Bastidores “Cabaré Haikai”: música e poesia encenada de Leminski

Bastidores “Cabaré Haikai”: música e poesia encenada de Leminski

A poesia de Paulo Leminski é conhecida na literatura brasileira como revolucionária. Seus haikais carregavam o peso de uma mente bagunçada, mas cheia de originalidade, curtos, mas jamais rasos. E em Cabaré Haikai, espetáculo em cartaz na Mostra Lúcia Camargo do Festival de Curitiba, suas palavras ganham corpo, voz e melodia em uma apresentação que transita entre o riso, o drama e a provocação.

A Rede Teia teve acesso exclusivo ao ensaio geral na tarde de quarta-feira (19), dias antes da estreia, marcada para o dia 25/3, e acompanhou de perto os bastidores de uma peça que transforma a obra do poeta curitibano em uma observação única para o público.

Dirigida por Rodrigo Fônos, a peça evidencia as diferentes faces do autor: seus haikais, seus excessos, sua musicalidade, ironia, vulgaridade e petulância. O espetáculo já havia sido apresentado no ano passado, em homenagem aos 80 anos que Leminski completaria. Agora, retorna aos palcos como parte da programação do Festival de Curitiba, com nova força e ainda mais entrega.

Antes mesmo de pisarem no palco do Teatro Zé Maria, o ensaio geral mostrou não apenas uma preparação técnica afiada, mas também um envolvimento emocional que transbordava da equipe. A trilha sonora é composta por arranjos musicais criados a partir de textos e canções de Leminski, muitos deles interpretados ao vivo pelo elenco. A banda, igualmente comprometida, acompanha cada cena com a harmonia do jazz, gênero que o poeta tanto admirava, acentuando o clima de intensidade e atrevimento que enriquece todo o espetáculo.

“Leminski era um gênio, era louco muitas vezes, polêmico… e a peça retrata como ele merece ser retratado: com excelência”, afirmou o diretor Rodrigo Fônos, atento a cada detalhe do processo enquanto orientava os atores com a mesma paixão que Leminski colocava em sua escrita.

Um dos integrantes do elenco, o ator Kauê Persona, comentou sobre a importância de mergulhar na obra do autor antes mesmo de subir ao palco: “Passar pelas palavras desse curitibano tão histórico e tão porreta é uma experiência maravilhosa”, afirmou. Segundo ele, o processo criativo envolveu a releitura das principais obras do poeta, em busca de capturar não apenas seus textos, mas o espírito por trás deles, como na leitura de “Catatau”, sua obra mais emblemática.

A peça não se prende a uma narrativa linear, cada cena funciona como um recorte da vida e da obra de Leminski, interpretada com maestria e paixão. Em momentos, a vulgaridade aparece como provocação, característica comum nos poemas do autor. Em outros, o humor dá espaço a reflexões melancólicas, sempre sustentadas por atuações energéticas e uma direção firme.

Nos bastidores, o que se vê é entrega. Atores e músicos ensaiam movimentos, repassam canções, afinam tons e sorrisos. O ambiente é leve, mas comprometido. A encenação e o cenário retratam a bagunça do gênio Leminski com precisão e respeito, resgatando o que havia de mais caricato em um autor filosófico, provocador, engraçado e profundamente humano. Convidando o público a redescobrir ou conhecer pela primeira vez  um dos maiores nomes da literatura brasileira, através de uma linguagem que pulsa, canta e vibra.

Cabaré Haikai segue em cartaz durante o Festival de Curitiba, porém, com ingressos esgotados. A peça estreou no dia 25/3 com duas sessões e segue em cartaz no dia 26/3. Segundo as redes sociais do Festival, as entradas para o espetáculo estavam quase esgotadas desde o dia 24 de fevereiro, ou seja, quase um mês antes da estreia.

Colaboração: Eduarda Rodrigues, aluna UP

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