Habitantes de Gaza veem dificuldades continuando com nova liderança do Hamas

A escolha de um líder político linha-dura pelo Hamas pouco confortou os habitantes de Gaza que estão deslocados e famintos, procurando uma saída da crise após quase 10 meses de guerra nesta quarta-feira (7).

O grupo militante palestino nomeou Yahya Sinwar para liderar seu gabinete político na terça-feira (6), substituindo Ismail Haniyeh, que foi morto em Teerã em um ataque na semana passada. O Irã culpou Israel, que não confirmou nem negou nenhuma responsabilidade.

A medida consolida o poder dentro da organização liderada por Sinwar, que até esta semana era o chefe do Hamas em Gaza.

Sinwar, um militante que passou muitos anos em uma prisão israelense, é visto menos comprometido nas relações com Israel e mais próximo do Irã do que o seu antecessor. Ele é acusado por Israel de ser o mentor do ataque de 7 de outubro e acredita-se que esteja escondido em um túnel em Gaza.

“Estou surpreso com este movimento”, declarou Hatem Mohammed, de 47 anos e funcionário público aposentado da Autoridade Palestina em Gaza, dirigida pelo Fatah, um grupo rival do Hamas.

“É um movimento precipitado, irracional e reacionário em resposta ao assassinato de Haniyeh. Eles (Hamas) sabem, internamente, que ele não está apto para o trabalho. Ele é uma pessoa emotiva e precipitada”.

A situação em Gaza, disse ele à CNN, precisa de um líder que “conhece política” como “Haniyeh, (o ex-líder político Khaled) Meshaal ou (membro sênior do Hamas) Mousa Abu Marzook”.

“Esta nomeação envia uma mensagem de que a guerra continuará. Eu não sei o que eles estavam pensando”, opinou Mohammed, que disse ter perdido cinco membros da sua família na guerra e sofre de infecção provocada por intoxicação alimentar.

A guerra de Israel em Gaza matou mais de 39 mil pessoas no enclave, segundo as autoridades palestinas.

Enquanto isso, Sinwar é considerado, pelas autoridades americanas, escondido no subsolo, possivelmente cercado por reféns israelenses como escudos humanos.

A nomeação de Sinwar lançou incertezas sobre o futuro das negociações de cessar-fogo com Israel, que também resultariam na libertação de reféns israelenses e prisioneiros palestinos.

Sinwar é considerado mais linha-dura menos vulnerável à pressão das nações árabes do que Haniyeh, que viveu no Qatar.

‘A morte é a mesma’

“Não nos importamos com quem eles nomeiam (como líder). Os nomes são muitos, mas a morte é a mesma. Tudo o que nos trouxeram foi destruição”, destacou Ismail Jalal, pai de dois filhos no norte de Gaza, que enfrenta dificuldades em encontrar comida para os seus filhos doentes.

“Tudo o que pedimos é um cessar-fogo. Alguém que será capaz de chegar a um acordo e salvar o que resta do nosso povo e das crianças que morrem diariamente… alguém que possa praticar o autocontrole, sem palavras vazias”., Jalal acrescentou.

Abu Fadi Rafeeq, de Beit Lahia, norte de Gaza, e deslocado em Khan Younis, disse que a decisão de nomear Sinwar foi “imprudente”. O novo líder é “teimoso” e “deixará toda a população morrer só para poder cumprir a sua palavra”, afirmou.

“Ele não sofre como eu. Ele não passa fome como eu. Ele não perdeu a família inteira como eu”, compartilhou Rafeeq à CNN, acrescentando que perdeu 38 integrantes de sua família, incluindo seus pais, suas duas irmãs e seus filhos, e duas das esposas de seus irmãos.

“Eu perdi tudo. Minha casa, minha alma e minha família”, continuou.

Israel lançou a guerra em retaliação ao ataque de militantes liderados pelo Hamas a Israel em 7 de Outubro, que matou 1200 pessoas e mais de 250 foram raptadas, segundo autoridades israelenses.

Apesar de alguns habitantes de Gaza estarem descontentes com a escolha do novo líder político do Hamas, há indicações de que o apoio à organização continua significativo no enclave.

As eleições em Gaza enfrentam múltiplos desafios, incluindo o deslocamento da população, a relutância das pessoas em criticar publicamente o Hamas e os riscos para a segurança pessoal em tempos de guerra.

Mas um inquérito realizado pelo Centro Palestino para Pesquisas Políticas e de Estudos entre 26 de maio e 1 de junho na Cisjordânia e em Gaza mostrou que apenas 8% dos habitantes de Gaza culpam o Hamas pelo seu sofrimento, com dois terços culpando Israel.

Dos entrevistados de Gaza, 46% apoiaram o retorno do Hamas ao poder no enclave após a guerra. A satisfação com o desempenho do Hamas ficou em 64% e a de Sinwar em 50%.

“Ele é a melhor escolha para liderar a próxima fase”, afirmou Abu Ali, um ferido de Gaza que alegou ser um combatente do Hamas. “Ele é o único que passou e viveu esta provação”, ele acrescentou.

Abbas Al Lawati, da CNN, contribuiu para esta matéria.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Habitantes de Gaza veem dificuldades continuando com nova liderança do Hamas no site CNN Brasil.

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