Em um ateliê no coração de Belém (PA), uma artesã dá vida a bebês que não choram, mas arrancam lágrimas. Cristina Ribeiro é professora e encontrou nas bonecas hiper-realistas conhecidas como bebês reborn não apenas uma fonte de renda, mas também um espaço de afeto, memória e arte.
Desde 2020, Cristina já confeccionou mais de 300 dessas bonecas, que simulam recém-nascidos com detalhes impressionantes — desde a marca do teste do pezinho até veias quase imperceptíveis sob a pele cuidadosamente pintada.
O trabalho meticuloso começa com kits de vinil siliconado, comprados crus, direto da fábrica. A paraense lava, seca, pinta em camadas, leva ao forno, verniza, implanta fio a fio o cabelinho — que, em alguns casos, é do próprio filho do cliente — e monta o corpo conforme o desejo de quem encomendou.
O resultado é um bebê que pode facilmente ser confundido com um de verdade, entregue com roupinhas, chupeta magnética, carteira de vacinação e até certidão de nascimento.
“Sempre fui apaixonada pelos bebês Reborn, mas na época era impossível ter um por causa do valor. Mais tarde, vi uma oportunidade de transformar esse sonho em negócio”, conta Cristina.
A decisão de investir em cursos presenciais e online, mesmo diante das dificuldades, resultou em uma produção artesanal rica em técnica, dedicação e emoção.
Nos últimos meses, os bebês reborn voltaram a chamar atenção nas redes sociais — e também nas plataformas de busca. Alguns desses conteúdos ultrapassam milhões de visualizações, ajudando a popularizar um mercado que antes era de nicho.
Bebês reborn: entenda o que são e por que chamam atenção
Mas o fascínio pelas bonecas vai além da estética e da internet: elas são utilizadas por doulas em cursos de cuidados com recém-nascidos, por profissionais da saúde mental, e até como companhia terapêutica para idosos.
Cristina já atendeu pedidos que marcaram sua trajetória. “Um pai com câncer terminal me pediu para fazer uma bebê parecida com a filha de 10 anos, como forma de eternizar aquele momento”, lembra.
Outro cliente encomendou uma boneca para a mãe, que vive com Alzheimer. Mesmo sem lembrar dos filhos, ela ainda brincava com bonecas — um sonho de infância que resistiu à doença.
Com preços que variam entre R$ 1.200 e R$ 3.500, os bebês Reborn da artesã têm maior saída em datas como o Natal e o Dia das Crianças. Cristina chega a faturar entre R$ 8 mil e R$ 20 mil nesses períodos.
A maior parte das vendas é feita por encomenda, mas ela também mantém algumas peças à pronta entrega. Já vendeu para o interior do estado, outros estados e até para o exterior.
“Eles encantam tanto crianças quanto adultos. Eu vejo uma arte rica em detalhes, feita com amor. E me emociono com cada história que recebo de volta”, diz.
Viralização dos bebês reborn
Segundo dados coletados pela CNN junto ao Google Trends, o interesse pelas bonecas hiper-realistas atingiu picos significativos no último ano. O produto se consolida como um fenômeno cultural e emocional.
Os bebês reborn se popularizaram no Brasil no início dos anos 2000 e, com o avanço das técnicas e materiais, tornaram-se cada vez mais parecidos com bebês reais.
Principais pesquisas sobre o assunto no Brasil:
- “Padre Fábio de Melo” lidera os termos relacionados ao tema. Em abril deste ano, o religioso visitou uma maternidade de bonecas nos Estados Unidos e “adotou” um bebê reborn com traços da síndrome de Down — uma homenagem à sua mãe, Ana Maria de Melo, falecida em 2021, aos 83 anos;
- “Parto bebê Reborn” também se destacou. A influenciadora Sweet Carol viralizou com um vídeo em que simula o nascimento de uma boneca em cenário realista. O conteúdo ultrapassou 100 milhões de visualizações no TikTok.
- “Encontro bebê Reborn” completa o pódio. Em abril de 2025, um evento reuniu colecionadores e apaixonados por essas bonecas em um espaço exclusivo para troca de experiências — e também viralizou.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Empreendedora que produz bebês reborn fatura até R$ 20 mil no Pará no site CNN Brasil.