Níveis de coliformes fecais na bacia do Rio Piracicaba estão até 24 vezes acima do permitido, diz estudo


Foram avaliados 2.200 parâmetros de qualidade da água em dois pontos do Rio Piracicaba e 20 córregos afluentes dele. Destes, 128 estavam em desacordo com normas do Conama. Dados da primeira etapa de um diagnóstico ambiental da bacia do Rio Piracicaba, divulgados nesta sexta-feira (14), apontam concentrações de coliformes fecais até 24 vezes maiores que os níveis máximos estabelecidos.
A iniciativa é uma resposta à tragédia ambiental que atingiu um trecho de 70 quilômetros do corpo d’água, incluindo um santuário de animais, e levou à morte de 235 mil peixes, em julho de 2024.
A análise foi realizada a partir de amostras coletadas, na primeira semana de dezembro de 2024, em 20 córregos da cidade e dois pontos do Rio Piracicaba. A iniciativa ocorre após a tragédia ambiental
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Mapa com primeiros dados de diagnóstico da bacia do Rio Piracicaba
Reprodução
128 parâmetros fora das normas do Conama 📊
Nos pontos de coleta foram avaliados 2.200 parâmetros de qualidade da água. Destes, 128 estavam em desacordo com as normas do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
“Você tem aí [nos níveis altos de coliformes] um grande problema, que é o maior da bacia, que é um tratamento deficitário de esgoto. Os grandes municípios deveriam fazer um tratamento avançado. E a gente tem brigado por isso, tem conseguido fazer alguns acordos nesse sentido. Mas esses dados vão reforçar essa necessidade”, avalia o promotor Ivan Carneiro Castanheiro, do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema).
Coliformes fecais são um conjunto de bactérias que habitam o trato intestinal de seres humanos e animais de sangue quente. Sua presença na água indica contaminação fecal, o que representa um risco potencial à saúde humana.
O promotor alerta que as coletas de amostras foram realizadas no período de chuvas e que, nos períodos de seca, a concentração de poluentes tende a ser mais alta.
Estimativa é de que resultados saiam no final de 2025
Rafael Lazzari Smaira
Rio está na ‘UTI’, diz presidente de agência 🚨
“Com certeza [a situação é ruim]. Presença excessiva de fósforo, de coliformes. A gente já sabia que a situação do Rio Piracicaba não estava boa. Mas eu acho que esse trabalho vai servir como ferramentas para tomadas de decisões, para saber o que exatamente não está bom”, explica o engenheiro ambiental Igor Tosello Filippini, do Instituto Cerrado do Brasil, um dos parceiros do projeto.
Também foram analisados, entre outros, níveis de turbidez da água, de cobre, alumínio e a demanda bioquímica de oxigênio (DBO), que é um parâmetro para medir as condições para vida aquática nos mananciais.
“Seja a alga, seja o esgoto, que tem bactérias, eles retiram esse oxigênio [das águas]. Ele [peixe] morre porque faltou oxigênio. Pra tirar o nosso rio da UTI, a gente precisa primeiro tirar a carga orgânica de lá. Pra depois entender o fósforo, o nitrogênio, que a gente sabe também que causam problemas. Mas a DBO precisa ser retirada rapidamente dos nossos rios”, explica Sérgio Razera, diretor-presidente da Agência das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ).
Análises serão realizadas a partir de água coletada do rio
Rafael Lazzari Smaira
Pior situação nas áreas mais povoadas 🗺️
Um mapa divulgado pelos pesquisadores mostrou as áreas consideradas críticas (veja no início da reportagem). A pior situação está nas áreas mais povoadas de Piracicaba, Santa Bárbara d’Oeste, Americana, Sumaré e Paulínia.
“São ribeirões que cortam as áreas urbanas. Então, nesse período de chuvas, tudo que está no asfalto, pneu, terra, óleo, tudo isso, na hora que vem a chuva, lava e vai para a calha do rio. E isso, obviamente, muda completamente a condição do nosso Rio Piracicaba”, acrescenta Razera.
O diagnóstico está sendo realizado pela associação Remo Piracicaba, Instituto Cerrado Brasil (ICB), Caapuã etê ambiental e BluestOne. Haverá, ainda, mais três períodos de coleta para que ele seja concluído.
“Quase todos os estudos ambientais a gente tem que fazer quatro campanhas e trabalhar ao longo do ano, por causa de chuva, estiagem. Então, a gente tem que trabalhar no outono, verão, primavera e inverno. Isso que a gente vai fazer agora”, explica o engenheiro ambiental Igor Filippini.
Mortandade na APA do Tanquã foi a maior registrada, segundo pescadores
Jefferson Souza/ EPTV
Entenda a tragédia ambiental ⚠️
A mortandade no Rio Piracicaba chegou até a Área de Proteção Ambiental (APA) do Tanquã, considerada um santuário de animais, com ao menos 735 espécies. Um especialista ouvido pela EPTV, afiliada da TV Globo, estimou que a recuperação da população de peixes leve cerca de nove anos.
O dano ambiental gerou uma multa de R$ 18 milhões à Usina São José, de Rio das Pedras (SP), apontada pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) como a origem da poluição que gerou as mortes dos animais.
O Ministério Público e Polícia Civil também investigam o caso e a empresa diz que não foi comprovada a responsabilidade dela.
Uma força-tarefa foi organizada para remoção dos peixes mortos.
Milhares de peixes mortos no Rio Piracicaba
g1
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