Fósseis dos humanos mais antigos são encontrados em caverna na Espanha

A história da evolução humana na Europa tem um novo personagem. Fragmentos de ossos fossilizados descobertos em uma caverna no norte da Espanha em 2022 revelaram uma população humana anteriormente desconhecida que viveu há mais de 1,1 milhão de anos, segundo nova pesquisa.

Encontrados no sítio Sima del Elefante, nas Montanhas Atapuerca, os fósseis compõem um crânio parcial que inclui o lado esquerdo do rosto de um hominídeo adulto. Os ossos mineralizados são os restos do esqueleto dos humanos mais antigos encontrados até agora na Europa Ocidental.

No entanto, não ficou imediatamente óbvio qual espécie de humano pré-histórico a equipe havia encontrado, e o estudo que descreve os fósseis, publicado nesta quarta-feira (12) na revista Nature, não apresenta uma resposta definitiva.

A equipe suspeita que os espécimes pertenciam ao Homo erectus, um grupo bem conhecida por fósseis encontrados na África e Ásia, mas cujos restos nunca foram conclusivamente encontrados na Europa.

“Esta conclusão é a proposta mais honesta que podemos fazer com as evidências que temos”, disse María Martinón-Torres, diretora do Cenieh, o Centro Nacional de Pesquisa em Evolução Humana da Espanha, em coletiva de imprensa na terça-feira (11).

“É cauteloso, mas também um pouco ousado, porque não estamos fechando a possibilidade de que seja algo diferente.”


Fóssil original, chamado ATE7-1, da face média de um hominídeo misterioso recuperado no sítio Sima del Elefante, nas Montanhas Atapuerca, perto de Burgos, Espanha
Fóssil original, chamado ATE7-1, da face média de um hominídeo misterioso recuperado no sítio Sima del Elefante, nas Montanhas Atapuerca, perto de Burgos, Espanha • Maria D. Guillén/IPHES-CERCA via CNN Newsource

Parentes humanos primitivos misteriosos

A região montanhosa da Espanha onde os fósseis foram encontrados tem sido um importante local para a paleoantropologia. Em meados da década de 1990, cientistas identificaram um parente humano primitivo conhecido como Homo antecessor a partir de cerca de 80 esqueletos descobertos em um local próximo ao Sima del Elefante chamado Gran Dolina. Esses restos datam de aproximadamente 850.000 anos.

No entanto, Martinón-Torres disse que a morfologia do fóssil do crânio encontrado em 2022 não correspondia às características do Homo antecessor. Acreditava-se que este humano arcaico fosse o habitante mais antigo conhecido da Europa Ocidental, anterior aos Neandertais, que apareceram no continente há cerca de 400.000 anos.

O Homo antecessor tinha “um rosto muito moderno, muito semelhante ao rosto que nossa espécie, Homo sapiens, tem, que é vertical e plano. No entanto, este novo hominídeo é diferente”, ela disse. Ele “tem uma face muito mais projetada para frente… o que o torna semelhante a outros espécimes de Homo erectus”, acrescentou.

A equipe também reanalisou uma mandíbula parcial encontrada em 2007 no Sima del Elefante, mas em um nível ligeiramente superior de sedimento. Os autores do estudo agora acreditam que ela pertencia à mesma população de humanos pré-históricos.

No entanto, com apenas pequenas partes do rosto, era impossível identificar conclusivamente a espécie do hominídeo. Assim, a equipe o designou como Homo affinis erectus, com affinis significando “semelhante a”, para indicar que o fóssil está intimamente relacionado, mas é distinto de um grupo conhecido.

“Ainda temos que escavar os níveis inferiores de Sima del Elefante. Então, quem sabe? Podemos ter mais surpresas”, disse Martinón-Torres. “Acho que a descoberta principal é que estamos documentando pela primeira vez uma população de hominídeos que não sabíamos que tínhamos na Europa.”

Trabalho de detetive

Chris Stringer, líder de pesquisa em evolução humana no Museu de História Natural de Londres, disse que a descoberta é um “achado muito importante”.

“O formato do rosto é distinto do de Homo antecessor (e de H. sapiens) em características como o nariz menos proeminente e as maçãs do rosto menos delicadas, assemelhando-se mais a alguns fósseis de H. erectus,” disse Stringer por e-mail. Ele não esteve envolvido na pesquisa.

“Mas acho que os autores estão certos em relacionar cautelosamente os achados de Elefante à espécie H. erectus. Eles são muito incompletos para qualquer conclusão definitiva.”

A reconstrução do fóssil fragmentado do rosto exigiu a combinação de técnicas tradicionais, como a análise e comparação visual dos fósseis, com tecnologias avançadas de imagem e análise 3D, segundo o estudo.

Os pesquisadores não dataram diretamente os pedaços de esqueleto, mas, com base em três métodos diferentes para determinar a idade da camada de sedimento em que estavam incrustados, estimaram que eles tenham entre 1,4 milhão e 1,1 milhão de anos.

A equipe também recuperou ossos de animais com marcas de cortes e ferramentas de pedra usadas para o processamento de carcaças no local. Segundo o estudo, essa população teria habitado um ambiente de floresta com áreas úmidas de pastagem, rico em presas.

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