Em um registro raro, pesquisadores filmaram dezenas de tubarões-galha-preta na Baía de Ilha Grande, em Angra dos Reis, na Costa Verde do Rio de Janeiro. A espécie, considerada ameaçada de extinção, foi avistada nadando em grupo nesta semana, na Enseada de Piraquara de Fora.
Um estudo com a participação do projeto Tubarões da Baía da Ilha Grande e do Instituto Brasileiro de Conservação da Natureza (Ibracon) aponta que os picos de concentração ocorrem entre maio e agosto, com até 113 tubarões registrados em um único trecho da enseada. As descobertas foram publicadas no primeiro artigo científico sobre o tema, na revista Aquatic Conservation.
“Estamos diante de um evento raro e relevante para a conservação dos tubarões costeiros no Atlântico Sul. É importante destacar que a presença desses animais não representa risco para os banhistas”, explica Fernanda Rolim, pesquisadora da USP e autora do estudo.
De acordo com a pesquisa, uma das possíveis explicações para a concentração de tubarões na região é a busca por águas mais quentes durante os meses de outono e inverno. Como alguns dos indivíduos registrados eram fêmeas grávidas, os pesquisadores sugerem que essa variação térmica pode favorecer a presença de animais nesse estágio reprodutivo, já que temperaturas elevadas beneficiam o desenvolvimento embrionário e a digestão, podendo até reduzir o tempo de gestação. A abundância de presas, como tainhas, também pode contribuir para que o local funcione como uma área de alimentação.
“Temos observado um padrão consistente de retorno desses tubarões à mesma região, ano após ano. Isso indica que a enseada pode ter uma função ecológica importante e previsível, o que reforça seu potencial como área prioritária para a conservação”, destaca Leonardo Mitrano Neves, coordenador científico do projeto.
A importância ecológica do local também acaba de ser reconhecida internacionalmente. Na semana passada, a Enseada de Piraquara de Fora foi oficialmente incluída na lista de Áreas Importantes para Tubarões e Raias (Important Shark and Ray Areas – ISRAs), da União Internacional para a Conservação da Natureza (International Union for the Conservation of Nature – IUCN). Os autores do estudo também propõem a expansão da área protegida, especialmente durante o inverno.
“Trata-se de uma região de grande biodiversidade, onde o turismo de mergulho é forte e o ecossistema depende de espécies-chave, como os tubarões. Garantir a conservação desses predadores é essencial para manter o equilíbrio dos ambientes marinhos”, afirma Nathan Lagares, do Instituto Mar Urbano, que também integra o estudo.
Os tubarões-galha-preta se alimentam de peixes e são considerados inofensivos. Na fase adulta, podem atingir mais de dois metros de comprimento e pesar mais de 80 quilos. A espécie apresenta reprodução vivípara placentária, em que a mãe alimenta os embriões diretamente por meio da placenta. O período de gestação dura entre 10 e 12 meses, com o nascimento de 1 a 10 filhotes por vez.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Pesquisadores filmam dezenas de tubarões-galha-preta em Ilha Grande, no RJ no site CNN Brasil.