Quando Carlos Roberto da Silva Lucas, militar reformado da Marinha, recebeu o diagnóstico de pressão alta em uma consulta de rotina, ele ignorou as recomendações médicas para iniciar o tratamento. Na época com 43 anos, não sentia sintomas relacionados à hipertensão e, por isso, não sentiu necessidade de seguir as orientações para tomar remédios e mudar sua alimentação.
Anos depois, aos 47, já atuando na reserva, Carlos Roberto se sentiu mal em um dia de trabalho. Ao procurar o atendimento médico, ele descobriu que sua pressão arterial chegou a 24 por 18 e estava a ponto de sofrer um infarto. Após consultas médicas, um nefrologista identificou um rim atrofiado e outro funcionando com apenas 30% da capacidade. O motivo: anos de hipertensão não tratada.
“O nefrologista descobriu que um dos rins estava paralisado havia mais de um ano”, relata Carlos Roberto à CNN. Hoje, ele tem 61 anos. “A partir daí, iniciei um tratamento com hemodiálise e fui imediatamente inscrito na fila de transplante”, conta.
A hipertensão é uma doença crônica caracterizada pelos níveis elevados da pressão arterial. A condição faz com que o coração exerça um esforço maior para que o sangue seja distribuído no corpo, aumentando o risco para diversas complicações, incluindo a insuficiência renal e problemas cardiovasculares, como acidente vascular cerebral (AVC), infarto, aneurisma arterial e insuficiência cardíaca.
Segundo o Ministério da Saúde, 388 pessoas morrem por dia devido à hipertensão no Brasil. No entanto, a doença é silenciosa, ou seja, só apresenta sintomas quando atinge níveis muito elevados, como o caso de Carlos Roberto.
Portanto, o diagnóstico precoce por meio de exames de rotina é fundamental para evitar complicações de saúde e, até mesmo, a morte. Ações como o Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial, reconhecido neste sábado (26), são fundamentais para a conscientização acerca da importância do tratamento adequado da condição.
“Nós temos tratamentos disponíveis para a hipertensão e nós precisamos aplicá-los. Mas tudo começa com a pessoa procurando atendimento médico e estando ciente da importância da doença”, afirma Luciano Drager, diretor da Unidade de Hipertensão da Disciplina de Nefrologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), à CNN.
“Se o paciente ficar nessa de só confiar em sintomas, nós vamos continuar em um cenário extremamente desfavorável com o impacto da hipertensão sobre várias doenças, incluindo as doenças renais”, completa.
Tratamento da hipertensão pode evitar transplantes e outras complicações cardiovasculares
O caso de Carlos Roberto não é único. De acordo com Drager, a hipertensão não tratada é uma das principais causas para a necessidade de hemodiálise ou de transplante de rim no Brasil e em outros países.
O especialista explica que a pressão alta pode danificar os rins devido à falta de suprimento sanguíneo causada pelo enchimento dos vasos sanguíneos, característico da doença. “Existe uma série de mecanismos que vão, aos poucos, agredindo o rim, pela alta pressão e reduzindo o fornecimento de oxigênio e de nutrientes. O vaso sanguíneo vai ficando cada vez mais enfraquecido e mais espesso, determinando maior agressão aos rins”, afirma.
No entanto, assim como a própria hipertensão, as complicações decorrentes dela também podem ser silenciosas, muitas vezes causando sintomas apenas em quadros mais graves. “Em casos mais avançados, a pessoa pode começar a ter sangramentos, náuseas, vômitos, alteração de consciência e confusão mental, mas já são sinais alarmantes de uma doença renal crônica bem avançada”, completa.
“Mesmo em pessoas que não desenvolveram doença renal ainda, é preciso pensar que ela também não está isenta de risco. Em cinco a 10 anos, ela pode evoluir [para doença renal]. Então, é preciso tratar a pressão para impedir esse avanço e evitar consequências graves da hipertensão, incluindo, além de problemas renais, doenças cardiovasculares”, completa.
Usando sua própria história como exemplo para alertar outras pessoas dos cuidados com a hipertensão e cobrar atendimento médico e tratamentos adequados para pacientes renais, Carlos Roberto é, atualmente, presidente da Associação de Renais Crônicos, Transplantados e Doadores da Paraíba (Renais-Paraíba).
“Eu sabia que era hipertenso, mas não tinha o conhecimento desses efeitos que a hipertensão poderia trazer ao meu sistema renal. Por sorte, eu não fui afetado também pela parte cardiológica”, afirma. “Eu sou um exemplo de que a hipertensão pode te fazer ser um paciente renal crônico. Eu sou um exemplo para todos para fazer exatamente o contrário do que fiz, para procurar um médico, principalmente se houver histórico de hipertensão na família”, reforça.
Atividade física e dieta também fazem parte do controle da hipertensão
O tratamento da hipertensão pode ser feito com medicamentos específicos que controlam a pressão arterial. No entanto, os cuidados também incluem mudanças no estilo de vida, com a adoção de uma alimentação saudável e a prática de atividade física.
Entre as principais recomendações do Ministério da Saúde estão:
- Manter o peso adequado;
- Evitar o excesso de sal, utilizando outros temperos para realçar o sabor dos alimentos;
- Praticar atividade física regular;
- Abandonar o fumo;
- Moderar o consumo de álcool;
- Evitar alimentos gordurosos;
- Controlar o diabetes.
Hipertensão: apenas 30% dos pacientes aderem ao tratamento
Este conteúdo foi originalmente publicado em Hipertensão silenciosa: “Eu não sentia nada, até meus rins pararem” no site CNN Brasil.