‘Canga da leitura’ e ‘geladeira literária’: com banimento do celular nas escolas, alunos passam a ler e a interagir mais


A proibição do uso de celulares nas escolas foi regulamentada pela lei federal 15.100, sancionada em janeiro. Após proibição de celular, alunos passaram a ler e a interagir mais com colegas
Com a proibição do uso do celular nas escolas desde o início do ano, alunos e professores estão percebendo uma mudança de comportamento. Saíram de cena as telas e entram no lugar os livros e as conversas com os colegas.
O recreio, agora, é com barulho, bola e até jogos de tabuleiro, bem diferente dos últimos anos.
“Ninguém fazia nada, falava nada. Mas agora tamo aí, né?”, fala o estudante do 8º ano, Almir Lemes, de 13 anos.
A mudança veio por meio de lei. A proibição do uso de celulares nas escolas foi regulamentada pela lei federal 15.100, sancionada em janeiro.
Em quatro meses de ano letivo, o dia a dia dos colégios mudou. O Liceu Franco-Brasileiro, em Laranjeiras, na Zona Sul do rio, Registrou movimentação 40% maior na biblioteca.
“A frequência dos alunos aumentou muito, os empréstimos triplicaram. A biblioteca agora é outra. Realmente, um organismo vivo”, fala a bibliotecária Márcia Lourenço.
“Eles vêm pra estudar, revisar matéria. Geralmente, troca de turno, eles vêm estudar. Agora tá maravilhoso”, acrescenta.
A princípio, os alunos não gostaram da proibição, mas reconhecem os benefícios.
“No início foi bem difícil a gente se adaptar, mas agora a gente tá conseguindo socializar mais, estudar, ter tempo pra estudar aqui”, fala a estudante Júlia Maia do 1º ano do ensino médio.
“Realmente atrapalhava os estudos. Eu sinto que agora tô bem mais focada porque ficava viciada. Na aula, qualquer coisinha eu pegava embaixo da mesa e ficava mexendo”, diz Karina de Souza, também do 1º ano do ensino médio.
“A gente tá conseguindo revisar mais, a gente tá conversando mais com outras pessoas e é uma coisa importante”, fala Valentina.
Sem celular, alunos usam o tempo livre no recreio para jogar
Reprodução/TV Globo
A Prefeitura do Rio foi uma das pioneiras no país a proibir o uso de celular em salas de aula, recreio e intervalos. Baniu, desde o início de 2024, os aparelhos nas escolas municipais.
Sem tecnologia, a criatividade entra em cena. No Ginásio Educacional Tecnológico Pedro Ernesto, na Lagoa, a geladeira velha é muito bem aproveitada.
“Qual é a ideia? Eles estarem aqui no pátio, no recreio, na educação física, esperando o responsável, às vezes chega mais cedo, senta e vai ler um livro. Não tem nada pra fazer, o que é que tem? Tem o livro”, explica a diretora da escola, Elizabeth Mendes Pereira.
Os livros agora estão ao alcance das mãos na geladeira literária.
“Eu acho bom isso. Porque, por exemplo, você se cansou de brincar de alguma coisa, você vai lá, tá todo cansado, pega o livro, se senta, lê”, fala a aluna Celeste Vogel, do 5º ano.
Em uma escola na Zona Norte do Rio, uma ideia para substituir o uso do celular no recreio ou nos tempos livres veio dos próprios alunos. Eles estendem um tapete no pátio e compartilham momentos de leitura, diversão e calma, porque escola é lugar de aprender e socializar.
“Eles começaram a trazer cangas de casa, que usam na praia, e aí faz uma ambientação mais gostosa, mais acolhedora”, conta a diretora-adjunta, Renata Mattos.
“A gente já vê muita diferença no comportamento dos alunos pelo fato de que antes a gente não conhecia aquele que estavam do lado porque a gente conhecia mais o telefone”, reconhece Kamily Luanny, do 8º ano.
Além de promover o aprendizado, a leitura contribui diretamente para o desenvolvimento do pensamento crítico — uma habilidade essencial na formação dos adultos que essas crianças se tornarão.
Alunos interagem mais após a proibição do celular
Reprodução/TV Globo
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