Os líderes de Reino Unido, França e Alemanha afirmaram em uma cúpula nesta quinta-feira (27) que a Europa não suspenderá as sanções à Rússia, ressaltando que não é momento para isso — uma mensagem forte e aparentemente coordenada e direcionada ao governo de Donald Trump.
Os Estados Unidos disseram nesta semana que avaliam as demandas do Kremlin de levantamento de sanções para que uma trégua no Mar Negro entre em vigor.
A declaração dos líderes europeus foi feita após uma reunião da chamada “coalizão dos dispostos” em Paris, que discutiu como reforçar o apoio à Ucrânia e qual papel eles podem desempenhar se um acordo de paz for fechado com a Rússia.
Embora ainda haja divisões entre as autoridades, eles concordaram em negar a demanda da Rússia para aliviar as sanções.
“(Há) total clareza de que agora não é o momento para suspender as sanções”, disse o primeiro-ministro britânico Keir Starmer.
“Muito pelo contrário – o que discutimos é como podemos aumentar as sanções para apoiar a iniciativa dos EUA, para trazer a Rússia à mesa por meio de mais pressão deste grupo de países”, destacou o premiê, adotando um tom conciliador em relação aos Estados Unidos.
Starmer informou que a reunião envolveu mais de 30 países, incluindo aliados europeus da Ucrânia e autoridades da Otan, a aliança militar ocidental. Ele descreveu a reunião como “muito construtiva”.
Por sua vez, o chanceler alemão, Olaf Scholz, avaliou que interromper as sanções seria um “erro grave”.
“Não faz sentido encerrar as sanções até que a paz seja realmente alcançada e, infelizmente, ainda estamos muito longe disso, como você pode ver”, comentou.
“Havia clareza absoluta de que a Rússia está tentando atrasar [o acordo de cessar-fogo], está jogando. E temos que ser absolutamente claros sobre isso”, acrescentou Starmer.
França esclarece possível envio de tropas de paz
A França também esclareceu uma proposta de enviar forças de Exércitos europeus para a Ucrânia no caso de um cessar-fogo.
O governo francês e o Reino Unido sugeriram anteriormente a ideia de enviar forças de paz para a Ucrânia e disseram que estariam dispostos a “colocar botas no chão”. Mas suas últimas discussões se concentraram em um termo alternativo: “forças de garantia”.
“Essas seriam forças de vários Estados… presentes em locais estratégicos pré-identificados com os ucranianos, que forneceriam suporte de longo prazo, garantia para os Exércitos e agiriam como um impedimento para uma potencial agressão russa”, observou o presidente Emmanuel Macron nesta quinta-feira.
Ele acrescentou que essas tropas nunca serviriam como uma “substituição para o Exército ucraniano”.
Sobre o apoio às “forças de garantia”, Macron afirmou: “Não foi unânime hoje, como todos sabemos, e não precisamos de unanimidade”.
Líderes discutem papel da ONU no cessar-fogo
A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, disse que os aliados discutiram a possibilidade de a ONU ter algum papel na aplicação de um cessar-fogo, mas sublinhou que as forças italianas não participariam de uma possível força militar implantada na Ucrânia.
“Durante a reunião, os líderes também discutiram a importância da implementação e monitoramento efetivos do cessar-fogo, no qual um possível papel para as Nações Unidas está surgindo, em linha com a posição do governo italiano”, pontuou o governo da Itália.
Meloni, uma aliada próxima de Trump na Europa, também expressou esperanças de que os Estados Unidos participem da próxima reunião da coalizão.
Os Estados Unidos não são atualmente um membro da ‘Coalizão dos Dispostos’ com Macron reconhecendo que, embora ele “espere” que os EUA apoiem uma implantação europeia na Ucrânia, a Europa precisa “se preparar para uma situação em que eles (os EUA) não se comprometerão” com a segurança da Ucrânia.
A Rússia disse repetidamente que consideraria qualquer presença militar estrangeira na Ucrânia “inaceitável”.
O presidente francês também anunciou planos para que uma equipe franco-britânica seja enviada à Ucrânia para ajudar Kiev a “preparar o formato do exército ucraniano de amanhã”.
Zelensky pede maior pressão contra Rússia
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, também pediu “mais pressão” e “mais pacotes de sanções” contra a Rússia.
“Todos os 31 votos de hoje apoiaram que não haverá levantamento de nenhuma sanção contra a Rússia até que esta guerra termine em uma paz justa”, destacou Zelensky em uma entrevista coletiva de Paris.
Ele também pediu unidade no que classificou como desejo do presidente russo Vladimir Putin de “dividir a Europa e a América”.
“Queremos que a América [Estados Unidos] seja mais forte. Concordo com Emmanuel [Macron] que todos nós precisamos disso. Não é nem uma questão de desejo, mas precisamos que a América seja mais forte em relação à Rússia”, ressaltou o presidente ucraniano.
Anteriormente, em uma postagem nas redes sociais, o líder argumentou que “Putin quer negociar sobre território de uma posição mais forte. Ele está pensando apenas em guerra”.
“Eles estão prolongando as negociações e tentando prender os EUA em discussões intermináveis e inúteis sobre falsas ‘condições’ apenas para ganhar tempo e então tentar tomar mais terras”, acrescentou Zelensky.
Por fim, destacou que a inteligência ucraniana indica que as forças russas estão se preparando para novas ofensivas contra as regiões de Sumy, Kharkiv e Zaporizhzhia.
*Jennifer Hansler, da CNN, contribuiu para esta reportagem
Este conteúdo foi originalmente publicado em Não é momento de suspender sanções contra Rússia, dizem líderes europeus no site CNN Brasil.