a atriz Renée Zellweger, 55, retorna para sua quarta participação como a adorável e desajeitada personagem em busca do amor.

Em “Bridget Jones: Louca pelo Garoto“, ela deixa para trás a figura da jovem despreocupada e agora vive uma viúva na casa dos 50 anos, mãe de dois filhos.

O estilo pessoal de Bridget Jones — um guarda-roupa excêntrico, por vezes mal ajustado, com saias curtas, blusas decotadas, cardigãs maternais, calcinhas antiquadas e cachecóis longos — se tornou um marco na cultura pop dos anos 2000.

No entanto, essa estética não foi planejada pela figurinista Rachael Fleming. Ao criar os figurinos para o primeiro filme de Bridget Jones, em 2001, Fleming quis dar à personagem um visual pragmático e um tanto desarrumado, que refletisse a vida cotidiana de uma mulher ocupada, cujos diários descreviam suas aventuras românticas, suas batalhas com o peso e seus hábitos de consumo de álcool e cigarro.


"Bridget Jones: Louca pelo Garoto"
“”Bridget Jones: Louca pelo Garoto” entra em cartaz nos cinemas brasileiros em 13 de fevereiro • Divulgação

Essa perspectiva se torna ainda mais relevante em um mundo saturado por imagens perfeitas e manipuladas digitalmente. O estilo de Bridget Jones deu origem a uma microtendência conhecida como a “estética da Inglesa Desnorteada”, que reflete a sobreposição aleatória de roupas, frequentemente observada em britânicos devido ao clima imprevisível do país. Pense em Kate Winslet, descompassada em “O Amor Não Tira Férias“, ou em uma Keira Knightley, um tanto perdida, em “Simplesmente Amor”.

Esses arquétipos acabaram surgindo, de forma inesperada, nas passarelas de marcas de luxo como Chanel e Miu Miu. Para Molly Emma Rowe, a figurinista da mais recente adaptação cinematográfica de Bridget Jones, manter a sensação de “autenticidade” e garantir que a personagem estivesse “enraizada na realidade” foi essencial.

“Bridget tem algumas roupas bonitas, e ela se esforça, mas sempre acaba errando um pouco. Sempre há algo um pouco fora do lugar, seja o caimento, o padrão ou a combinação de cores”, explicou ela em entrevista à CNN.

No novo filme, que estreia nos cinemas brasileiros em 13 de fevereiro, Rowe afirmou que há menos “momentos icônicos de figurino” — como a fantasia de coelhinha da Playboy que Bridget usou na festa Tarts and Vicars, onde quase ninguém mais estava fantasiado, ou a ousada lingerie estampada de tigre, combinada apenas com uma camiseta e um cardigã, enquanto ela perseguia Mark Darcy (Colin Firth) na neve.

Desta vez, esse tipo de “situações desconfortáveis” simplesmente não aparece, acrescentou Rowe. Com Bridget agora equilibrando carreira, maternidade, amizades e encontros, “é um filme muito emocional“, explicou a figurinista. “Estamos tentando trazer Bridget de volta à vida e ajudá-la a lidar com seu luto. Era importante para nós que, enquanto ela encontrava seu caminho, suas roupas não desviassem dessa trajetória.”

O guarda-roupa de Bridget, assim como a personagem, está visivelmente mais maduro. Os vestidos de coquetel e conjuntos aconchegantes foram substituídos por blazers adequados para o trabalho e cardigãs sobrepostos a camisas. No entanto, Rowe manteve um toque da personalidade sedutora de Bridget, vestindo-a com peças como uma minissaia, que se torna mais discreta quando combinada com meias-calças.

Também há várias referências sutis e nostálgicas aos filmes anteriores, como um vestido verde-esmeralda que Bridget, na cena de abertura do novo filme, tenta fechar sozinha, sem a ajuda de Darcy — uma clara referência ao visual que ela usou no terceiro filme, quando se reencontra com ele.

Empoderamento

Com apenas 12 semanas para montar o guarda-roupa do elenco e poucas das roupas antigas de Bridget disponíveis nos arquivos, Rowe precisou recriar alguns looks icônicos, como o famoso conjunto de pijama vermelho estampado com pinguins. Uma versão da parte de cima do pijama é usada por Bridget em uma visita à escola no novo filme. “Os originais não existem mais, então tivemos que recriá-los”, explicou Rowe.


“Bridget Jones: Louca Pelo Garoto” estreia no início de 2025 • Universal Pictures Brasil

“Testamos várias tonalidades de vermelho na tela para garantir que, após as filmagens, ainda parecesse com o vermelho original. Isso exigiu desbotamento do tecido, puxar fios e quebrar botões para dar a impressão de que as peças tinham sido usadas e lavadas por mais de 20 anos.”

Essa ideia de roupas que não parecem novas é uma premissa fundamental para o estilo de Bridget. “A moda é cíclica. Você pode encontrar coisas que usou há muitos anos e experimentá-las novamente mais tarde”, afirmou Rowe.

“Nós vimos Bridget fazendo isso.” Muitas das peças usadas por Renée Zellweger no filme foram garimpadas em brechós e lojas de consignação, como a Mary’s Living and Giving em Hampstead, bairro do norte de Londres onde a personagem vive.

“Mark morreu há quatro anos, e Bridget não está comprando roupas novas. Ela está lutando para manter tudo em ordem, o que é uma das razões pelas quais nada em sua vida parece novo”, explicou Rowe.

Lidar com o luto e o impacto disso na forma de se vestir também foi um ponto central. Rowe se inspirou em sua própria experiência pessoal, tendo perdido seu pai na adolescência, um “período confuso” que afetou a maneira como sua mãe se vestia. “Minha mãe usava muitas roupas dele durante esse período. Acho que era como buscar um cobertor de conforto.”

Essa ideia inspirou o cardigan cinza felpudo oversized e as camisas com o monograma das iniciais de Mark Darcy, que Bridget usa ao longo do filme. Para Rowe, isso trouxe uma perspectiva adicional que não estava no roteiro: “Pudemos criar a ideia do que Mark Darcy poderia estar vestindo em casa com Bridget e as crianças, algo que nunca se vê na tela.”

“Bridget Jones: Louca Pelo Garoto” também segue a tendência de filmes recentes que destacam mulheres na casa dos 50 anos, como “A Substância“, a comédia de terror estrelada por Demi Moore, que interpreta uma ex-celebridade que busca os benefícios de uma nova droga misteriosa, e “Babygirl“, um thriller erótico com Nicole Kidman como uma CEO bem-sucedida que inicia um caso ilícito com um jovem estagiário.


Renée Zellweger como Bridget Jones • Divulgação

Esse é um desenvolvimento bem-vindo após anos de desigualdade na representação de mulheres de meia-idade e mais velhas no cinema e na televisão. De acordo com um relatório de 2024 do Instituto Geena Davis, em parceria com a NextFifty Initiative, personagens femininas com 50 anos ou mais ainda têm presença limitada nas telas e são muito menos propensas a ter uma história romântica.

Se Rowe tem uma mensagem para os espectadores, é que espera que eles se sintam “empoderados para abraçar suas vulnerabilidades”. “Ser uma mulher se aproximando ou já na casa dos 50 anos e ter esses tipos de filmes para assistir é muito inspirador“, disse ela.

Assista ao trailer de “Bridget Jones: Louca Pelo Garoto”

Este conteúdo foi originalmente publicado em Vestindo Bridget Jones aos 50 anos: a “inglesa desnorteada” cresce no site CNN Brasil.

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