
Yuri Medeiros Correa está detido desde quinta-feira (10) no Centro de Detenção Provisória de Guarulhos II. Vítimas agora esperam que Justiça consiga finalmente fazer com que ele seja citado formalmente em processos que estão em curso. G1 não conseguiu contato com a defesa dele. Yuri Medeiros Correa, fundador da Autibank, foi preso em São Bernardo do Campo
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Depois da prisão de Yuri Medeiros Correa, CEO da empresa Autibank, que vinha sendo procurado desde 2022 por acusações de estelionato e pirâmide financeira, clientes que denunciaram terem sido lesados pelo banco digital em vários estados do Brasil afirmam que ainda tentam recuperar o dinheiro.
Yuri, que tem 34 anos e nasceu em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, foi preso em São Bernardo do Campo (SP), no dia 5 de abril, por policiais do Batalhão da Polícia Rodoviária do Estado. Ele tinha mandados de prisão emitidos pela Justiça do Rio.
Medeiros foi levado para o 3º DP, também em São Bernardo. Ele está detido desde quinta-feira (10) no Centro de Detenção Provisória de Guarulhos II.
O g1 conversou com algumas vítimas. O advogado Filippe Gonçalves, que representa pessoas que foram lesadas pelo golpe, disse que agora a Justiça poderá finalmente fazer com que Yuri responda pelos crimes:
“Com sua prisão, abre-se uma nova fase: a possibilidade de avanço nos processos judiciais, pois, uma vez localizado, Yuri poderá finalmente ser citado formalmente em todas as ações em curso”, afirmou o advogado.
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Segundo as investigações, pessoas do grupo obtinham as informações de clientes através de bancos de dados de funcionários públicos ou abordavam as vítimas em shoppings ou até mesmo nas próprias casas. Em seguida, as vítimas eram convencidas a fazer empréstimos com alguma das empresas do grupo Autibank ou conseguir recursos próprios, principalmente através de empréstimos bancários e consignados.
Com esses recursos, eram prometidos investimentos lucrativos, que variavam de 1% a 10% mensais. A promessa era de quitação do empréstimo em até seis meses.
Uma vítima do Rio de Janeiro contou que foi convencida por meio de um amigo do marido a entrar no esquema. Segundo ela, foram quatro contratos, dois empréstimos consignados, um empréstimo pessoal e um empréstimo denominado mútuo. O valor passava de R$ 250 mil.
“O Autibank ficou um bom tempo pagando os ‘lucros’, quase 1 ano e chegou a quitar um dos contratos, devolvendo o valor total, reafirmando a credibilidade, o que nos fez deixar mais algum tempo. Mas quando decidimos que não faríamos a renovação, começaram a enrolar e no final disseram entrar em compliance”, relatou, alertando que outros integrantes do esquema ainda estão sendo investigados.
Um homem do Rio de Janeiro contou que investiu R$ 130 mil em empréstimos. Ele disse que, após o golpe, sofreu com ligações de credores e ficou com o nome sujo:
“Todo o dinheiro sumiu, aí vem estresse, culpa, e eles ficaram prometendo solução e nunca apareceu. Que a Justiça mantenha ele preso e faça o rastreio e bloqueio dos bens para pagar os clientes lesados”, avaliou.
Um dos clientes lesados é sargento da Aeronáutica em Goiás, que contou ao g1 que foi convencido a investir na Autibank pelo primo, ainda no início do banco digital.
Segundo ele, que perdeu R$ 235 mil, muitas das vítimas do esquema estão nas forças de segurança, como policiais e militares da ativa e da reserva.
“Ele me pagou dois anos certinho, depois sumiu com o dinheiro de todo mundo. O esquema de pirâmide estourou. Teve gente que entrou, recebeu um mês ou dois e depois não recebeu mais”, relatou, relembrando os sacrifícios feitos para pagar as dívidas.
“Tive que vender um terreno que eu tinha, minha esposa me ajudou. Meu prejuízo foi de mais de R$ 200 mil. Do meu contracheque de época, de R$ 4,5 mil, R$ 3 mil ficavam com pagamento da dívida”, contou o homem.
Ainda de acordo com as investigações, a Autibank prometia pagar primeiro somente as parcelas referentes aos juros, e depois o valor final era entregue à organização criminosa. O advogado Filippe Gonçalves alertou sobre uma possível lavagem do dinheiro adquirido no esquema:
“Durante os anos em que esteve foragido, Yuri pode ter ocultado ou transferido os recursos para contas no exterior ou para terceiros, o que exigirá uma investigação minuciosa e coordenada”, alertou o advogado Filippe Gonçalves.
Civil e MP investigam
Em 2022, a empresa foi alvo de uma operação da Delegacia de Defraudações no Rio de Janeiro. Pelo menos 30 vítimas, segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), perderam quase R$ 3 milhões entre 2020 e 2021 com a Autibank.
Havia ainda relatos de prejuízos em outros 12 estados e no Distrito Federal, somando R$ 100 milhões em perdas.
Depois da operação, outras investigações foram abertas em 2023 e 2024 no Rio de Janeiro, em Niterói e em Duque de Caxias, na Região Metropolitana e na Baixada Fluminense.
No inquérito de Niterói, além da Autibank são citadas outras empresas do mesmo grupo econômico, como a A&C Central de Recuperações de Crédito. A vítima relatou um prejuízo de mais de R$ 100 mil.
O g1 não conseguiu contato com a defesa de Yuri Medeiros.
Yuri Medeiros Correa, fundador da Autibank
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