
Luiz França, de 27 anos, morreu no domingo (6) quando treinava mergulho em apneia na piscina do Náutico Capibaribe, no Recife. Instrutor de mergulho fala sobre importância de supervisão em treinos de apneia
“A regra número um é nunca mergulhar sozinho, nem mesmo se for na banheira de casa”. Isso é o que diz Marcello Bahia, instrutor de mergulho livre, prática feita usando somente o ar dos pulmões para se manter embaixo d’água (veja vídeo acima).
Ele falou sobre a morte de Luiz França Ferreira Neto, de 27 anos, que morreu no domingo (6) quando treinava mergulho em apneia na piscina do Clube Náutico Capibaribe, no bairro dos Aflitos, no Recife. O jovem queria se destacar no curso para ser da equipe de mergulhadores e fazia, por conta própria, treinos desse tipo.
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A Polícia Civil registrou o caso como afogamento. Não há informações oficiais sobre o que causou o acidente. Há a hipótese de que o jovem “apagou” e, sem supervisão, ficou submerso, e também a versão de que ele, ao tentar voltar à superfície, bateu a cabeça e sofreu parada cardiorrespiratória.
Segundo Marcello Bahia, esse “apagão” acontece quando o corpo está há tempo demais sem oxigênio.
“O cérebro manda desligar tudo, e se não tem alguém treinado para me tirar da água, vou acabar passando muito tempo sem oxigênio e vai ter esse ‘blackout’. Se tem essa pessoa treinada para me tirar, não vai ter problema algum. Por isso que a regra número um é nunca mergulhar sozinho”, afirmou.
Há duas modalidades de treinos de apneia. Numa delas, a estática, a pessoa fica submersa, parada, pelo máximo possível. Na outra, dinâmica, a pessoa cruza a piscina sem respirar.
Essa segunda modalidade é exigida nas provas do curso de formação de bombeiros. É preciso percorrer 25 metros na piscina, em apneia. Entretanto, segundo amigos, a modalidade que Luiz treinava no momento em que se afogou era a estática.
“O que acontece é que a concentração de gás carbônico vai aumentando no nosso corpo, e isso é o que dá vontade de respirar. Quando atinge um nível insuportável, preciso interromper a apneia. Algumas pessoas podem fazer manobras como hiperventilação que reduzem o gás carbônico, mas aí eu entro numa zona perigosa em que eu posso ‘apagar’ e sequer ter um sinal para voltar à superfície”, explicou.
Ainda segundo Marcello Bahia, o “blackout” não dá sinais de que vai acontecer, e por isso é essencial ter alguém por perto para garantir a segurança.
Marcello Bahia também contou que, em média, pessoas iniciantes conseguem passar dois minutos submersas, sem respirar. O recorde mundial é de 11 minutos, e o brasileiro, 7 minutos e 14 segundos. Segundo testemunhas, Luiz França passou mais de 15 minutos embaixo d’água até ser percebido.
“Temos grandes campeões mundiais de apneia que morreram porque não estavam acompanhados por alguém, e isso tem acontecido cada vez mais. Você não sente. É preciso muito autoconhecimento para perceber os sintomas de um apagamento. São anos de treinamento até você começar a ficar mais sensível aos sintomas de um ‘blackout'”, declarou.
Jovem dedicado
Luiz França Ferreira Neto, que morreu na piscina do Náutico durante treino de apneia
Reprodução/Instagram
Considerado um jovem dedicado e carinhoso pela família, Luiz França tinha sido aprovado no concurso do Corpo de Bombeiros há pouco tempo e treinava no Náutico nos finais de semana, junto com outros amigos, com a intenção de ser encaminhado para atuar em salvamentos em mergulhos.
O empresário Jackson Nunes, padrasto de Luiz, contou que os alunos do curso de formação dos bombeiros têm acesso ao clube para realizarem treinamentos.
Na hora do acidente, de acordo com o empresário, Luiz treinava na piscina mais funda, com 5 metros de profundidade, enquanto outros dois colegas estavam noutra área do parque aquático. A família recebeu a notícia logo após a morte do rapaz.
O jovem morava no bairro da Várzea, na Zona Oeste do Recife, próximo do pai. A mãe e o padrasto vivem no bairro do Cordeiro, também na Zona Oeste. Luiz Neto tinha um cachorro, da raça Golden Retriever, chamado Logan, e era muito querido pelos amigos.
Anos atrás, o irmão dele morreu aos 18 anos, vítima de câncer.
O acidente
Jovem morre na piscina do Náutico durante treinamento de apneia
Reprodução/WhatsApp
O caso aconteceu no domingo (6), perto do meio-dia. Luiz França Ferreira Neto, de 27 anos, morreu enquanto treinava apneia na piscina de saltos do parque aquático do Clube Náutico Capibaribe, no bairro dos Aflitos, na Zona Norte do Recife;
A piscina tem cerca de cinco metros de profundidade e é utilizada para a prática de esportes aquáticos;
Segundo relatos de quem estava no local, Luiz França passou alguns minutos submerso, até ser retirado por um funcionário que faz a manutenção da piscina e mergulhou para resgatá-lo;
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e tentou reanimar o jovem, mas ele não resistiu e morreu no local;
Um amigo do jovem disse que, ao tentar retornar à superfície, Luiz França bateu a cabeça num batente da piscina e sofreu uma parada cardiorrespiratória;
Imagem enviada ao g1 mostra bastante sangue no local onde o Samu tentou reanimar a vítima.
Por meio de nota, a Secretaria de Defesa Social (SDS) manifestou “profundo pesar” pela morte do jovem. “Neste momento de dor e tristeza, a SDS se solidariza com os familiares, amigos e companheiros de curso, reafirmando o compromisso de prestar toda a assistência necessária”.
O caso foi registrado como afogamento pela Polícia Civil.
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