Nina Tarqueta sempre foi movida pelo desejo de ter o próprio negócio, e por isso já fundou empreendimentos de setores variados, da alimentação ao turismo.
Mas foi através da arte indígena que pôde realizar o sonho de longa data de gerar impacto social e econômico por meio do empreendedorismo.
Diante disso, ela decidiu fundar o Centro de Artes Nativas e Originárias das Américas, ou Canoa, que hoje conta com uma loja física na cidade de Paraty, no Rio de Janeiro.
“A arte indígena me ajuda a seguir esse propósito: me manter no empreendedorismo, ao mesmo tempo em que olho para além do resultado financeiro, mas também para o impacto”, conta a empreendedora.
Atualmente, a Canoa Artes Indígenas é abastecida por produtos que são fruto do trabalho manual de uma rede formada por mais de 60 povos indígenas, localizados em diversas regiões do país e cuidadosamente construída ao longo dos últimos 20 anos.
Juntos, os artesãos, associações de apoio e organizações não governamentais (ONGs) ligadas à causa indígena atuam como fornecedores para a Canoa.
Arte com propósito
A inclinação de Nina para a arte indígena começou ainda na juventude, quando passou a produzir camisetas estampadas com artes indígenas inspiradas em um livro naturista de meados do século 18 e também por influências de sua própria família.
O contato com um amigo que já trabalhava com artes indígenas em São Paulo despertou ainda mais interesse — e expertise — no assunto, e por anos a empreendedora manteve uma loja voltada a esse nicho.
“Comecei como empreendedora vendendo alguns itens artesanais indígenas, pois acreditava que havia um mercado ali. Mas depois entendi que é uma pauta política e social, e decidi me aprofundar”, diz.
A Canoa atua hoje em parceria com povos indígenas escoando suas artes, uma prática que amplia o alcance do comércio local — que muitas vezes fica limitado às aldeias por questões logísticas e econômicas.
Na prática, isso significa que a empresa revende os produtos confeccionados em comunidades tradicionais do Brasil, com itens que vão de móveis a acessórios pessoais e produtos para a casa, aplicando para si uma margem capaz de manter o negócio de pé.
Segundo Nina, 65% de toda a produção revendida pela Canoa vem da Amazônia, local que encara desafios logísticos para o transporte de produtos que muitas vezes inviabilizam a venda em escala do artesanato indígena.
“Há uma necessidade imensa de geração de renda. Os povos se apoiam no artesanato para manter viva sua cultura e também a floresta. Sou teimosa e estou desde o início da minha vida profissional buscando responder a esse chamado: o de suporte à economia da floresta para a sustentabilidade das próximas gerações”, conta.
Nesse cenário, a empreendedora destaca a importância desse escoamento e renda para os povos envolvidos.
“O artesanato, muitas vezes é para subsistência, mas também tem foco na autonomia, em vencer distâncias custeando idas a outros estados e cidades; em um jovem poder fazer uma matrícula em um curso. Então a renda que ajudamos a gerar reflete em autonomia a partir da própria cultura, e isso é vital”, defende.
O perfil turístico da cidade também ajuda nos resultados do negócio. Além da loja, Nina conta com uma pousada que expõe as peças exclusivas, sendo uma espécie de vitrine para os itens de arte como parte da decoração do espaço.
Já na loja, as mercadorias são adquiridas de modo a acompanhar o fluxo de venda dos produtos.
Para o futuro, a empreendedora quer passar a mensurar o impacto gerado pelo negócio, tendo visibilidade sobre quantas famílias, aldeias e povos são impactados de forma direta pela Canoa.
“Por saber da relevância desse sistema para as pessoas com quem a gente trabalha e suas famílias, é uma ambição muito grande quantificar os benefícios de um trabalho feito com tanta confiança e compromisso”, conclui.
(texto de Maria Clara Dias)
Preço do café salta 77% em um ano na inflação de março, mostra IBGE
Este conteúdo foi originalmente publicado em Empreendedora aposta em arte indígena para gera renda a povos originários no site CNN Brasil.