Como astrônomos monitoram asteroide com 2% de chance de atingir a Terra?

Um asteroide recém-descoberto, chamado 2024 YR4, tem uma chance média de 2% de colidir com a Terra em 2032. Apesar da baixa probabilidade, astrônomos acompanham o objeto no intuito de obter mais informações — um esforço que pode, em breve, contar com o telescópio mais poderoso já enviado ao espaço.

Ainda se sabe pouco sobre o 2024 YR4, mas estima-se que seu tamanho varie entre 40 e 90 metros de largura — “uma dimensão comparável à de um grande edifício”, segundo o Dr. Paul Chodas, gerente do Centro de Estudos de Objetos Próximos à Terra (CNEOS), no Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, na Califórnia.

Esse tamanho está longe de se comparar ao do asteroide que extinguiu os dinossauros há 66 milhões de anos, com cerca de 10 quilômetros de diâmetro — o último grande impacto conhecido na Terra. Asteroides desse porte, chamados de “destruidores de planetas”, têm pelo menos um quilômetro de diâmetro e poderiam causar efeitos devastadores na vida terrestre.

Mesmo asteroides menores podem provocar destruição em grande escala caso entrem em rota de colisão com a Terra. Por isso, os astrônomos precisam obter o máximo de dados possível sobre o 2024 YR4 — e rápido.

Coletar mais informações, como refinar sua trajetória, pode reduzir as chances de impacto a zero. Mas os cientistas têm pouco tempo para estudá-lo antes que ele desapareça de vista em abril. Agora, planejam usar o potente Telescópio Espacial James Webb para determinar com mais precisão o tamanho e a órbita do asteroide.

Monitorando uma ameaça em potencial

O telescópio Atlas, localizado em Río Hurtado, no Chile, detectou o 2024 YR4 em 27 de dezembro. O Atlas faz parte dos programas financiados pela Nasa para monitorar asteroides próximos à Terra, explicou Davide Farnocchia, engenheiro de navegação do Cneos, por e-mail, à CNN internacional.

Desde então, vários telescópios acompanham o asteroide, mas sua estimativa de tamanho mudou pouco, pois ela se baseia apenas na luz solar refletida por sua superfície. O Telescópio Espacial Webb, no entanto, enxerga o universo em luz infravermelha e pode medir o calor emitido pelo asteroide, fornecendo uma estimativa muito mais precisa.

Desde janeiro, observatórios no Novo México (EUA), na Dinamarca e no Chile têm monitorado o 2024 YR4. Atualmente, ele está a mais de 48 milhões de quilômetros da Terra e se afastando. O objeto continuará visível até o início de abril, antes de seguir sua órbita ao redor do Sol.

Telescópios no Havaí também estão envolvidos na busca. O Pan-STARRS, no vulcão Haleakalā, é o principal telescópio do mundo para descoberta de asteroides próximos à Terra.

“Os telescópios do Havaí são algumas das ferramentas mais importantes para a defesa planetária”, disse Doug Simons, diretor do Instituto de Astronomia da Universidade do Havaí.

Mesmo depois que o 2024 YR4 sair do alcance dos telescópios terrestres, o Webb ainda poderá estudá-lo, ajudando a determinar sua posição exata. Além das observações planejadas para março, uma nova campanha está programada para maio, permitindo medições finais de sua órbita e variações de temperatura conforme se afasta do Sol.

Caso o asteroide desapareça antes que os cientistas possam descartar completamente um impacto, ele permanecerá na lista de riscos até reaparecer em junho de 2028. As previsões indicam que o 2024 YR4 retorna à vizinhança da Terra a cada quatro anos, mas sem representar perigo em 2028.

Estimando os riscos

Determinar o tamanho exato do asteroide é crucial para estimar os danos em caso de impacto.

“Se o 2024 YR4 estiver na extremidade superior da sua estimativa de tamanho, ele poderia causar destruição em um raio de até 50 quilômetros do ponto de impacto”, explicou Chodas.

“Mas isso só aconteceria no improvável cenário de uma colisão. O risco surge devido à velocidade extrema com que o asteroide entraria na atmosfera — cerca de 17 km/s, ou 38 mil km/h.”

Asteroides desse porte atingem a Terra a cada poucos milhares de anos. Em 1908, um objeto com cerca de 30 metros de diâmetro explodiu sobre a Sibéria, devastando uma área de mais de 2 mil km² e derrubando 20 milhões de árvores. Já em 2013, um asteroide menor, de 20 metros, explodiu sobre a cidade russa de Chelyabinsk, gerando uma explosão mais forte que 20 bombas atômicas e causando danos generalizados.

Se o 2024 YR4 estiver mais próximo de 50 metros e for um asteroide rochoso, os efeitos podem ser semelhantes aos do evento de Tunguska, segundo a Agência Espacial Europeia (ESA). Em um caso mais extremo, os danos poderiam se estender por dezenas de quilômetros.

Cerca de 3.000 asteroides próximos à Terra são descobertos a cada ano, mas identificar objetos do tamanho do 2024 YR4 é um desafio, pois são escuros e difíceis de detectar. Os cientistas estimam que existam cerca de 600 mil asteroides desse porte, mas apenas 2% deles foram encontrados até agora.

“Pequenos asteroides entram na atmosfera o tempo todo, criando bolas de fogo, mas normalmente não causam danos significativos”, afirmou Larry Denneau, astrônomo do Instituto de Astronomia do Havaí.

“Asteroides maiores podem ser muito destrutivos, mas felizmente são bem mais raros. Ainda há muitos grandes que não descobrimos, e é por isso que continuamos monitorando o céu para antecipar possíveis ameaças.”

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Como astrônomos monitoram asteroide com 2% de chance de atingir a Terra? no site CNN Brasil.

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