No 10º dia do julgamento do rapper Sean “Diddy” Combs, 55, nesta terça-feira (27), acusado por crime organizado e tráfico sexual, o júri ouviu apenas uma testemunha: Capricorn Clark, ex-funcionária de Combs.
A 17ª pessoa a depor no processo comentou sobre as ameaças que sofreu trabalhando com o magnata da indústria musical, relembrou o episódio em que ele foi armado até a casa de Kid Cudi — músico que vivia um relacionamento com a ex-esposa de Diddy, Cassie Ventura — e sua dificuldade em conseguir emprego após ser demitida pelo rapper.
Veja os destaques do depoimento de Capricorn Clark
- Ameaçada no primeiro dia de trabalho: Clark relatou que Combs a levou ao Central Park, em Nova York, com seu segurança e mencionou seu antigo emprego na Death Row Records, dizendo: “ele não sabia que eu tinha algo a ver com o Suge Knight e, se algo acontecesse, ele teria que me matar”, testemunhou, acrescentando que poderia ter sido mais transparente sobre seu histórico profissional.
- Teste do polígrafo: Clark, que tinha a função de guardar joias de diamante emprestadas a Combs, foi acusada de roubá-las, segundo ela. Ela contou que percebeu que a bolsa com as preciosidades desapareceu antes de embarcarem para Miami, partindo de Nova York. O rapper seguiu para Miami, enquanto a funcionária foi deixada em Nova York. Um segurança a buscou em sua casa e a levou para uma sala comercial vazia e trancada com outro homem que aplicou um teste do polígrafo. Clark afirmou que foi levada para o mesmo prédio vazio durante cinco dias seguidos para ser interrogada com o instrumento. Segundo ela, o homem disse: “se você falhar no teste, vão te jogar no East River.” Ela afirmou que não queria se submeter ao teste e se sentia “apavorada”, mas achou que aquela era a única forma de provar sua inocência. Após cinco dias, Clark pôde voltar ao trabalho.
- Ultrapassando limites: a depoente contou que, no verão de 2006, disse a um chef de cozinha que odiava seu emprego. O cozinheiro contou isso a Combs, que a confrontou, empurrando-a e exigindo que ela saísse de sua casa. Clark relatou que ele a empurrou por cerca de 30 metros, usando aproximadamente 75% de sua força. Um segurança do rapper interveio, pedindo que ele parasse e orientando-a a fazer as malas. Ela disse que deixou o emprego após esse episódio porque “isso ultrapassou meu limite”. Clark depois voltou a trabalhar com o magnata do hip-hop como diretora de marketing da linha feminina da “Sean John”, mas não diretamente sob sua supervisão, porque não queria “estar tão próxima assim da órbita pessoal dele”.
- Relação com Cassie Ventura: em 2011, Clark passou a gerenciar Ventura como diretora criativa dela, contando que Combs tinha aprovação final sobre tudo, incluindo a aparência física da cantora e todas as oportunidades que ela poderia ou não aceitar. Clark, Ventura e Kid Cudi costumavam sair juntos às vezes.
- O incidente com Kid Cudi: em dezembro de 2011, pela primeira vez, Diddy apareceu na casa da funcionária em Los Angeles com uma arma, visivelmente furioso, questionando por que ela não o havia informado sobre o relacionamento entre Kid Cudi e Ventura, segundo o depoimento. O rapper exigiu que Clark o acompanhasse, dizendo: “se arruma, vamos matar ele.” Quando ela tentou recusar, ele respondeu: “não tô nem aí pro que você quer fazer, vai se arrumar.” Os dois seguiram para a casa de Kid Cudi. A assistente afirmou que a arma permaneceu no colo de Combs durante o trajeto, enquanto um segurança dirigia. Ele saiu com o funcionário e entrou na casa, enquanto Clark ficou no carro e ligou para Ventura de um celular descartável, contando o plano do patrão e alertando que Kid Cudi não deveria confrontá-lo.
- Mudança na relação com Cassie Ventura: Clark afirmou que ela e Cassie começaram a ter alguns problemas por volta de 2008, dizendo: “Ela ficou um pouco mais ousada como namorada dele, quanto mais tempo o relacionamento durava” e que Ventura “deixou de ser uma modelo doce para se tornar uma namorada combativa”. A ex-assistente disse que as apresentações ao vivo d cantora não eram boas, embora acreditasse que ela tinha talento. Quando Clark voltou a trabalhar com a namorada do rapper em 2016, afirmou que “o uso de drogas de Ventura a impedia de aproveitar as oportunidades que estavam diante de nós”.
- Acesso a profissionais da indústria: segundo Clark, Ventura teve acesso a profissionais de alto nível da indústria — produtores, coreógrafos e estilistas — que “criam estrelas”. Ela afirmou que Ventura recebeu mais atenção e recursos do que outros artistas contratados pela Bad Boy, especialmente no início da carreira, entre 2007 e 2012. Clark acrescentou que, por volta de 2012, novos artistas como Machine Gun Kelly e French Montana também estavam recebendo muita atenção da gravadora, mas que Cassie parecia continuar recebendo o mesmo nível de atenção. Mesmo quando Combs “se afastou um pouco” entre 2016 e 2017, a funcionária acreditava que a namorada do rapper ainda tinha o mesmo apoio.
- Tintura de cabelo: enquanto atuava como diretora criativa de Ventura em 2016, Clark ajudou a criar um novo visual para ela apresentar no MTV Video Music Awards daquele ano, o que envolveu pintar o cabelo de amarelo neon. A assistente afirmou que Ventura gostou da ideia e confirmou que não foi forçada a pintar o cabelo contra a vontade.
- Pedido de perdão: Clark chorou ao relembrar e ler e-mails que enviou a Combs em 2014 e 2015 pedindo perdão. Mais cedo, ela havia testemunhado que, embora tenha sido oficialmente demitida em 2012 por tirar férias, acreditava que Diddy a demitiu por estar irritado com o fato de ela saber sobre o relacionamento entre Ventura e Kid Cudi. Clark afirmou que se sentia uma “protetora” do rapper e que, sem ela na equipe, ele não tinha ninguém cuidando dele.
- Dificuldade para conseguir trabalho: Em reinterrogatório, Clark disse que o acordo firmado com Combs após sua demissão em 2012 incluía cláusulas de não difamação mútua e a promessa de que Combs assinaria uma carta de recomendação para ela — o que nunca ocorreu. A ex-assistente declarou que, após isso, não conseguiu mais emprego na indústria. O juiz retirou essa parte do depoimento dos autos após sustentar uma objeção da defesa. Clark disse que continuou procurando emprego até 2015, mas não conseguiu mais oportunidades e se sentia “boicotada” (a objeção da defesa também foi sustentada nessa parte). Sem conseguir trabalho estável na indústria do entretenimento, ela afirmou que começou a atuar como consultora e concluiu: “Nesse nível de negócios, ele tinha todo o poder sobre mim.”
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