O governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, considera utilizar polígrafos, também conhecidos como detectores de mentiras, em funcionários federais após o vazamento de informações não confidenciais de diversos departamentos governamentais.
A agência de notícias Reuters conversou com nove funcionários e ex-funcionários do governo federal sob a administração atual, que descreveram um esforço concentrado para expor vazamentos de todos os tipos.
As investigações têm um propósito duplo: tapar vazamentos e, ao mesmo tempo, demitir funcionários federais considerados desleais à agenda política do republicano, informaram quatro funcionários do governo.
“O presidente Trump deixou claro que não tolerará que funcionários do governo federal vazem informações para a mídia falsa. Isso é senso comum”, declarou a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, em um comunicado à Reuters.
Ela continuou afirmando que, “funcionários do governo que gastam seu tempo vazando informações para a mídia em vez de fazer o trabalho que os contribuintes americanos esperam devem ser responsabilizados.”
Segundo relatos de ao menos seis servidores, em diversas agências governamentais — incluindo o Departamento de Segurança Interna, o Departamento de Justiça e o Departamento de Defesa — gerentes disseram aos funcionários que eles teriam que se submeter a testes de polígrafo, após informações não confidenciais serem divulgadas na mídia.
Os resultados do polígrafo raramente são usados como prova em tribunais dos Estados Unidos devido a dúvidas sobre sua confiabilidade.
No Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS na sigla em inglês), os gerentes informaram aos funcionários que eles precisavam se submeter aos testes — não necessariamente porque houve vazamentos, mas por suspeitas de que eles pudessem estar falando com a imprensa, segundo com quatro servidores do governo.
Os trabalhadores do DHS também foram avisados de que poderiam ser demitidos se não fizessem os testes, relataram as fontes.

Participantes submetidos ao polígrafo
Após o vazamento de detalhes de uma reunião do DHS em março, envolvendo a secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, e o então administrador interino da Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA na sigla em inglês), Cameron Hamilton, os gerentes do departamento solicitaram testes de polígrafo em pelo menos quatro participantes da reunião.
Os participantes, incluindo Hamilton, foram testados na sede da Administração de Segurança dos Transportes (TSA), no estado da Virgínia.
Um funcionário da FEMA na divisão de relações-públicas foi afastado do trabalho após um teste de polígrafo não ter dado positivo, declararam dois ex-servidores da agência, embora não esteja claro se o teste estava vinculado à reunião.
Contatado pela Reuters, o funcionário afastado do trabalho não quis comentar.
Quando solicitado a comentar, o departamento afirmou que não se desculpava por sua iniciativa de identificar os vazadores.
“Somos céticos quanto à sua posição, mandato, nomeação política ou status como funcionário público de carreira — rastrearemos os vazadores e os processaremos com todo o rigor da lei”, disse um porta-voz do DHS à Reuters.
Informação vazada
Um dos casos mais marcantes de vazamento, foi quando surgiram na mídia relatos de que o Escritório de Pessoal do governo federal planejava contratar um motorista para transportar diretores da agência.
As autoridades rapidamente iniciaram uma investigação para descobrir quem estava vazando informações para a imprensa, conforme três pessoas familiarizadas com o assunto.
Contratar um motorista no Escritório de Gestão de Pessoal dificilmente se qualificava como informação confidencial ou ultrassecreta: um funcionário da agência brincou com um colega em uma mensagem vista pela Reuters que a informação precisaria ser tornada pública eventualmente para anunciar a vaga.
Mas os planos de contratar um motorista — relatados pela primeira vez pela agência Reuters — provaram ser constrangedores para o escritório e para a Casa Branca em um momento em que a agência liderava os esforços do Departamento de Eficiência Governamental para reduzir o quadro de funcionários federal, demitindo centenas de seus próprios funcionários.
O incidente foi um dos primeiros indícios da determinação do presidente Donald Trump em reprimir vazamentos para a imprensa, mesmo aqueles envolvendo informações não confidenciais ou o funcionamento diário do governo.

Geralmente, não é crime vazar informações — a menos que sejam sigilosas ou de outra forma protegidas, incluindo vazamentos de segurança nacional que podem colocar pessoas em perigo.
Alguns vazamentos — incluindo os de informações não sigilosas — podem ser de interesse público, afirmam historiadores e especialistas em política. Mas as informações também podem frustrar a agenda política de um presidente e tornar uma administração menos eficaz, acrescentaram.
“Nem todos os vazamentos são úteis para a paz, o bom governo e a liberdade constitucional”, afirmou o historiador Timothy Naftali, ex-diretor da Biblioteca Presidencial Nixon, na Califórnia.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Governo Trump considera usar detector de mentiras em funcionários federais no site CNN Brasil.