Policiais federais criticam competição interna por metas

Após a criação do “Desafio PF 2025”, que é uma competição interna de produção da Polícia Federal nos estados, alguns sindicatos de delegados e agentes se manifestaram publicamente contra o projeto.

A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), que representa os agentes, divulgou nota em que aponta “veemente repúdio”.

“Tal projeto soa como uma verdadeira afronta às atividades já desenvolvidas pelos servidores do órgão, que contam com destacado prestígio e respeito pela sociedade e que, mesmo que de forma ainda limitada por conta do modelo de trabalho adotado, apresentam resultados com reconhecida qualidade. Contudo, na contramão do que se busca ordinariamente como resultado, que deveria ser a qualidade do trabalho, a Direção-Geral da PF resolve incentivar uma competição com o viés de aumentar os seus números a todo custo. Lamentável e preocupante”, informa o texto.

Os sindicatos dos policiais federais de Pernambuco e Rio Grande do Sul também se pronunciaram contra o desafio.

“Como se não bastasse o estarrecedor número de suicídios, e o alarmante acometimento de doenças mentais entre os servidores, não é nada razoável admitirmos que esses profissionais sejam submetidos a uma pressão e estresse ainda maiores do que a própria atividade policial já impõe”, diz o Sindicato dos Policiais Federais do RS (Sinpef/RS).

O Sindicato dos Policiais Federais em Pernambuco caracteriza o desafio como “um experimento equivocado que busca transformar a atividade policial em uma competição”. “Como se segurança pública pudesse ser reduzida a uma métrica de produtividade. Não há espaço para a lógica de metas empresariais quando lidamos com o combate ao crime organizado, à corrupção e a outros ilícitos de alta complexidade”, destacou a instituição.

Já na parte dos delegados, o sindicato que os representa no Rio de Janeiro também seguiu o entendimento da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) e Federação Nacional dos Delegados de Polícia (Fenadepol), que são contra.

“O SindpfRJ endossa as manifestações da ADPF e da Fenadepol no sentido de repudiar o pretendido desafio , e, ao mesmo tempo, recomenda aos delegados, que atuam na polícia judiciária, que continuem a exercer suas elevadas funções no mais alto nível – como sempre – resguardando, ao mesmo tempo, o máximo respeito às garantias e direitos fundamentais no âmbito do processo penal”, ressalta o texto.

No quesito perícia criminal, que embasa muitas investigações, a Associação dos Peritos Criminais Federais (APCF) disse, à CNN, que “a missão da Polícia Federal não deve ser tratada como uma competição interna, nem seu desempenho pode estar condicionado a uma lógica de premiação”.

“A segurança pública exige planejamento estratégico, investimentos estruturais e condições adequadas de trabalho — e não a imposição de desafios que transferem, para os servidores, a responsabilidade pela superação de obstáculos institucionais, como a falta de recursos e infraestrutura”, pontua a APCF.

Competição

Por mais “eficiência e celeridade”, a Polícia Federal lançou o Desafio PF 2025, que é uma competição entre as 27 superintendências pelo Brasil. No entanto, passou a receber questionamentos da associação que representa os delegados.

A competição aponta que, “entre o período de 10/03 a 09/09, as superintendências regionais competirão isoladamente e em blocos regionais, buscando a melhor performance nos indicadores de operações, perícias e de polícia judiciária”, segundo texto divulgado na intranet da instituição.

Para a PF, no comunicado aos servidores, o desafio “é uma forma lúdica e objetiva” de estimular a busca de resultados almejados pela instituição. A PF diz que a estratégia vem sendo adotada por inúmeras corporações, públicas e privadas, constituindo uma ferramenta poderosa de integração, pertencimento, comprometimento e de incremento da cultura organizacional. Em 2023 e 2024, a Corregedoria-Geral da PF já havia realizado dois desafios.

Neste ano, a competição tem os objetivos de melhorar os índices operacionais; elevar o senso de pertencimento e comprometimento dos servidores mediante o engajamento e envolvimento do efetivo; e estimular a identificação de boas práticas, oportunidades de melhorias e inovação.

Sobre os questionamentos dos representantes de cada classe, a PF ainda não se pronunciou.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Policiais federais criticam competição interna por metas no site CNN Brasil.

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