Por meio da música, pacientes com câncer de laringe reaprendem a se comunicar: ‘Discriminados pela sociedade’


Pacientes diagnosticados com a doença têm utilizado a música como nova forma de ressocialização. Segundo oncologista, câncer afeta mais homens do que mulheres devido ao tabagismo. Pacientes com câncer de laringe reaprendem a se comunicar por meio da música
O silêncio, caracterizado pela falta de som, pode até ser um alívio para as pessoas que passam por dias barulhentos ou que simplesmente desejam “ficar em paz”. Mas, no caso dos pacientes diagnosticados com câncer de laringe, a emissão de ondas sonoras pode ser uma das maiores vontades e obstáculos da vida.
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Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), 7,8 mil casos da doença são registrados todos os anos. Na grande maioria deles, os pacientes não sabem que, ao superarem as barreiras do silêncio, podem voltar a se comunicar ou até melhor que isso: a cantar.
No Instituto de Desenvolvimento de Vozes (IDV), em Sorocaba (SP), as vozes que hoje se unem em um coral ficaram em silêncio por muito tempo. Os pacientes fizeram a retirada da laringe após serem diagnosticados com o câncer relacionado ao órgão.
Instituto de Desenvolvimento de Vozes, em Sorocaba (SP)
Reprodução/TV TEM
Na melodia, eles contam com ajuda de parentes que acompanham as reuniões. Esta é apenas uma das programações que o instituto oferece às pessoas que procuram se recuperar do câncer. Nos encontros, elas podem aproveitar o atendimento multidisciplinar, que conta com fonoaudióloga, psicóloga, advogada e nutricionista.
É com a psicóloga do instituto que Sebastião Carlos da Silva encontra direcionamento para questões que possam interferir em sua vida social, como lidar com o preconceito. A sessão é gratuita e oferecida pelo IDV.
“As pessoas [com a doença] são discriminadas de uma certa forma por falta de conhecimento. Muita gente acha que a doença é contagiosa e não é. Então, isso acarreta muito no trabalho dos psicólogos para sermos reinseridos na sociedade”, conta.
Sebastião é um dos pacientes do IDV
Reprodução/TV TEM
O pedreiro descobriu a doença em setembro de 2012 e precisou retirar a laringe. Tempos depois, foi feita uma cirurgia para colocação de uma prótese que permitia a fala do homem, que hoje canta.
Para Sebastião, a jornada de ressocialização não é um período fácil, mas é possível se reencontrar durante o processo.
“A fonoaudióloga faz todo o trabalho de reabilitação de voz, que é muito importante. Quando a cirurgia é feita, a pessoa fica sem voz. Então, reaprendemos tudo de novo, o que você não fez quando era criança”, explica.
Passar por uma cirurgia que remodelará toda a forma de viver de uma pessoa pode, de fato, trazer muitos impactos psicológicos, incluindo o isolamento. De acordo com a psicóloga do local, Lauren Nunes, o acompanhamento profissional pode ajudar no apoio que o paciente não terá sozinho.
“O aspecto psicológico é muito importante, de resgatar esperança e criar ferramentas para lidar com todas as barreiras que eles têm que enfrentar. Não só com relação à reabilitação, mas também à sociedade, que evita o convívio e é desinformada”, pontua.
Genivaldo e Maria se casaram
Reprodução/TV TEM
Genivaldo Jaques retirou a laringe há 12 anos e também é um dos que frequentam os atendimentos do IDV. Na visão do aposentado, é gratificante passar os ensinamentos dos pacientes mais antigos para os mais novos.
O acompanhamento multiprofissional que Genivaldo recebe ajudou-o, também, a fortalecer sua autoestima. Em novembro de 2024, o idoso se casou, e sua mulher, Maria Aparecida Jaques, o acompanha em todas as sessões no instituto.
“Aqui eu aprendo muito mais. Eu posso ajudá-lo mais, falar mais às pessoas. Eu não sabia que os pacientes sem laringe não sentem cheiro. De início, eu não sabia coisas mínimas que, para eles, é o básico”, destaca.
Oncologista explica cuidados
De acordo com o oncologista Frederico Rocha, a doença costuma atingir mais homens do que mulheres. Isso se deve aos hábitos do tabagismo e do etilismo, que são considerados os maiores fatores de risco.
“Eles [homens] possuem maior exposição ocupacional, como vapores de ácido sulfúrico e amianto nas indústrias. Um fator de risco menor é o HPV, que é sexualmente transmissível”, explica.
Oncologista explica cuidados para prevenir o câncer na laringe
Reprodução/TV TEM
Conforme o profissional, há uma diversidade de sintomas que podem ser relacionados ao câncer de laringe. Entre eles, a alteração na voz, que deve ser avaliada a partir da segunda semana.
“Se a voz mudar e uma dor para deglutir persistir durante duas semanas, é aconselhável procurar um médico especializado. É bom se prevenir tendo uma dieta saudável, praticando exercícios e, principalmente, cortando o tabagismo”, afirma.
“Hoje, há tratamentos que podem preservar a laringe, ao invés de tirar o órgão completamente, como a radioterapia, a quimioterapia e a imunoterapia. A detecção precoce é essencial, pois os tratamentos cirúrgicos podem ser feitos com ressecção parcial, não perdendo tanto a voz”, finaliza.
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