
Manifesto publicado por entidades aponta que práticas têm sido recorrentes, que elas lembram sociedade escravocrata e que há omissão da universidade. Alunos deitados de bruços com na USP de Piracicaba: associação denuncia trote
Reprodução/ Adusp
A Associação de Docentes da Universidade de São Paulo (Adusp) denunciou a aplicação de trotes na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), em Piracicaba (SP). Imagens obtidas e divulgadas pelo Informativo Adusp Online mostram calouros deitados de bruços no chão e com as cabeças cobertas por chapéus (veja acima). Em outra imagem, há alunas ajoelhadas.
Três leis estaduais paulistas proíbem a prática de trote violento ou humilhante.
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Segundo o informativo da associação de docentes, as imagens foram captadas na última segunda-feira (5), em frente ao Prédio Central da Esalq, e a denúncia partiu de alunos e professores.
A Adusp também aponta que teve acesso a um vídeo que mostra que agentes da guarda universitária estavam a dezenas de metros de distância do local do trote e que um narrador afirma que havia “pessoas sendo agredidas”.
O g1 pediu acesso a esse vídeo ao informativo da associação, mas ele não foi fornecido sob a justificativa de preservação de identidades de pessoas que estavam no local.
‘É muito grave’ e tem ocorrido diariamente, diz professor
Ao Informativo Adusp Online, o professor especialista em trotes Antonio Ribeiro de Almeida Jr., do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq, considerou a situação “muito grave” e afirmou que tem ocorrido omissão da universidade quanto a essas práticas.
“Isso está ocorrendo em frente ao prédio principal da Esalq, que é o prédio onde ficam a Diretoria e a Prefeitura do Campus. Isso tem ocorrido todos os dias, no horário do almoço e no final da tarde. É um procedimento que está na última semana, eles vão fazer no dia 13 de maio ou logo depois a chamada ‘Libertação dos Bixos’, ironizando a questão da escravidão no país. Então é muito grave, o trote está proibido”, advertiu, em entrevista ao informativo.
Estudantes ajoelhadas em campus da Esalq: manifesto afirma que há omissão da universidade diante de trotes
Reprodução/ Adusp
Atos lembram sociedade escravocrata, diz manifesto
Um manifesto contra o trote publico na terça-feira (6), assinado por sete entidades e grupos e intitulado “Manifesto Público à Universidade de São Paulo: até quando a USP será conivente com a ‘tradição’?” chama a atenção para as características de submissão impostas durante essas práticas. O texto também afirma que há omissão da universidade.
“As cenas de calouros ajoelhados perante veteranos, comumente classificadas como ‘tradição’, materializam uma hierarquia de dominação e submissão incompatível com os valores de uma universidade pública e democrática. Tais práticas remontam a uma sociedade colonial e escravocrata que jamais deveria encontrar em um espaço de uma instituição de ensino comprometida com a ciência, a cidadania e os direitos humanos”, diz trecho do documento.
Também segundo o texto, “as violências se estendem para repúblicas, festas e espaços públicos de Piracicaba, com recorrentes relatos de assédio”.
Eles ainda chamam a atenção para a data conhecida como “libertação dos bixos”, realizada na semana de 13 de maio, data que é marco da abolição da escravidão no Brasil.
“[Nesta data] calouros são coagidos a atos vexatórios como sujar-se com borra de café e tinta preta, andar amarrados nas ruas da cidade e acompanhar veteranos munidos de chicotes. Esse tipo de performance pública reencena de forma grotesca a escravidão, desrespeitando a memória histórica e a dignidade humana”, descreve o manifesto.
O g1 pediu um posicionamento sobre o caso à Esalq/USP na manhã desta sexta-feira (9), mas não houve retorno até a última atualização desta reportagem.
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