Rússia vai aceitar cessar-fogo com Ucrânia? Veja o que pensam especialistas

Autoridades da Ucrânia aceitaram, na terça-feira (11), uma proposta dos Estados Unidos para estabelecer um cessar-fogo temporário de 30 dias com a Rússia, segundo um comunicado divulgado pelo governo americano.

Após o sinal positivo da Ucrânia, autoridades americanas, europeias e o próprio presidente dos EUA, Donald Trump, enfatizaram que, agora, a “bola está na quadra da Rússia”, e que a implementação do cessar-fogo depende do país comandado por Vladimir Putin.

Analistas e especialistas, no entanto, não têm se mostrado otimistas quanto à resposta russa até o momento.

Histórico desanimador

Carolina Pavese, professora de Relações Internacionais do Instituto Mauá, destacou em entrevista à CNN que o cenário é desanimador para as perspectivas de paz na região.

Pavese lembra que acordos de cessar-fogo anteriores entre Rússia e Ucrânia, como o de 2014 após a invasão da Crimeia, foram violados pela parte russa. Situação semelhante ocorreu em 2008, envolvendo um acordo entre Rússia e Geórgia.

A professora enfatiza que um cessar-fogo representa apenas uma interrupção temporária das hostilidades, não uma solução definitiva para o conflito.

No entanto, ela adverte que, dadas as circunstâncias atuais e o histórico de descumprimento de acordos por parte da Rússia, alcançar uma solução final para o conflito parece ser um objetivo distante. “A gente pode ter até um período de trégua, mas a gente está muito longe de chegar a uma solução final para esse conflito”, conclui a especialista.

“Realidade russa”

O analista Nick Paton Walsh, da CNN Internacional, também entende que, ainda que a Rússia aceite a proposta de cessar-fogo, é difícil que ela se sustente.

“Para manter a ilusão de que é parceiro de Trump, Putin provavelmente aceitará alguma forma de paz”, diz Walsh. “Pode não ser um cessar-fogo imediato, e ele pode, como a Rússia fez antes, escolher atrasar seu início para buscar objetivos militares primeiro, particularmente na região de Kursk.”

“Mas então a realidade russa saudará a teoria da diplomacia telefônica. O primeiro argumento a ser testado é que não se pode confiar no Kremlin para se envolver em diplomacia significativa, pois sua história mostra que raramente o faz”, acrescenta o analista.

Walsh também acredita que a Rússia pode recorrer a práticas de desinformação para acusar a Ucrânia de quebrar o cessar-fogo e voltar à guerra.

“No passado, a Rússia se destacou em desinformação, maskirovka – engano como tática no campo de batalha – bem como operações de bandeira falsa, quando incidentes são encenados para fornecer o ímpeto para retaliação”, analisa Walsh. “Haverá momentos em que confrontos de armas de pequeno porte ou ataques de drones se mostrarão impossíveis de atribuir a qualquer um dos lados como agressor: onde a manipulação de IA, ou contas falsas, ou incidentes inteiramente fictícios, preencherão o espaço de informações.”

“Algoritmos buscarão amplificar falsidades. Líderes mundiais lutarão para compreender pequenos detalhes de quem atirou em quem na linha de frente. Áreas onde eventos sísmicos ocorreram se mostrarão fora do alcance dos investigadores devido à violência que irrompe novamente”, continua ele.

“As evidências da última década devem levar ao pessimismo, e o engano fluiu quase inteiramente em uma direção”, conclui.

Risco de recompensar a Rússia

Keir Giles, um consultor sênior do Programa Rússia e Eurásia ouvido pela Reuters, também não se mostrou otimista. Para Giles, o cessar-fogo “corre o risco de recompensar a Rússia”.

“Colocar em prática uma consolidação das linhas de frente em sua posição atual sem nenhuma garantia de longo prazo de garantir que a guerra realmente chegará ao fim corre o risco de recompensar a Rússia ao tornar a atual zona de controle permanente e congelar o conflito em vez de resolvê-lo”, disse o consultor.

Com informações da Reuters.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Rússia vai aceitar cessar-fogo com Ucrânia? Veja o que pensam especialistas no site CNN Brasil.

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