Visto como símbolo de prestígio e status, escalar o monte Everest, no Himalaia, apresenta uma série de riscos, como temperaturas até -60ºC, mal da altitude, avalanches, custos elevados e uma janela climática apertada.
A esses obstáculos, os futuros alpinistas deverão acrescentar mais um: a montanha mais alta do planeta está crescendo, e mais alto do que as demais elevações de sua cordilheira.
Embora pareça surpreendente, a verdade é que as montanhas crescem. E não apenas crescem, mas também sofrem erosão e desgaste, além de um processo de “flutuação” sobre o manto terrestre, chamado isostasia.
Segundo um estudo recente, publicado na Nature Geoscience, o Everest está cerca de 15 a 50 metros mais alto do que deveria, devido à erosão causada por uma rede fluvial, a 75 km, que está cavando um grande desfiladeiro.
A perda da massa de terra, devido à ação erosiva do rio, está provocando um efeito chamado ajuste isostático. Quando uma grande quantidade de terra ou gelo que está comprimindo a crosta terrestre é removida, esta rebota lentamente para recuperar seu equilíbrio.
No caso do Everest, a montanha está se elevando a uma taxa de até dois milímetros por ano. Ao longo dos últimos 89 mil anos, essa elevação acumulada já aumentou a altura da montanha entre 15 e 50 metros.
Testando o crescimento do Everest

Para testar suas hipóteses, os autores usaram ferramentas matemáticas e computacionais, para simular a evolução dos rios ao longo do tempo.
Uma dessas abordagens matemáticas, chamada de modelo de potência do fluxo, descreve o relacionamento entre o fluxo de água de um rio e a maneira como ele afeta o terreno circundante.
O objetivo é prever possíveis elevações da paisagem com base em fatores como velocidade da água e movimento das rochas. Embora essa taxa possa variar em outros locais, os autores consideraram que a elevação do terreno ocorre em um ritmo constante.
Para entender como essa elevação ocorre, os pesquisadores analisaram o resfriamento e exumação das rochas, um processo em que pedras profundas da crosta terrestre são trazidas à superfície.
Chamados termocronométricos, esses estudos mostraram que há uma faixa específica de elevação mais rápida em uma área onde o movimento das placas tectônicas acontece sobre uma rampa profunda na crosta terrestre.
Isso significa que, em determinadas regiões, o terreno está se elevando mais rapidamente devido a forças geológicas que atuam abaixo da superfície, o que também contribui para a elevação do Everest.
Por que o Everest continua crescendo?

Em um comunicado de imprensa, o coautor Adam Smith, doutorando do Departamento de Ciências da Terra da University College London (UCL), assegura que o monte Everest “ainda está crescendo”.
Para ele, a pesquisa mostrou que, à medida que o rio “corta mais fundo”, e remove o peso da região, a crosta terrestre se eleva aos poucos, e a montanha cresce em altura. Isso significa que processos superficiais podem influenciar a geodinâmica de grandes cadeias montanhosas.
Segundo o estudo, a elevação do Everest ocorreu há milhares de anos, em consequência de uma “pirataria de drenagem”, processo em que um rio “rouba” o fluxo de outro.
Nessa captura fluvial, o rio Arun, que hoje corre para leste do monte Everest, pode ter roubado o fluxo do rio Kosi, aumentando sua vazão. Isso intensificou a incisão das gargantas, profundos desfiladeiros que os rios esculpem nos terrenos, removendo bilhões de toneladas de terra e sedimentos.
Para o autor principal do estudo, Xu Han, da Universidade Chinesa de Geociências, “A interação entre a erosão do rio Arun e a pressão ascendente do manto da Terra impulsiona o Everest, elevando-o a uma altura maior do que teria sem esse processo”.
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Este conteúdo foi originalmente publicado em Monte Everest está crescendo por causa de um rio “pirata”, diz estudo no site CNN Brasil.