
Agentes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Polícia Federal deflagraram a Operação Boi Fantasma dentro da reserva. Rede Amazônica acompanhou o trabalho com exclusividade nessa quarta-feira (16). Operação Boi Fantasma: ICMBio notifica pecuaristas na Resex Chico Mendes no Acre
Por conta do aumento no desmatamento na Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, em Rio Branco, agentes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) deflagraram nessa quarta-feira (16), com o apoio da Polícia Federal (PF-AC), a Operação “Boi Fantasma”. A Rede Amazônica Acre acompanhou com exclusividade a ação que tem como objetivo o combate a pecuária de corte irregular na reserva.
📲 Participe do canal do g1 AC no WhatsApp
Os agentes detectaram inconsistências na declaração de rebanhos bovinos por imóveis rurais da unidade de conservação no Sistema de Defesa Agropecuária e Florestal (Sisdaf), que regula a criação de gado.
A suspeita é que pecuaristas alteram os dados para lavar o gado de corte em outros imóveis, tornando a comercialização supostamente legal no papel — um crime de falsidade ideológica.
O esquema envolveria ainda os frigoríficos. Isso porque fica mais difícil rastrear esse gado e garantir a qualidade da carne. O Acre é reconhecido internacionalmente como área livre de febre aftosa sem vacinação.
A Rede Amazônica sobrevoou a reserva extrativista e do alto, os agentes do ICMBio identificaram alvos da operação, que são as áreas embargadas para criação de gado ou com outras irregularidades. A principal causa do desmatamento é o corte raso da floresta para conversão em pastagem para o gado.
LEIA TAMBÉM:
Operação cumpre nove mandados contra suspeitos de crimes ambientais na Resex Chico Mendes no AC
Reserva Chico Mendes, no Acre, é a área protegida mais pressionada pelo desmatamento, aponta Imazon
Após diligências em reserva extrativista no AC, senadores fazem acusações contra ICMBio e ONGs
Operação busca coibir criação de gado em reserva extrativista
Eldérico Silva/Rede Amazônica
Visão geral das áreas notificadas
Na Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes em Rio Branco, uma das propriedades tem cerca de 150 cabeças de gado — além do permitido para uma unidade de conservação de uso sustentável. Os animais são criados em uma área embargada desde o ano passado pelo ICMBio. A Resex abrange os municípios de Assis Brasil, Brasiléia, Capixaba, Xapuri, Sena Madureira e Rio Branco.
Em outra propriedade, o dono alega que parte do gado é do pai dele e mesmo após a notificação dos agentes federais, afirmou que não deve regularizar a situação porque outros donos de terras na região também fazem essa prática. Porém se ele não cercar a área embargada e deixar de criar gado nela, será autuado.
A coordenadora de proteção do ICMBio, Gabryelly Oliveira, disse que segundo informações, há mais de mil cabeças de gado em um local alvo da operação.
“A área de uso em tese dessa área é 60 hectares. Segundo informações que a gente tem devido uma parceria do IDAF [Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal], a gente consegue verificar essas informações e a declaração de exploração de gado, excede a mil cabeças de gado, ou seja, claramente é uma área que não comporta”, assegurou.
Durante a visita em outra área, os agentes verificaram que a Guia de Trânsito Animal (GTA) está ativa e no nome de um homem que já morreu há três anos. O caso será apurado junto com o Idaf.
Em outro caso, o homem que alega ser dono da terra não apresentou documentos que comprovam as atividades desenvolvidas no lugar. Ele foi notificado e tem dez dias para apresentar a documentação ao ICMBio.
Desmatamento
Tatiane Leite, gerente regional do ICMBio na Amazônia, comentou que a Resex é a unidade de conservação federal mais desmatada. De agosto do ano passado a abril deste ano, o desmatamento aumentou cerca de 60%.
“A gente entende que a maior pressão sofrida atualmente é a pecuária extensiva, a pecuária de corte que não tem autorização para ser realizada no interior dessa unidade”, disse ela.
O extrativista Sérgio Ribeiro vive em uma propriedade na reserva há quase um ano. Ele trocou uma casa pela área que está embargada e explicou que não sabia dessa situação. De acordo com ele, o gado criado no local é para a subsistência. A renda dele vem da floresta.
“Quanto mais você desmatar, você tá acabando com a sua própria vida e dos seus filhos também. Então assim, eu prefiro fazer só pra você se alimentar, tirar daqui para você viver”, afirmou ele.
Rede Amazônica sobrevoou a reserva extrativista junto com a equipe do ICMBio
Eldérico Silva/Rede Amazônica
VÍDEOS: g1