Incêndios em SP: área equivalente a 6,3 mil campos de futebol foi destruída pelo fogo em Morro Agudo, estima Defesa Civil


Em uma semana, chamas destruíram 4,5 mil hectares de canaviais e áreas de preservação de um dos maiores territórios do estado de São Paulo. ‘Não tem o que fazer’, afirma presidente do Sindicato Rural. Incêndios destroem área gigantesca na zona rural de Morro Agudo, SP
Plantações e áreas de preservação permanente equivalentes a 6,3 mil campos de futebol foram destruídas pelos incêndios que há uma semana assolam Morro Agudo (SP), de acordo com a Defesa Civil do município.
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Com um dos maiores territórios entre os municípios paulistas, a localidade na região de Ribeirão Preto (SP) também é uma das que mais sofreram com a recente onda de queimadas que se propagaram pelo interior de São Paulo desde o dia 22 e que levaram a bloqueios em estradas, evacuações de casas, mortes e transtornos à saúde pública, com o acúmulo de fumaça nas áreas urbanas. Isso, sem contar as perdas já registradas pela agricultura e por centros de pesquisa.
Fogo em Morro Agudo (SP) destruiu área equivalente ao tamanho de Balneário Camboriú, estima Defesa Civil
Marcelo Moraes/EPTV
Segundo a Defesa Civil, em Morro Agudo o fogo se alastrou por 4,5 mil hectares, dos quais 3 mil são de lavouras e 1,5 mil são de áreas de preservação permanente. Em outras palavras, é o mesmo tamanho de Balneário Camboriú (SC), no litoral catarinense, ou de 6,3 mil gramados nas dimensões de estádios utilizados no Campeonato Brasileiro.
“É desesperador, é bem complicado mesmo. É difícil, dá medo”, afirma Everson Cesário, gerente de fazenda que tem atuado diretamente no combate ao fogo dos últimos dias.
Os prejuízos são comparáveis aos que ocorreram três anos atrás, quando o município decretou estado de calamidade pública. Em agosto de 2021, Morro Agudo teve 31 focos de incêndio de grande proporção no período de quatro dias computados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o maior número do estado na época.
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Fogo em canavial na região de Morro Agudo (SP) na quarta-feira (28)
Reprodução/EPTV
“A gente já suspeitava pelas condições climáticas e por todas as previsões que a gente vem acompanhando pelos radares. A gente já tinha essa previsibilidade de que seria um ano igual ou até pior”, afirma Roberto Carmanhan de Figueiredo, presidente do Sindicato Rural de Morro Agudo.
Segundo ele, desde 2021, as equipes locais estão mais atentas e sincronizadas para o trabalho de combate às chamas, com uma comunicação rápida pelo celular, monitoramento via satélite e aeronaves agrícolas, mas a severidade das labaredas da semana passada – principalmente no sábado, dia 24 – desafiou o empenho de quem estava envolvido.
“Hoje os produtores estão bem mais unidos do que em 2021. Isso a gente vem trabalhando bastante, tanto que o combate tem sido mais eficaz, porém, você pode colocar uma equipe com 40 caminhões-pipa, pode por pessoas, dependendo a situação e o local que o fogo está, não tem o que fazer”, relata Figueiredo.
Em uma semana, o Inpe registrou 17 focos de incêndio somente no município. Alguns deles chegaram bem perto de rodovias, como a Francisco Marcos Junqueira, que liga a cidade a Viradouro (SP).
“No sábado mesmo a gente ficou até de madrugada no combate. (…) A gente entrando no meio das reservas pra apagar o fogo de perto mesmo, pra não deixar atravessar a pista, porque onde estava, se atravessasse a pista, nós não segurávamos mais”, lembra Cesário.

Mata ciliar do Rio Pardo destruída pelo fogo em Morro Agudo (SP)
Marcelo Moraes/EPTV
Agricultura e meio ambiente em risco
Os prejuízos são incalculáveis tanto para produtores rurais quanto para o meio ambiente. Segundo o presidente do Sindicato Rural, o fogo compromete não só a cana que estava plantada como também o solo.
“Você trabalha com toda a parte microbiológica do solo, e isso prejudica muito também. E é uma cana que você poderia estar usando mais dois, três, quatro cortes, de repente ano que vem vai ser necessário fazer a reforma desse canavial”, afirma Figueiredo.
Para o meio ambiente, entre os grandes problemas que os incêndios potencializam estão o assoreamento do Rio Pardo, ou seja, o acúmulo de areia e outros detritos orgânicos no fundo, além do enfraquecimento da mata ciliar que protege o curso d’água e o comprometimento do habitat natural de capivaras e jacarés.
“A mata ciliar é muito importante pra proteger as margens dos rios, tanto pra trazer um microclima favorável pro rio, e também para a estabilização das margens, pro material das margens não entrar pra dentro do rio, pra não acontecer o assoreamento”, afirma Jessé Carrascoza de Oliveira, Faria, coordenador da Defesa Civil de Morro Agudo.
Incêndios deixaram área rural de Morro Agudo (SP) em cinzas
Marcelo Moraes/EPTV
Incêndios no interior de SP
Cidades do interior de São Paulo enfrentaram uma onda de incêndios que começou no dia 22. Os momentos mais críticos foram registrados nos dias 23 e 24. Em Ribeirão Preto, uma das regiões mais atingidas, casas precisaram ser evacuadas, rodovias foram bloqueadas, e pessoas ficaram impossibilitadas de chegar ao destino, sujeitas a condições respiratórias extremas de poluição.
Somente neste período, 2.621 focos de incêndio foram registrados por satélites de referência do Bando de Dados de Queimadas (BDQueimadas), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
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Essas ocorrências levaram a acidentes e interdições nas estradas, devido à baixa visibilidade, além de mortes de pessoas que tentaram combater as chamas em Urupês (SP), ao cancelamento de aulas, operações de voos, atividades ao ar livre e jogos de futebol em Ribeirão Preto.
Durante o domingo, a força-tarefa do estado reduziu de 21 para 6 as cidades que ainda tinham focos ativos, em proporções insuficientes para serem contabilizadas pelo BDQueimadas. Ainda assim, o alerta foi mantido para quase 50 cidades do estado, com monitoramento não só dos bombeiros, como de equipes do Exército em locais de preservação como a Estação Ecológica de Jataí, em Luís Antônio (SP).
Além disso, o governo paulista manteve um gabinete de crise em Ribeirão Preto para as ações de combate às queimadas, entre elas prisões de suspeitos de atuar em incêndios criminosos. Até o fim da semana, ao menos 10 pessoas em todo o estado tinham sido detidas.
Incêndio em rodovia próxima de Ibaté impressionou pela intensidade do fogo
Ely Venâncio/EPTV
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