Caso Karine Gouveia: Veja lesões sofridas por pacientes de clínica de influenciadores indiciados por deformar pacientes


Karine Gouveia e Paulo César Dias foram indiciados por nove crimes, entre eles, lesão corporal gravíssima e organização criminosa. Casal segue preso e nega ter cometido os crimes. Esquerda – vítima de procedimento feito em clínica da infleunciados | Direita – Karine Gouveira e Paulo César
Reprodução/Redes Sociais
Dono das clínicas de estética Karine Gouveia, os influenciadores Karine Giselle Gouveia, de 34 anos, e Paulo César Dias Gonçalves, de 44, foram indiciados por nove crimes, entre eles, o de lesão corporal gravíssima praticada contra quase 30 pacientes. Segundo o delegado responsável pelo caso, Daniel José de Oliveira, são danos irreversíveis causados às vítimas, como necrose, deformações e infecções.
Em nota, a defesa de Paulo César, o advogado Tito Amaral, disse que já aguardava o envio do inquérito policial à Justiça e que acredita que ele será devolvido pelo Ministério Público ao delegado “para que diligências sejam refeitas”.
O advogado Romero Ferraz, que representa Karine Gouveia, disse que a defesa não se surpreende com o indiciamento e alegou que a investigação foi marcada por “vícios, narrativas distorcidas e motivação persecutória, afronta direitos e garantias fundamentais assegurados pela Constituição”. Afirmou ainda que sua cliente nunca foi ouvida na investigação e está tomando as medidas cabíveis (veja as notas dos advogados ao fim do texto).
✅ Clique e siga o canal do g1 GO no WhatsApp
Ao todo, mais de 6 mil pacientes foram atendidos entre 2018 e 2019.
Ao g1, o delegado Breynner Vasconcelos, que presidiu as últimas etapas da investigação e está coordenando o caso neste momento, disse que a maioria das lesões graves ocorreu no pescoço, papada, boca e nariz das vítimas, com episódios que até desenvolveram necroses.
Para o investigador , os casos mais graves ocorreram após procedimentos estéticos com uso de óleo de silicone ou polimetilmetacrilato (PMMA).
“Talvez, o que seja mais grave é a questão do óleo de silicone no corpo, que pode levar a pessoa à morte. É uma situação bem grave”, disse.
Dona de clínica e o marido são indiciados por nove crimes contra 30 pacientes
Relatos
Uma empresária de 46 anos, que não quis se identificar, denunciou ter sequelas após fazer três procedimentos na testa, no rosto e abaixo dos olhos. Segundo ela, as intervenções na face foram vendidas como preenchimento com ácido hialurônico, mas na verdade, foi usado PMMA, sem autorização dela
“Hora nenhuma foi dito para mim que o que seria aplicado PMMA. Quando foi me vendido, foi vendido como ácido hialurônico. Quando a gente entra na internet e vê que pode necrosar, pode ferir, isso que me deixa mais angustiada”, disse a paciente à TV Anhanguera.
A empresária conta que já procurou três médicos diferentes para tentar remover o produto, mas, por estar próximo a um nervo, é muito arriscado qualquer tipo de procedimento. “Posso mexer e dar uma paralisia facial”, disse.
Vítima relatou ter tido inchaço e muitas dores abaixo dos olhos após o procedimento
Reprodução/TV Anhanguera
Uma paciente da clínica, que não quis se identificar, relatou ao Fantástico que pagou cerca de R$ 4,5 mil para realizar uma lipo de papada. Agora, precisa conviver com cicatrizes e dor.
“Quando eu olho no espelho, eu levo um choque. Movimentar o pescoço de um lado para o outro, repuxa. Para mim, abaixar, dói. Então, é doloroso até hoje”, afirmou a mulher.
Imagens mostram lesões de paciente que fez lipo de papada, em Goiânia, Goiás
Reprodução/TV Anhanguera
O empresário Marcelo Santos ao Fantástico que realizou um procedimento para reduzir o tamanho do nariz: “Fizeram raspagem e eu sentindo, acordado. Senti tirar pele, senti tirar cartilagem, senti raspar o osso”, disse.
Segundo ele, a cirurgia não foi bem-sucedida, e ele precisou passar por uma segunda intervenção na mesma clínica para corrigir o erro. Além dos prejuízos estéticos, o empresário afirmou que necessita de outros tratamentos de saúde para lidar com o trauma: “Eu não consigo dormir direito. Tive problemas mais fortes, depressão, ansiedade”.
“Hoje, para eu fazer minha cirurgia de correção, vai custar em torno de R$ 60 mil. Eu não tenho condições”, afirmou Marcelo.
Marcelo disse que fez uma rinoplastia com um dentista e que o nariz ficou deformado, em Goiânia, Goiás
Reprodução/TV Anhanguera
A psicóloga Vânia Ribeiro também foi vítima de procedimentos malsucedidos na Clínica Karine Gouveia. Ela investiu quase R$ 20 mil em uma harmonização facial, que incluía intervenções nas pálpebras inferiores, no “bigode chinês” (linhas de expressão entre o nariz e a boca), nos lábios e no ângulo da mandíbula.
No entanto, segundo ela, ao invés de aplicarem ácido hialurônico conforme combinado com a psicóloga, ela recebeu óleo industrial no rosto. Exames realizados pela Polícia Científica de Goiás comprovaram a verdadeira composição do produto.
“Eu fiquei muito desesperada. Eu furei minhas pálpebras inferiores e apertei bastante para ver se o produto saía”, contou a psicóloga.
Empresária disse que foi aplicado nela óleo industrial, em Goiânia, Goiás
Reprodução/TV Anhanguera
LEIA TAMBÉM:
Influenciadores e donos de clínica são indiciados por nove crimes contra 30 pacientes em procedimentos estéticos
‘Me senti pior’: Paciente de clínica de influenciadores presos denuncia dificuldade para mexer o pescoço após lipo de papada
‘Revoltante’: Paciente conta que usaram óleo de silicone no rosto dela após pagar mais de R$ 18 mil a clínica de influenciadores
Nove crimes
Karine Gouveia e Paulo César, casal investigado pela Polícia Civil, Goiás
Reprodução/Redes Sociais
O caso é investigado pela Polícia Civil desde abril de 2024 e as duas clínicas, em Goiânia e Anápolis, foram interditadas. Karine e Paulo estão presos na Unidade Prisional de Aparecida de Goiânia e foram indiciados por nove crimes:
organização criminosa
lesão corporal gravíssima;
exercício ilegal da medicina;
fraude processual;
falsidade ideológica;
falsificação, corrupção e adulteração de produto terapêutico;
estelionato;
propaganda enganosa;
execução de serviço com alto grau de periculosidade.
Além dos influenciadores, 13 profissionais ligados diretamente ou indiretamente com a clínica também poderão responder pelos crimes.
“As investigações comprovaram que a clínica KGG estética, comandada por Karine Gouveia e seu marido, apresentavam uma estrutura aparentemente profissional, mas funcionava como uma verdadeira organização criminosa voltada à prática sistemática de crimes com divisão de tarefas, hierarquia e finalidade econômica”, afirmou o delegado.
Entenda o caso
O casal foi preso, pela primeira vez, em dezembro de 2024. Segundo a Polícia Civil, além dos donos, mandados de prisão, busca e apreensão foram cumpridos em desfavor de técnicos que atuavam na clínica e que não tinham formação para realizar os procedimentos.
Na época, a defesa do casal afirmou, à TV Anhanguera, que a clínica possuía todos os documentos necessários para funcionar, que Karine e Paulo sempre praticaram os atos dentro do que determina a lei e que o local atende a todos os padrões exigidos pela Vigilância Sanitária. A polícia negou a fala da defesa e afirmou que a clínica possuía um alvará para procedimentos apenas de classe estética, ou seja, minimamente invasivos
Além da incapacidade profissional dos envolvidos, a investigação apontou que os materiais e produtos usados nos procedimentos eram inadequados.
Mandados também foram cumpridos em Anápolis, a 55 km da capital, onde havia uma filial da clínica. Os envolvidos tiveram as contas bancárias, bens e valores bloqueados. No total, foram R$ 2,5 milhões apreendidos, além de um helicóptero avaliado em R$ 8 milhões.
O casal estava solto desde o início de fevereiro, após decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Eles voltaram a ser presos em 12 de março.
Nota de defesa de Paulo
A defesa de Paulo César aguardava ansiosa a remessa do inquérito policial ao Poder Judiciário para que fosse possível passar a valer o devido processo legal.
Infelizmente a Polícia Civil produziu uma peça jurídica insustentável, cujo único objetivo, em mais de um ano de investigação, foi o de manchar reputações e criar factoides.
O inquérito imprestável, certamente, será devolvido pelo Ministério Público ao delegado para que diligências sejam refeitas.
Tito Amaral – OABGO 12.443
Nota de defesa de Karine Gouveia
Na condição de advogado da empresária Karine Gouveia, venho a público esclarecer que o encaminhamento da investigação ao Poder Judiciário é medida que sempre foi pleiteada por esta defesa, justamente para que se promova o necessário controle de legalidade – até então inexistente.
O relatório final apresentado é consequência natural do inquérito em curso. A defesa não se surpreende com o indiciamento, considerando que a investigação foi conduzida por autoridade policial manifestamente sem atribuição legal e cuja atuação revela clara suspeição, já devidamente questionada perante o Judiciário. Ressalte-se que aquela autoridade, usurpou a atribuição da Delegacia Estadual do Consumidor, que possui atribuição legal para apurar os fatos imputados.
A investigação, marcada por vícios, narrativas distorcidas e motivação persecutória, afronta direitos e garantias fundamentais assegurados pela Constituição. Trata-se de procedimento flagrantemente injusto, cujo conteúdo ignora a ausência de qualquer resultado de morte decorrente dos fatos em apuração.
A defesa técnica de Karine Gouveia seguirá atuando com firmeza na busca por um processo justo, em que cada acusação seja devidamente individualizada, respeitando o contraditório e a ampla defesa.
Karine, desde o início, jamais se furtou ao cumprimento da lei e sempre esteve à disposição para esclarecer todos os pontos questionados. Inclusive, é bom que se diga que Karine, apesar de manifestar interesse em esclarecer os fatos, nunca foi ouvida nessa investigação cujo relatório foi apresentado.
Goiânia, Goiás, 25 de março de 2025.
Romero Ferraz Filho
📱 Veja outras notícias da região no g1 Goiás.
VÍDEOS: últimas notícias de Goiás
Adicionar aos favoritos o Link permanente.