“Capitu Lê”: dança transforma a literatura em memória viva

“Capitu Lê”: dança transforma a literatura em memória viva

Com delicadeza nos movimentos e um silêncio que fala mais alto que palavras, “Capitu Lê” emocionou o público na estreia nesta sexta-feira (04), no Teatro da Praça, em Araucária, como parte da programação da 33° edição do Festival de Curitiba. Apresentada pela companhia Casa Eliseu Voronkoff e dirigida por Fernando Vidal, o espetáculo é uma adaptação do livro “Capitu Lê” da escritora Jacqueline Carteri.

O enredo acompanha Capitu, uma gatinha leitora, que mergulha em aventuras mágicas e compartilha tudo com Bento, um cão curioso e bom ouvinte. Bruxas, piratas, fadas, sereias ganham vida através da dança, sem uma única fala, mas com uma narrativa envolvente. O espetáculo encanta, diverte e toca, mostrando que é possível contar uma boa história apenas com o corpo, o olhar e o ritmo.

O cenário complementa o charme do espetáculo. As próprias ilustrações do livro são projetadas no fundo branco do palco, que é preenchido aos poucos com novos elementos ao longo da apresentação. Mais do que uma adaptação, trata-se de uma remontagem de uma obra que ganhou vida em 2019, também sob a direção de Fernando Vidal, quando Jacqueline Carteri ainda estava viva.

Agora, depois da partida da autora, o diretor recria o espetáculo, com novas camadas de afeto e significado. Vidal relembra que na primeira versão, Jacqueline aparecia apenas ao final da apresentação. Entretanto, nesta nova montagem, Jacqueline aparece desde o início da história, escrevendo o livro e acompanhando o desenvolvimento das aventuras que ela mesma criou. A escolha de torná-la a narradora da história traz uma camada a mais de afeto à montagem.

O processo de criação foi inusitado: os dançarinos ensaiaram separados e só se encontraram no ensaio geral, dois dias antes da estreia. Muitos conheceram as coreografias completas apenas nesse momento. Ainda assim, o improviso e a entrega coletiva deram vida a um espetáculo fluido e emocionante.

Para a dançarina, Isadora Gotfrid, que interpreta Jacqueline, o desafio foi também emocional. “Fazer essa personagem foi um processo triste, mas ao mesmo tempo muito gratificante”, contou. Isadora havia participado da montagem de 2019 e afirma que desta vez foi ainda mais intenso. “Eu acho que é um espetáculo que vale a pena ser mostrado, porque é uma história para todas as idades, é uma história comovente”, completou.

Ao final do espetáculo, a emoção tomou conta do teatro. Os aplausos foram cheios de sentimento, não só pela beleza das danças, mas pelo que ela representa. Em um gesto de carinho, o elenco entregou flores aos pais de Jacqueline Carteri, que estavam presentes na plateia.

Para o Vidal, o espetáculo também é um convite à descoberta e à memória. “Pra quem não conhece a obra da Jaque, que tenha interesse de conhecer”, afirma. E para quem já conhece a autora, a apresentação ganha um tom ainda mais especial: “É tão difícil ver um espetáculo de dança representando a literatura, um livro infantil. Então ver os personagens dançando e transmitindo exatamente o que o livro diz, bate aquela saudade… para quem conhece a Jaque, é possível vê-la ali”, completa.

Jacqueline Machado Carteri foi pedagoga, escritora e mediadora de leitura. Faleceu em agosto de 2022, deixando um legado marcante na cena cultural de Araucária. Autora dos livros: “Capitu Lê”, “Leopoldo, o Imaginador” e “Feito Cão e Gato”. Sua presença permanece viva nas páginas que escreveu, na memória de quem a conheceu e agora também no palco.

SERVIÇO:

Dia: 05 de Abril (sábado) às 20h00

Horário: as 20h

Local: Teatro da Praça | São Vicente de Paulo, 1091, Centro – Araucária, PR

Duração: 58min

Gênero: Dança

Classificação: Livre

Entrada: Gratuita

Colaboração: aluna Universidade Positivo Laiza Gabriella, com supervisão dos professores

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