SpaceX lança primeira missão com tripulação à órbita polar

A SpaceX lançou nesta segunda-feira (31) uma missão espacial para orbitar acima dos polos Norte e Sul da Terra – algo que nunca foi feito. A missão é paga e a equipe da espaçonave Crew Dragon levou um bilionário de criptomoedas e três convidados na viagem de vários dias que ocorre no espaço.

A missão, chamada Fram2, foi lançada das instalações da SpaceX no Centro Espacial Kennedy da Nasa, na Flórida, nos Estados Unidos. A decolagem ocorreu por volta das 21h46 no horário dos Estados Unidos.

Liderando a missão está Chun Wang, residente de Malta, que fez sua fortuna administrando operações de mineração de Bitcoin e pagou à SpaceX uma quantia de dinheiro para a viagem que não foi divulgada.

 

Junto com ele está um trio de outros entusiastas da exploração polar: a diretora de cinema norueguesa Jannicke Mikkelsen, a pesquisadora de robótica baseada na Alemanha Rabea Rogge e o aventureiro australiano Eric Philips.

Após decolar da Flórida, o foguete Falcon 9 da SpaceX teve que voar para o sul – traçando um caminho que nenhuma missão espacial tripulada jamais percorreu.

O trajeto do voo pré-planejado para a Fram2 também deveria levar a cápsula da tripulação sobre Cuba e o Panamá enquanto o foguete impulsionava a espaçonave em direção à órbita.

Poucos minutos após a decolagem, o propulsor de primeiro estágio do foguete Falcon 9, que fornece a explosão inicial de potência na decolagem, se separou do segundo estágio do foguete e retornou para pousar em uma balsa marítima.

A parte superior do foguete então acionou seu próprio motor e começou a impulsionar a tripulação a mais de 28 mil km/h, colocando os quatro astronautas em uma trajetória para viajar diretamente sobre os polos da Terra.

A trajetória incomum foi escolhida para homenageara o interesse do grupo pela exploração polar.

Todos os quatro membros da tripulação estão viajando para o espaço pela primeira vez. “Temos uma missão não tradicional, disse Mikkelsen na última sexta-feira (28). “Não somos seus astronautas da Nasa típicos… Saímos de ‘nada’ e viramos astronautas certificados para voar.”

Uma trajetória de voo espacial não convencional

Lançar um grupo de pessoas – ou satélites – em uma trajetória orbital que circunda os polos Norte e Sul não é uma tarefa fácil.

E raramente é feito da Flórida: os locais de lançamento na Costa Leste são ideais para missões que viajam diretamente para o leste, porque a rotação da Terra pode dar aos foguetes que voam nessa direção um impulso natural significativo. Mas a Fram2 teve que ser lançada em direção ao sul.

Tal trajetória exige que o foguete gaste quantidades enormes de energia – resultando em “uma perda significativa de desempenho para esse veículo de lançamento em termos de quanta massa ele pode colocar em órbita”, conforme explicou o Dr. Crag Kluever, professor de engenharia mecânica e aeroespacial da Universidade do Missouri, durante uma entrevista por telefone na semana passada.

Isso não importa — já que o foguete Falcon 9 tinha energia suficiente para colocar a espaçonave Fram2 na órbita pretendida. Mas isso levanta a questão: por que exatamente essa órbita?

Embora os membros da tripulação estejam estimados para realizar 22 experimentos de pesquisa e ciência durante seus dias no espaço, a maioria envolve a avaliação da saúde da tripulação e poderia ser realizada independentemente de sua trajetória de voo.

Portanto, colocar a Fram2 em órbita polar pode ter mais a ver com o planejamento de uma missão diferenciada — em vez de uma idealmente adequada para a ciência.

“Esta é uma missão privada. Você precisa de algo para dizer que seja diferente e emocionante sobre ela”, opinou o Dr. Christopher Combs — o reitor associado de pesquisa do Klesse College of Engineering and Integrated Design da Universidade do Texas em San Antonio.

“É interessante que ninguém nunca tenha feito uma verdadeira órbita polar”, acrescentou Combs, “e é ótimo que tenhamos fornecedores comerciais que estão tornando as viagens espaciais cada vez mais rotineiras.”

Em sua opinião, acrescentou Combs, voar uma missão espacial tripulada ao redor dos polos é “um pouco acima de um truque, mas não exatamente um marco inovador”.

A SpaceX já lançou satélites em órbita polar da Flórida antes, usando uma manobra em zigue-zague que exigiu que o foguete Falcon 9 da SpaceX voasse para o leste sobre o Oceano Atlântico antes de virar bruscamente para o sul.

Conheça a tripulação da Fram2, missão tripulada da SpaceX para orbitar os polos da Terra

Não está claro quanto Wang pagou à SpaceX por esta missão. Dois especialistas em criptomoedas com quem a CNN entrou em contato para esta reportagem disseram que Wang tende a manter um perfil mais discreto do que a maioria das pessoas na comunidade de investimento em blockchain e pouco se sabe sobre ele.

Wang é o cofundador da F2Pool, uma organização que usa uma rede de computadores para minerar Bitcoin, o que envolve a solução de problemas matemáticos complexos.

A F2Pool é proeminente, responsável por cerca de 11% do “hashrate” total do Bitcoin — ou o poder computacional total usado para minerar moedas.

O patrimônio líquido de Wang está ostensivamente na casa dos bilhões, embora não seja possível estimar um valor exato.

Deixando de lado os empreendimentos em blockchain, durante o evento apenas em áudio realizado na plataforma X do CEO da SpaceX, Elon Musk, na sexta-feira (28), ficou evidente que Wang e seus companheiros de tripulação são entusiastas polares.

Mikkelsen, por exemplo, é vizinha de Wang em Svalbard, um grupo de ilhas norueguesas remotas perto do Polo Norte, e uma aventureira dedicada. Como cinegrafista e diretora, ela concentrou seu trabalho em projetos de ficção científica e documentários e no desenvolvimento de tecnologia para filmar em ambientes hostis e remotos, de acordo com seu site. Ela planeja fazer um filme sobre esta missão.

Rogge é candidata a doutorado pesquisando navegação, orientação e controle para veículos automatizados que atravessam condições adversas, de acordo com uma página da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia. Ela também é a primeira mulher alemã a voar para a órbita.

Philips é um explorador e guia em tempo integral que realizou cerca de 30 excursões às regiões polares da Terra desde 1992, de acordo com seu site e comentários que fez na última sexta-feira (28). Ele descreveu o ambiente como “incrivelmente hostil”.

“E que comparação perfeita conosco dentro da Dragon enquanto orbitamos os polos Norte e Sul por três a cinco dias”, acrescentou Philips. “É o mesmo tipo de experiência de nevasca. Temos quatro pessoas trancadas dentro… um ambiente incrivelmente severo.”

O grupo começou a treinar para a missão Fram2 no ano passado, e os preparativos incluíram o isolamento em “ambientes hostis” no Alasca, bem como treinamento na sede da SpaceX em Hawthorne, Califórnia.

Wang disse recentemente que não estava nervoso ou ansioso com a próxima missão, de acordo com uma publicação que compartilhou na plataforma de mídia social X.

“Agora, tudo o que precisava ser feito foi feito. Daqui em diante, é apenas seguir os procedimentos. A animação não me pertence mais”, disse Wang.

Através do perfil da SpaceX no X também é possível ver as primeiras imagens registradas pela missão.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em SpaceX lança primeira missão com tripulação à órbita polar no site CNN Brasil.

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