As famílias dos reféns israelenses mantidos em Gaza criticaram o novo chefe indicado da agência de segurança interna de Israel, a Shin Bet, após ele supostamente expressar oposição a acordos para a libertação dos reféns.
De acordo com o Canal 12 de Israel, o Major-General David Zini afirmou em reuniões do estado-maior das Forças de Defesa de Israel (IDF): “Sou contra acordos de reféns. Esta é uma guerra eterna.” O relatório não informa a data exata dos comentários de Zini. O Canal 12 afirma que essa foi uma posição que ele repetiu frequentemente ao longo do último ano.
“Se o relatório for preciso, essas são declarações chocantes, dignas de condenação inequívoca, especialmente vindo de alguém que deve ter o destino dos reféns em suas mãos”, disse o Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos em um comunicado na sexta-feira (23).
Na sua posição atual como chefe do Comando de Treinamento e do Corpo do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel (IDF), Zini tem pouca influência nas negociações de reféns, e suas crenças pessoais são em grande parte irrelevantes para o processo. Mas, se confirmado como chefe do Shin Bet, Zini poderia ter um papel significativo, considerando a participação da agência em rodadas anteriores de negociações indiretas com o Hamas.
“Nomear um chefe do Shin Bet que prioriza a guerra (do primeiro-ministro Benjamin) Netanyahu em detrimento do retorno dos reféns é um pecado dentro de um crime e uma injustiça contra todo o povo de Israel – um golpe no valor da solidariedade e no dever sagrado de não deixar ninguém para trás”, afirmou o fórum.
Questionado sobre o assunto, as Forças de Defesa de Israel (IDF) disseram que “não comenta o conteúdo discutido nas deliberações do Estado-Maior”.
A carreira de Zini nas forças armadas tem sido principalmente como oficial de campo, com pouca experiência em inteligência, que é um aspecto fundamental do Shin Bet, oficialmente chamado Agência de Segurança de Israel.
Ruby Chen, pai do soldado israelense-americano Itay Chen, cujo corpo ainda está retido em Gaza, disse nas redes sociais que “Netanyahu nomeia para cargos-chave pessoas que não têm as habilidades relevantes para controlar o sistema.”
Netanyahu anunciou a indicação de Zini na quinta-feira (22), um dia depois de o Supremo Tribunal de Israel decidir que ele tinha conflito de interesses ao demitir o chefe anterior do Shin Bet, Ronen Bar, e que não poderia nomear um substituto.
Na sua decisão, o tribunal afirmou que a demissão “foi feita quando o Primeiro-Ministro tinha conflito de interesses devido às investigações envolvendo seus associados; que a decisão foi tomada sem base factual; e sem a realização de uma audiência adequada para o chefe do Shin Bet.”
Na quinta-feira, o Procurador-Geral declarou: “O Primeiro-Ministro agiu contra a orientação legal, há uma séria preocupação de que ele tenha agido estando em conflito de interesses, e o processo de nomeação é falho.”
Mesmo assim, Netanyahu seguiu com a nomeação. O Gabinete do Primeiro-Ministro emitiu um comunicado na sexta-feira (23) defendendo a decisão: “Esta é uma necessidade urgente de segurança, e qualquer atraso prejudica a segurança do Estado e a segurança dos nossos soldados,” afirmou. Netanyahu disse ainda que conhece Zini há anos.
A escolha de Zini como general da ativa também foi inédita, levando o Chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel, Tenente-General Eyal Zamir, a emitir uma declaração dizendo que Zini se aposentará “nos próximos dias” antes de assumir o cargo civil no Shin Bet.
A nomeação parece ter surpreendido o principal general do país, que ressaltou que “qualquer comunicação feita por soldados das IDF com o escalão político deve ser aprovada pelo Chefe do Estado-Maior.”