Criador de “Adolescência” defende medida radical contra violência escolar

Desde sua estreia em 13 de março, a série “Adolescência” tem gerado debates, do Parlamento Britânico a programas de entrevistas e nas redes sociais.

A trama fictícia acompanha um menino de 13 anos acusado de assassinar uma adolescente de sua escola, explorando como o ambiente familiar, social e digital influencia os jovens.

Um dos criadores da nova sensação da Netflix, Jack Thorne, 46, afirma ter recebido inúmeras mensagens de espectadores que passaram a discutir o tema com seus filhos.

“Recebi muitas respostas de pessoas com as quais não tinha contato há anos, me contando sobre conversas que estão tendo com seus filhos. Isso é realmente gratificante”, disse Jack em entrevista à BBC.

A repercussão foi além do público. O escritor afirmou que até o diretor da escola de seu filho o abordou para propor um diálogo sobre possíveis soluções no ambiente educacional.

“O diretor do meu filho me parou no portão da escola para dizer: ‘Gostaria de conversar com você sobre isso e gostaria de pensar sobre o que nossa escola pode fazer e o que outras escolas podem fazer’,” contou.

Agora, o roteirista defende que o governo britânico adote medidas rígidas para enfrentar a crise nas escolas e impedir que “meninos machuquem meninas e uns aos outros”.

Entre as ações sugeridas, ele pede que o primeiro-ministro britânico Keir Starmer avalie “com bastante urgência” a proibição de smartphones nas escolas e a criação de uma “idade de consentimento digital”.

A proposta é semelhante a medidas recentes implementadas em outros países. Na Austrália, foi aprovada uma lei que impede crianças menores de 16 anos de acessarem redes sociais. No Brasil, o governo federal anunciou em janeiro deste ano uma restrição ao uso de celulares nas escolas durante aulas, recreios e intervalos “para que os alunos possam se concentrar nas atividades diárias e interagir com outras pessoas”. A decisão visa “salvaguardar a saúde mental, física e psíquica de crianças e adolescentes”, além de combater o cyberbullying.

“Acho que deveríamos fazer o que eles estão fazendo e separar nossos filhos dessa doença perniciosa de pensamento que os está infectando”, declarou o escritor.

A série também aborda temas como masculinidade tóxica e a cultura incel (abreviação de “celibatários involuntários”), que promove a ideia de que mulheres são culpadas pela falta de relacionamentos.

O protagonista, interpretado pelo jovem Owen Cooper, 15, sofre bullying nas redes sociais e é exposto a discursos incel e visões distorcidas sobre violência sexual.

“Ele é esse garoto vulnerável, e então ele ouve essas coisas que fazem sentido para ele sobre por que está isolado, por que está sozinho, por que não pertence, e ele absorve isso. Ele não tem os filtros para entender o que é apropriado”, explicou Jack.

“Nessa idade, com todas essas pressões diferentes sobre ele e com as peculiaridades da sociedade ao seu redor, ele começa a acreditar que a única maneira de restaurar esse equilíbrio é por meio da violência”, acrescentou.

A série foi a produção mais assistida da Netflix na última semana e alcançou o top 1 da plataforma em 71 países, incluindo no Brasil.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Criador de “Adolescência” defende medida radical contra violência escolar no site CNN Brasil.

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