Os embates e ataques entre o papa Francisco e Milei, Trump, Maduro, Bolsonaro e autoridades da igreja


O pontífice chegou a ser chamado de “representante do maligno na terra” pelo então candidato à presidência da Argentina. O republicano taxou como “vergonhoso” a crítica à promessa de construção de muros na fronteira entre EUA e México. O então presidente brasileiro rebateu fala sobre Amazônia. Trump e Papa Francisco suavizam discurso depois da troca de farpas
“Representante do maligno na terra”. Foi assim que Javier Milei, então candidato à presidência da Argentina, referiu-se ao papa Francisco, em 2023.
Na ocasião, Milei ainda chamou Francisco de “imbecil” e de “filho da puta que prega o comunismo”.
Os ataques eram uma resposta ao papa que, ao comentar a disputa eleitoral daquele ano, disse – sem citar Milei – estar preocupado com “o triunfo do egoísmo sobre o comunitarismo” e ter “pavor de salvadores da nação sem histórico partidário.” O Partido Libertário, de Milei, foi fundado em 2019.
Após a morte de Francisco, Milei publicou uma nota de pesar em uma rede social. “Apesar das diferenças que hoje parecem pequenas, ter podido conhecê-lo em sua bondade e sabedoria foi uma verdadeira honra para mim”, escreveu.
Além do agora presidente argentino, Francisco esteve envolvido, ao longo de seu papado, em embates com outras autoridades, como Donald Trump, Nicolás Maduro, Jair Bolsonaro e representantes da igreja,
Donald Trump
Quando Donald Trump prometeu, em 2016, construir um muro na fronteira dos Estados Unidos com o México para evitar a entrada de imigrantes ilegais, Francisco afirmou que “uma pessoa que pensa apenas em construir muros, onde quer que estejam, e não em construir pontes, não é cristã”.
Trump rebateu, classificando como “vergonhoso” que um líder religioso questione a fé de uma pessoa.
“Sou orgulhoso de ser cristão e como presidente não vou permitir que o cristianismo seja constantemente atacado e enfraquecido, ao contrário do que está acontecendo agora com o nosso atual presidente”, disse o republicano em nota.
Apesar do embate, Trump disse sentir muito pela morte do papa e, nesta terça (22), confirmou que irá ao funeral do pontífice. “Descanse em paz papa Francisco. Que Deus abençoe ele e a todos que o amavam.”
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, comentou a morte do papa.
Reprodução
Jair Bolsonaro
Em fevereiro de 2020, Francisco foi rebatido por Jair Bolsonaro (PL) após um comentário sobre a Amazônia.
O papa afirmou, no X, que defendia “uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja ouvida e sua dignidade promovida”, e exortou “ao mundo inteiro, para ajudar a despertar a estima e solicitude pela Amazônia, que também é «nossa»”.
Um dia depois, Bolsonaro respondeu, também no X: “a Amazônia é nossa. Não é como o Papa tuitou ontem, não, tá?”
Após a morte do pontífice, Bolsonaro disse que “a figura do Papa sempre foi sinal de unidade, esperança e orientação moral”, e que “Sua partida nos convida à reflexão e à renovação da fé, lembrando-nos da força da espiritualidade como guia para tempos de incerteza.”
Nicolás Maduro
Em 2024, em coletiva de imprensa, o papa disse, em referência ao governo de Nicolás Maduro, da Venezuela, que “ditaduras não servem e acabam mal”.
Francisco se referia à crise venezuelana causada pela suspeita de fraude na eleição que Maduro usou para obter um terceiro mandato.
Após ser declarado presidente, autoridades venezuelanas emitiram um mandado de prisão contra um candidato da oposição, Edmundo Gonzáles, em setembro de 2024 e chegaram a prender, em janeiro de 2025, Maria Corina, líder da oposição no pais.
Igreja Ortodoxa Russa e Rússia
O líder da Igreja Católica também teve embate com o chefe da Igreja Ortodoxa Russa, Kirill I. Em maio de 2022, em entrevista ao jornal italiano “Corriere Della Sera”, Francisco disse que Kirill não deveria se tornar um “coroinha” de Vladimir Putin. Isso porque o líder ortodoxo é bastante próximo do Kremlin e havia apoiado a guerra da Rússia contra a Ucrânia.
A Igreja Ortodoxa respondeu afirmando que o papa escolheu o tom errado e disse que as falas do pontífice não contribuíam para o diálogo entre as duas igrejas. Francisco até tentou corrigir a situação dizendo ao Kremlin que estava disposto a ir a Moscou para se encontrar com Putin – o governo russo disse não ter conseguido chegar a um acordo sobre o encontro.
Cardeal conservador americano Raymond Burke
Outro embate do pontificado foi entre o papa e o cardeal americano Raymond Burke, um crítico ferrenho de Francisco.
Em 2014, Burke disse que a Igreja sob o comando de Francisco era “como um navio sem leme”. Alguns dias depois, o papa tirou Burke da chefia de um dos tribunais do Vaticano e o colocou em um cargo cerimonial.
Para Francisco, Burke, trabalhava “contra a Igreja e contra o papado” e semeava “desunião”.
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