Papa foi contra “capitalismo selvagem” e defendeu taxação de super-ricos

O papa Francisco foi um crítico contundente de políticas neoliberais ao redor do mundo. Temas como a pandemia de Covid-19, a crise na Venezuela e até a taxação de super-ricos apareceram nos discursos do pontífice argentino para se referir ao capitalismo, direta ou indiretamente.

Logo que assumiu a liderança da Igreja Católica, o papa Francisco fez sua primeira aparição pública, em 13 de março de 2013, sem os tradicionais adornos dourados comuns a outros pontífices.


O recém-eleito Papa Francisco I aparece na sacada central da Basílica de São Pedro em 13 de março de 2013 na Cidade do Vaticano, Vaticano.
O recém-eleito Papa Francisco I aparece na sacada central da Basílica de São Pedro em 13 de março de 2013 na Cidade do Vaticano, Vaticano • Franco Origlia/Getty Images

Diferentemente de Bento XVI, Francisco não usou a capa vermelha, conhecida como mozeta, quando acenou aos fiéis da varanda da Basílica de São Pedro. A mudança gerou comentários sobre a nova postura e as ideologias do novo líder dos católicos.

A postura de Jorge Mario Bergoglio, nome de batismo do papa, também foi reforçada na escolha do nome de Francisco, conhecido como o santo dos pobres.

Em 16 de março de 2013, o papa disse em uma audiência aos jornalistas que cobriram o conclave que a fala do cardeal brasileiro, Cláudio Hummes, foi determinante para a escolha: “Não te esqueças dos pobres!’. E aquela palavra entrou aqui: os pobres, os pobres. Depois, imediatamente em relação aos pobres, pensei em Francisco de Assis. É o homem que nos dá este espírito de paz, o homem pobre… Ah, como gostaria de uma Igreja pobre e para os pobres“, disse Francisco.

A condenação do “capitalismo selvagem”

Em maio de 2013, em um encontro com embaixadores no Vaticano, o pontífice criticou “a idolatria do dinheiro” e a “ditadura de uma economia realmente sem fisionomia nem finalidade humanas”.

“O dinheiro deve servir, e não governar. Eu amo a todos, ricos e pobres, mas tenho o dever de recordar ao rico, em nome de Cristo, que deve ajudar o pobre, respeitá-lo, promovê-lo”, afirmou.

Na semana seguinte, Francisco visitou uma cozinha comunitária no Vaticano e denunciou o “capitalismo selvagem”. Na ocasião, o papa destacou que a lógica de exploração levou às crises econômicas e sociais enfrentadas pelo mundo.

“Um capitalismo selvagem ensinou a lógica do lucro a qualquer custo, de dar algo a fim de receber, da exploração sem pensar nas pessoas”, disse o pontífice.

Chamado para um “capitalismo inclusivo”

Apesar das críticas, Francisco não rejeitou completamente o capitalismo: em novembro de 2019, defendeu um modelo “mais inclusivo e humano”.

Em um encontro com integrantes do Conselho para o Capitalismo Inclusivo, o papa enfatizou a necessidade de um sistema econômico que priorize o bem-estar das pessoas, e não apenas os lucros.

“Um sistema econômico sem preocupações éticas não conduz a uma ordem social mais justa, mas leva, ao invés, a uma cultura descartável dos consumos”, afirmou.

“O aumento dos níveis de pobreza em escala global testemunha que a desigualdade prevalece sobre a integração harmoniosa de pessoas e nações.”

O pontífice ainda defendeu um desenvolvimento e investimentos produtivos, sustentáveis e socialmente responsáveis a longo prazo.

A pandemia e o livre mercado

Durante a pandemia de Covid-19, Francisco reforçou sua visão crítica ao capitalismo. Em uma carta entitulada Fratelli Tutti (Todos Irmãos, em português), publicada em 2020, o papa argumentou que as políticas de livre mercado demonstraram ser incapazes de resolver os principais desafios da humanidade.

“O mercado por si só não pode resolver todos os problemas, por mais que façam a gente acreditar nesse dogma da fé neoliberal”, escreveu o papa.

No texto, Francisco também criticou a ideia de que a prosperidade econômica inevitavelmente beneficia toda a sociedade através do chamado “efeito transbordamento”, apontando que essa teoria tem falhado em garantir justiça social e erradicar a pobreza.

Posição sobre o comunismo

Em uma entrevista ao jornal italiano La Repubblica, em 2016, o papa Francisco foi questionado se pensava em uma sociedade do tipo marxista.

Ele respondeu: “Já foi dito várias vezes e a minha resposta sempre foi que, no mínimo, são os comunistas que pensam como cristãos. Cristo falou de uma sociedade onde os pobres, os fracos, os excluídos, são os que decidem.”

Anos depois, no entanto, o pontífice pediu durante a Assembleia da Diocese de Roma, em outubro de 2024, que o comunismo não fosse associado à religião.

“Por favor, não digamos que os cristãos, as freiras, os padres que trabalham com os pobres são comunistas. Por favor, vamos parar com isso.”

A defesa da taxação dos super-ricos

Em fevereiro de 2025, o papa organizou um evento global para debater a taxação dos super-ricos.

O encontro, que contou com apoio de lideranças políticas como o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, e o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, buscou estimular políticas de redistribuição de riqueza como forma de combater as desigualdades crescentes no mundo.

O Vaticano descreveu o cenário atual como “um momento crítico, quando os ultra-ricos no poder estão moldando decisões políticas tentando minar a cooperação internacional para a reforma tributária”.

As discussões se concentraram no papel da tributação de corporações multinacionais e dos super-ricos na redução da desigualdade, no combate às mudanças climáticas e no financiamento do desenvolvimento sustentável.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Papa foi contra “capitalismo selvagem” e defendeu taxação de super-ricos no site CNN Brasil.

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