Em março, o senador Plínio Valério (PSDB-AM) já havia dito que sentia vontade de “enforcar” a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Nesta terça-feira (27), um bate-boca entre Valério e Marina na Comissão de Infraestrutura do Senado levou a ministra a se retirar de sessão para a qual havia sido convidada.
Minutos antes, Marina já havia se desentendido com o presidente do colegiado, Marcos Rogério (PL-RN), após ele ironizar a “educação” da ministra enquanto ela respondia ao senador Omar Aziz (PSD-AM).
Na sequência, fazendo uso da palavra, Valério disse: “ministra, que bom reencontrá-la. E ao olhar para a senhora, estou vendo uma ministra. Não estou falando com a mulher. Estou falando com a ministra.”
Com o microfone ainda desligado, Marina disse que era “as duas coisas”: mulher e ministra.
Logo, Plínio Valério declarou: “porque a mulher merece respeito, a ministra, não”; então, deu-se início à discussão entre ambos.
“O senhor que diz que queria me enforcar. Foi o senhor que disse que queria me enforcar”, relembrou Marina.
Contexto
A fala do senador recordada por Marina ocorreu durante evento da Fecomércio do Amazonas.
Valério, na ocasião, disse sentir vontade de “enforcar” Marina ao relembrar a participação da ministra na CPI das ONGs.
Em nota após a repercussão da fala, Valério disse que usou uma “figura de linguagem” ao falar em “enforcar” Marina.
“Para expressar meu sentimento e indignação ao ouvir a ministra Marina Silva dizer na CPI das ONGs que não se pode construir uma estrada apenas para a população passear de carro”, justificou.
Na época, Marina retrucou Valério dizendo que “só os psicopatas são capazes de fazer isso” — no caso, dizer que gostaria de enforcá-la. Já o senador, no plenário do Senado, negou se arrepender da conduta.
Comissão
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) citada pelo senador investigava a atuação de organizações não-governamentais (ONGs) na Amazônia e a utilização de recursos públicos e advindos do exterior por estas entidades.
Quem propôs e presidiu a comissão, que transcorreu ao longo de 2023, foi o próprio senador. Já a relatoria do colegiado ficou com Marcio Bittar (União Brasil-AC).
No relatório final da comissão, Bittar chegou a apontar que havia uma relação de “promiscuidade” entre Marina e ONGs que atuam na região.
“No evento (na Fecomércio), falava sobre os desafios do mandato, especialmente as dificuldades para a pavimentação da BR-319, impedida pela ministra”, dizia a nota emitida pelo senador em março.
A BR-319 liga Manaus a Porto Velho. As obras na rodovia estão travadas em meio a problemas com licenciamentos, e o senador acusa órgãos ambientais e ONGs de agirem contra o empreendimento.
Quem é Plínio Valério
Plínio Valério é senador desde 2019. Antes, havia sido vereador em Manaus e ocupado uma das vagas de deputado federal por Amazonas advindo da suplência, por alguns meses em 2013.
A questão da BR-319 é tanto uma das principais bandeiras do mandato de Valério, como o principal ponto de embate entre o senador e a ministra do Meio Ambiente.
Recorrentemente, Valério se utiliza de discursos no Senado para reiterar críticas à ministra.
Em discurso no final de abril em sessão no Senado, Valério disse: “enquanto ela (Marina Silva) destratar os amazonenses, enquanto ela ironizar os amazonenses e gozar deles na cara, eu vou ter que repudiar aqui sempre.”