Previ tenta aumentar influência na Vibra e perde meio bilhão de reais

Na mira do Tribunal de Contas da União (TCU) pelo déficit bilionário registrado no ano passado, a Previ — fundo de pensão dos funcionário do Banco do Brasil — acaba de indicar dois nomes para o conselho de administração da Vibra (antiga BR Distribuidora), em uma manobra que está sendo vista como tentativa do governo de recuperar influência na ex-subsidiária da Petrobras.

Não é a primeira ofensiva da Previ. Em 18 de abril de 2024, data da última assembleia de acionistas da Vibra, o fundo já havia indicado dois nomes ao conselho da empresa: Cláudio Gonçalves e João Fukunaga, diretor e presidente do fundo de pensão, respectivamente.

No mesmo dia, a Previ comunicou que iria aumentar sua participação na companhia, saindo de 3,3% para 5%. Desde então, as ações caíram e o prejuízo com a operação supera R$ 500 milhões.

O avanço de sua participação societária deu mais poder à Previ naquela assembleia — em que, a pedido da entidade de previdência complementar, foi adotado o “voto múltiplo”, critério que permite aos acionistas concentrar votos em poucos candidatos de uma chapa. Esses movimentos foram suficientes para eleger Gonçalves. Fukunaga, entretanto, não obteve votos suficientes.

O fundo de pensão tentará novamente, na assembleia de 2025, ocupar dois assentos entre os sete do conselho de administração da Vibra.

A chapa a ser votada em abril traz, além de Gonçalves, o nome de Marcel Juviniano Barros, presidente da Associação Nacional dos Participantes de Fundos de Pensão (Anapar), como representante da Previ.

Sindicalista, Barros foi candidato a deputado estadual pelo PT de São Paulo em 2002. Assim como Fukunaga, é graduado em história. Ele ingressou no BB em 1978 e foi secretário-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Confraf).

Desde a assembleia de 2024, a Previ expandiu ainda mais sua fatia na companhia: aparece agora com 5,24% na composição acionária da Vibra. Às vésperas da nova assembleia, o fundo diz que tem participação de 9% no capital da empresa de distribuição de combustíveis.

Privatização

A privatização da BR Distribuidora ocorreu por etapas. Em 2017, no governo do ex-presidente Michel Temer (MDB), ela teve uma oferta inicial de ações e passou a contar com sócios privados.

Em 2019, na gestão Jair Bolsonaro (PL), a Petrobras se tornou minoritária ao vender participação na empresa. A petroleira saiu de vez da estatal em 2021, desfazendo-se de suas últimas ações.

De volta ao Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já criticou diversas vezes a perda de controle da BR Distribuidora pela União.

Em fevereiro, ao reclamar de intermediários que “assaltam” o consumidor, fazendo o preço subir entre a produção e as bombas de gasolina, ele abordou novamente o assunto.

“Resolveram vender pedaços da Petrobras e começaram vendendo um grande pedaço chamado BR, nossa distribuidora (de combustíveis), e queriam vender muito mais”, declarou Lula.

Os movimentos da Previ na Vibra foram interpretados, por críticos da atual gestão, como uma tentativa de recuperar alguma influência nas decisões de uma ex-estatal “estratégica”, assim como a Vale e a Eletrobras.

Problemas

Acontece que os investimentos da Previ em Vibra contribuíram para o rombo de R$ 14 bilhões no Plano 1 do fundo verificado entre janeiro e novembro do ano passado. O prejuízo levou à auditoria do TCU e a compra de Vibra entrou na mira da área técnica que cuida do caso.

A gestão do sindicalista João Fukunaga aumentou sua posição em Vibra em um momento de “alta” das ações, contrariando a lógica de investimentos. Os papeis ordinários da companhia (VBBR3) — aqueles que dão direito a voto — custavam R$ 23,50 na Bolsa de Valores no fechamento de 18 de abril de 2024.

Naquele momento, a curva de variação das ações da Vibra sinalizavam alta das ações: considerando valores de fechamento em dois anos anteriores, a média de preço de VBBR3 foi de R$ 16,43. Desde o avanço da Previ, os papeis apresentaram queda: chegam a cair a R$ 16,22 no dia 5 de fevereiro deste ano e rondam os R$ 17,40 nesta segunda-feira (17).

Segundo dados mais recentes divulgados pelo fundo, a Previ investe cerca de R$ 1,8 bilhão na companhia de distribuição de combustível, o que resultou em um prejuízo acumulado de R$ 518 milhões no ano passado

Segundo especialistas consultados pela CNN, também jogaria contra a aposta em Vibra — um investimento de renda variável — o fato de que o fundo está em fase de pagamento de benefícios e não de acumulação. Do total de 102 mil beneficiários da Previ, 3% estão na ativa.

No acumulado de janeiro até novembro, período do rombo, o Plano 1 da Previ concentrou 26,63% de seus ativos em renda variável. Estes investimentos registraram 12,02% de prejuízo e lideraram as perdas no ano.

Neste cenário, de acordo com economistas, seria indicada uma alocação de recursos “conservadora” por parte da gestão de Fukunaga — priorizando renda fixa, que garantam a previsibilidade de pagamentos. A estratégia seria ainda mais eficaz no momento atual, em que títulos públicos pagam taxas elevadas, em torno de 7,5% somado à inflação ao ano.

Na mira do TCU

O relatório preliminar de auditoria na Previ, em reta final de elaboração pela área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU), aponta que a compra de participação acionária na Vibra (antiga BR Distribuidora) pode ter contrariado a política do fundo de reduzir sua exposição em renda variável.

Os achados da auditoria são encaminhados ao ministro Walton Alencar, relator do processo no TCU, que citou “gravíssimas preocupações” com o resultado negativo do fundo no ano passado. A Previ é o maior fundo de pensão do país e gere um total de R$ 270 bilhões em investimentos.

A investigação está sendo conduzida em fases, e a primeira etapa analisou a origem desse déficit. Segundo o relatório, a justificativa dada aos auditores foi a queda das ações da mineradora Vale, na qual o fundo tem grande exposição.

Porém, embora a Previ já estivesse seguindo uma política de redução de investimentos em renda variável, os auditores identificaram que, na contramão dessa estratégia, houve esta compra expressiva de ações da Vibra.

A CNN entrou em contato com a Previ e solicitou um posicionamento. Em resposta, a entidade afirmou que a decisão de investimento em Vibra, assim como todas da Previ, são baseadas em análises técnicas rigorosas.

A Previ explica ainda o melhor retorno sobre patrimônio como um dos fatores que basearam a decisão.

“O retorno sobre o patrimônio (ROE) de Vibra é de 37%, enquanto de Ultrapar é de 15,76%. Isso significa que Vibra possui uma maior capacidade de gerar valor ao negócio e aos investidores, com base nos seus próprios recursos”.

Sobre a indicação da Previ ao conselho de Vibra, a entidade respondeu que as tomadas de decisões de investimentos não envolvem a participação em conselhos. “Uma prova disso é que nos últimos ano a Previ desinvestiu de quase 60 empresas, muito delas tradicionais no portfólio da Previ, com vaga em conselhos – como Ambev, Rumo e Ultrapar”.

Veja a nota na íntegra

A decisão de investimento em Vibra, assim como todas da Previ, são baseadas em análises técnicas rigorosas, sempre sob a perspectiva de oportunidades alinhadas ao Plano 1, com ênfase na projeção de crescimento da receita e na distribuição de dividendos.

A estratégia de investir em Vibra foi fundamentada por uma requalificação da exposição no setor de distribuição de combustíveis, desinvestindo a posição em Ultrapar e investindo em Vibra.  A decisão se baseou em Vibra mostrar bastante resiliência dentro de seu segmento, com indicadores financeiros superiores e por mostrar maior dedicação em aprimorar a alocação de capital, buscar maior eficiência operacional, fortalecer sua participação de mercado e diversificar. Os indicadores de Vibra são melhores do que os da sua principal concorrente – Ultrapar.

O retorno sobre o patrimônio (ROE) de Vibra é de 37%, enquanto de Ultrapar é de 15,76%.  Isso significa que Vibra possui uma maior capacidade de gerar valor ao negócio e aos investidores, com base nos seus próprios recursos. Em outro indicador financeiro importante, o dividend yield, Vibra também se destaca: 9% de rendimento pago pela companhia enquanto Ultrapar foi na ordem de 4%. Ou seja: Vibra vem sendo uma boa pagadora de dividendos.  

Em relação ao comportamento de preço das ações, em 2024, ano em que a bolsa de valores foi bastante impactada, as ações de Vibra recuaram em 16%, bem menos que a Ultrapar, que teve uma desvalorização de 39%.

Apesar de desafios conjunturais, a Vibra apresenta fundamentos sólidos, estratégias bem definidas e um valuation atrativo, consolidando-se como uma excelente opção de investimento.

A Vibra é uma empresa líder de mercado, reconhecida e consolidada, que possui a melhor classificação em ESG no ranking da Previ, o qual avalia as principais empresas do mercado, considerando aspectos cruciais como social, governança e responsabilidade socioambiental.

Além da sua atuação na distribuição de combustíveis, a Vibra se destaca como um dos principais players no mercado de geração de energia renovável. A empresa possui um capital amplamente pulverizado, com a maioria dos acionistas sendo de assets brasileiras e estrangeiras, ou seja, investidores privados, alguns deles com larga história de atuação no mercado brasileiro e internacional.

Os recursos para a compra do ativo foram oriundos de desinvestimentos realizados de outras 57 empresas que encerramos participação. A maior parte foi alocada em compras de renda fixa, mais especificamente de títulos NTN-B, que também são aderentes às obrigações do Plano 1.

Vibra atualmente tem consenso para recomendação de compra em 76% da cobertura de analistas de mercado, com potencial de retorno de 50% ao seu preço atual. O preço alvo na época da compra da Previ também indicada potencial de upside em 46%, em linha com mercado. Nosso investimento na empresa é de longo prazo o que nos permite não fazer vendas em preços desfavoráveis.

Ressaltamos ainda que todos os movimentos realizados foram em conformidade com as diretrizes da Política de Investimentos do Plano 1.

Sobre a indicação da Previ ao conselho de Vibra, vale ressaltar que as tomadas de decisões de investimentos não envolvem a participação em conselhos. Uma prova disso é que nos últimos ano a Previ desinvestiu de quase 60 empresas, muito delas tradicionais no portfólio da Previ, com vaga em conselhos – como Ambev, Rumo e Ultrapar.

A partir do momento que a Previ tem participação em empresas, a presença em conselhos faz parte da diligência com os investimentos e é uma parte importante na estratégia de governança da Previ. 

Quanto maior a importância de uma companhia para a carteira da Previ, mais importante é a presença de conselheiros qualificados, que acompanhem de perto o investimento. Os conselheiros cuidam dos melhores interesses das empresas e, consequentemente, dos investimentos da Previ.

Tentativas de fraudes bancárias sobem 10,4% em 2024, diz Serasa

Este conteúdo foi originalmente publicado em Previ tenta aumentar influência na Vibra e perde meio bilhão de reais no site CNN Brasil.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.