
A violência na Primeira Infância, período que vai desde a gestação até os seis anos de idade, traz consequências mentais e fisiológicas negativas a longo prazo. Diversos estudos científicos comprovam que o estresse tóxico (quando a criança enfrenta dificuldades sem apoio), associado à violência prejudica de forma permanente o desenvolvimento cerebral e pode causar sérios impactos comportamentais.
O neuropediatra do Hospital Pequeno Príncipe, Anderson Nitsch, explica que as experiências vividas na Primeira Infância determinam a estrutura dos neurônios para o desenvolvimento de habilidades físicas, cognitivas e socioemocionais.
Os comportamentos de violência contra crianças e adolescentes são divididos em cinco tipos: físico, psicológico, sexual, institucional e negligência. O neuropediatra detalha que, entre os principais sintomas, estão a irritabilidade e as alterações repentinas de humor.
No ano passado, o Hospital Pequeno Príncipe, referência no atendimento infantojuvenil em situações de violência, atendeu 474 crianças na Primeira Infância. Conforme o levantamento, 65% delas foram acolhidas por suspeita de violência sexual. O especialista destaca que falar sobre o tema e investir em educação são alguns dos caminhos para reduzir os casos de abuso.
Entre 2014 e 2024, os atendimentos relacionados à violência no Hospital Pequeno Príncipe saltaram de 378 para 720 casos por ano. No total, mais de 10 mil crianças e adolescentes, de zero a 17 anos, passaram por avaliação médica na instituição com suspeita de abuso nas últimas duas décadas. Em 2024, 72% dos casos foram classificados como violência intrafamiliar — ou seja, agressões cometidas por membros da própria família, como pais, padrastos e irmãos, ou por pessoas próximas, como cuidadores.
A violência sexual foi o tipo mais frequente, representando 58% dos atendimentos. A maioria dos agressores identificados era do sexo masculino (67%), e as meninas representaram 71% das vítimas.
Reportagem: Mirian Villa