Nesta terça-feira (29), Cuba prendeu novamente o opositor e ativista de direitos humanos José Daniel Ferrer por “violar os termos de sua liberdade condicional” apenas três meses após sair da prisão.
A ação fazia parte de um acordo mais amplo mediado em janeiro pelo Vaticano com o governo Biden, que visava libertar mais de 500 prisioneiros no país se os EUA retirassem Cuba de uma lista de terrorismo.
Trump, ao assumir o cargo, voltou atrás com o acordo, colocando Cuba novamente na lista, o que levou governo a suspender temporariamente a libertação dos detidos.
Ferrer não compareceu a duas audiências judiciais obrigatórias, uma violação da lei cubana e das condições de sua libertação, disse Maricela Sosa, vice-presidente do Supremo Tribunal Popular de Cuba.
“Ele não apenas não compareceu, como também anunciou em seu perfil nas redes sociais, em flagrante desacato e descumprimento da lei, que não compareceria perante a autoridade judicial”, disse Sosa à Reuters em um comunicado que também foi divulgado nesta terça-feira (29).
A irmã de José, Ana Belkis Ferrer, disse nas redes sociais que seu irmão havia sido detido pela polícia pela manhã, assim como sua esposa, Nelva, seu filho e vários outros ativistas.
“Exigimos sua libertação imediata e a de todos os detidos e presos políticos”, disse Ana Belkis no X.
#SOSCuba
Soy Ana Belkis Ferrer Garcia.
Acabo de confirmar la noticia que en la mañana de este Martes dia 29 de Abril del 2025, fuerzas represivas de la dictadura Castro Canel comunista asaltaron la sede principal de UNPACU en Reparto Altamira, la saquearon completamente y se… pic.twitter.com/5yEbSFqCly— José Daniel Ferrer (@jdanielferrer) April 29, 2025
José Daniel Ferrer, que mora em Santiago de Cuba, afirmou que foi preso injustamente pelas autoridades cubanas e que sua presença em qualquer audiência judicial foi desnecessária.
Maricela Sosa disse à Reuters que o tribunal também prendeu Félix Navarro, outro opositor de destaque de Matanzas, município de Cuba, condenado a nove anos de prisão após protestos antigovernamentais em julho de 2021.
Sosa afirmou que Navarro, libertado em janeiro, violou os termos de sua liberdade condicional ao deixar o município onde reside sem antes buscar autorização de um juiz.
“Embora não façam parte deste processo, além de descumprirem os termos de sua liberdade condicional, (Ferrer e Navarro) são pessoas que incitam publicamente à desordem e ao desrespeito às autoridades em seus ambientes sociais e online, e mantêm laços públicos com o chefe da embaixada dos Estados Unidos”, disse Sosa.
O vice-presidente do Supremo Tribunal Popular de Cuba também afirmou que a decisão de prender os dois homens “não estava diretamente relacionada a esses comportamentos”, mas que uma investigação mais aprofundada seria realizada em breve.
Ameaças de Ferrer, segundo Cuba
José Daniel Ferrer, de 54 anos, fundou um grupo de oposição chamado União Patriótica Nacional, ou “Unpacu”, em 2011. Ele está entre os últimos dissidentes remanescentes e de maior visibilidade da ilha comunista.
Ferrer começou a operar um refeitório comunitário em sua casa em Santiago de Cuba após sua libertação em janeiro. Ele alegou que o governo estava assediando sua família e sua equipe, impossibilitando-o de fornecer comida aos pobres.
Cuba há muito tempo acusa os Estados Unidos de financiar a dissidência de Ferrer em uma tentativa de derrubar o governo da ilha.
O Chefe da Missão dos EUA, Mike Hammer, visitou Ferrer em fevereiro em sua casa em Santiago.
A porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Tammy Bruce, pediu a libertação imediata de Ferrer e Navarro ainda na terça-feira.
“Condenamos veementemente o tratamento brutal e a detenção injusta dos patriotas cubanos José Daniel Ferrer, sua esposa e filho pequeno, bem como de Félix Navarro e outros ativistas pró-democracia”, disse Bruce a repórteres em uma coletiva de imprensa regular.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Opositor é preso em Cuba três meses após libertação negociada com Vaticano no site CNN Brasil.