As autoridades policiais da Coreia do Norte detiveram três pessoas “para investigação legal” depois que o líder do país, Kim Jong-un, prometeu punir os responsáveis pelo acidente de danificou severamente o novo navio de guerra do país.
Entre os detidos está o engenheiro-chefe do estaleiro, informou a Agência Central de Notícias da Coreia (KCNA na sigla em inglês) neste domingo (25), citando o grupo responsável pela investigação do lançamento fracassado.
O acidente ocorreu durante a cerimônia de lançamento da embarcação, com a presença de Kim, que testemunhou o ocorrido, afirmando que isso envergonhou o prestígio da nação, informou a mídia estatal.
Em uma rara admissão de falha, a KCNA informou que um mau funcionamento no mecanismo de lançamento fez com que a popa do contratorpedeiro de cinco mil toneladas deslizasse prematuramente para a água na quarta-feira (21).
O acidente esmagou partes do casco e deixou a proa encalhada na plataforma.
Kim chamou a falha de “um ato criminoso” e atribuiu ao “absoluto descuido” e à “irresponsabilidade” de diversas instituições estatais, incluindo o Departamento da Indústria de Munições, a Universidade de Tecnologia Kim Chaek e o escritório central de projetos de navios.
Imagens de satélite mostraram a embarcação tombada, a popa na água e a proa ainda em terra. A mídia estatal não divulgou imediatamente as imagens do acidente.
Analistas navais disseram que os danos sofridos por uma embarcação em caso de mau funcionamento do lançamento poderiam ser “catastróficos”.
“Se o navio não se mover em conjunto, as tensões destruirão o casco”, explicou Sal Mercogliano, professor da Universidade Campbell, na Carolina do Norte, e especialista marítimo, à CNN.
Busca por modernização
O analista naval Carl Schuster, no Havaí, após analisar o relatório da KCNA, afirmou que acredita que as tensões “deformariam o casco, induziriam rachaduras e (possivelmente) quebrariam a quilha, dependendo de onde a maior tensão incidisse”.
O fracasso no lançamento representa um retrocesso para o que os analistas consideram o esforço de modernização naval mais ambicioso da Coreia do Norte em décadas.
O navio seria a segunda grande embarcação de superfície da Marinha a ser revelado em rápida sucessão pela Coreia do Norte.
Em abril, Kim revelou o Choe Hyon, o primeiro contratorpedeiro recém-construído do país em décadas, e declarou sua ambição de construir mais contratorpedeiros e diversos cruzadores e fragatas.
O Choe Hyon, descrito como um navio de guerra de “nova geração”, foi apresentado com grande alarde, com a mídia estatal afirmando que ele fortaleceria a prontidão naval em meio ao que Pyongyang chama de ameaças crescentes dos Estados Unidos e da Coreia do Sul.
Analistas de defesa ocidentais observaram que o Choe Hyon marcou um distanciamento dos antigos navios da era soviética que dominavam a Marinha Popular da Coreia.
Embora os detalhes ainda sejam escassos, imagens de satélite e filmagens sugeriram que o Choe Hyon poderia compartilhar elementos de design com navios semelhantes da Marinha russa.
Lee, o porta-voz militar sul-coreano, declarou que se acreditava que o navio danificado na quarta-feira (21) fosse equipado como o Choe Hyon.
Kim exige conserto rápido
O ocorrido de quarta-feira pode lançar dúvidas sobre a capacidade do país de expandir sua marinha. Kim afirmou que os danos seriam resolvidos não somente por meio de reparos técnicos, mas também por meio de responsabilização política.
Ele ordenou a restauração do contratorpedeiro antes da sessão plenária do Partido dos Trabalhadores, no final de junho, classificando como uma questão de honra nacional.
A KCNA informou na sexta-feira (23) que os danos ao navio de guerra foram menores do que a estimativa inicial da Coreia do Norte, afirmando que não havia buracos no casco, embora houvesse arranhões a estibordo.
A agência também informou que “uma certa quantidade de água do mar invadiu a popa”.
Os reparos podem levar cerca de 10 dias, segundo a reportagem.
No entanto, considerando o potencial grau de dano, analistas disseram que seria quase impossível cumprir o prazo de Kim para reparos, estabelecido no final de junho.
O navio “não entrará em serviço com a Marinha Popular da Coreia (KPN) tão cedo e pode acabar se revelando uma perda completa”, escreveram especialistas do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em seu blog Beyond Parallel, juntamente com fotos de satélite da embarcação naufragada.
O almirante aposentado sul-coreano Kim Duk-ki disse à CNN que a Coreia do Norte parecia não ter a infraestrutura necessária — uma doca seca — para lançar um contratorpedeiro de cinco mil toneladas, muito menos para recuperá-lo e repará-lo.
Uma doca seca é uma bacia que pode ser preenchida com água para flutuar um navio ou drenada para construir ou reparar um.
“Doca seca é uma instalação cara, e a Coreia do Norte provavelmente não tem uma… É fácil consertar um navio em doca seca depois de drenar a água, mas eles não têm a instalação”,
informou o almirante aposentado, acrescentando que a restauração pode levar de quatro a cinco meses.
O parlamentar e analista de defesa sul-coreano Yu Yong-weon afirmou que apressar o lançamento do navio provavelmente levou aos problemas encontrados na quarta-feira (21) e alertou que reparos precipitados podem causar mais problemas no futuro.
Schuster explicou que os reparos, se possíveis, provavelmente levarão meses, em vez de semanas.
Um grupo de investigação de acidentes foi formado, e altos funcionários podem enfrentar censura na próxima reunião do Comitê Central do Partido, informou a KCNA.
A Marinha da Coreia do Norte é frequentemente vista como o ramo menos desenvolvido de suas Forças Armadas.
O ritmo acelerado de desenvolvimento de contratorpedeiros surpreendeu alguns observadores externos, levantando questões sobre o quanto da tecnologia é funcional ou simbólica.
Mercogliano, o professor americano, disse que não está claro se os novos navios de guerra de Pyongyang têm motores, já que a mídia estatal não forneceu imagens deles em operação.