No Recife, filha de Rubens Paiva busca vestígios de vítimas da ditadura

A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) iniciou, nesta semana, um novo ciclo de investigações sobre as vítimas da ditadura militar no Brasil – especialmente no Recife. Na quinta-feira (13), uma audiência pública promovida pelo grupo foi realizada no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil do estado (OAB-PE), no centro da capital pernambucana. A reunião teve, como principal convidada, a professora Vera Paiva, filha do ex-deputado federal Rubens Paiva e da advogada Eunice Paiva.

A família de Vera Paiva foi protagonista de uma das histórias mais dramáticas do período de repressão, retratada no filme “Ainda Estou Aqui”, que concorre em três categorias do Oscar 2025.

Na audiência pública, Vera, que é integrante da CEMDP, participou ativamente das tratativas, destacando a importância da retomada nas investigações e da memória histórica. A atividade, que também envolveu a presença de autoridades locais, familiares de vítimas em Pernambuco e representantes de instituições da sociedade civil, teve o objetivo de promover um diálogo sobre o andamento dos trabalhos da comissão e as próximas etapas do plano de atividades de 2025.

A passagem da comissão pelo Recife marca o retorno das diligências técnicas para identificar restos mortais de desaparecidos, com foco nos cemitérios da Várzea e Santo Amaro, na zona oeste e central da capital. O estado de Pernambuco é o que apresenta o maior número de desaparecidos, proporcionalmente, no Brasil. De acordo com Samuel Ferreira, coordenador científico da comissão, foram identificados 18 desaparecidos políticos que possivelmente estão enterrados nos dois cemitérios.

As diligências nos cemitérios do Recife começaram oficialmente na terça-feira (11), com a participação da Equipe de Identificação de Mortos e Desaparecidos Políticos (EIMDP), que realizou um levantamento das condições dos locais para apontar possíveis áreas de ocultação de corpos.

Segundo o coordenador-geral de apoio à CEMDP, da Assessoria Especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade (ADMV), do Ministério dos Direitos Humanos da Cidadania, Caio Cateb, a comissão tem se empenhado em estabelecer parcerias com as autoridades locais, o que considera essencial para o sucesso das buscas.

“Essa agenda no Recife é um marco da retomada da própria comissão e das atividades de buscas e localização de desaparecidos políticos, após a interrupção dos trabalhos no governo anterior. É parte da execução do plano de atividades para 2025 da comissão, aprovado na reunião ordinária que ocorreu em São Paulo, em novembro de 2024”, ressaltou Caio Cateb.

A agenda da comissão na cidade ainda contou com uma reunião com o vice-prefeito do Recife, Victor Marques, e uma visita ao Memorial da Democracia de Pernambuco Fernando de Vasconcellos Coelho, na quinta-feira.

Depois, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), também se reuniu com os integrantes da CEMDP no gabinete dele. “Eu me sinto com a obrigação histórica de fazer tudo o que tiver que ser feito para que esse trabalho seja perfeito hoje em dia, muito também pela minha história e a da minha família… o meu bisavô foi perseguido e exilado durante a ditadura. O que a gestão puder fazer, nós vamos fazer”, garantiu o gestor do Recife.

Ainda na quinta-feira, ao fim da audiência, foi realizado um ato de inauguração do busto de Soledad Barrett Viedma, desaparecida política morta pela ditadura no Recife, em 1973. A homenagem foi instalada próximo ao Monumento Tortura Nunca Mais, de 1993, no centro da cidade, como forma de recordar a luta pela memória e verdade.

Este conteúdo foi originalmente publicado em No Recife, filha de Rubens Paiva busca vestígios de vítimas da ditadura no site CNN Brasil.

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