
Ex-ministro de Bolsonaro é acusado de apoiar tentativas de subverter o resultado eleitoral. Na sexta-feira, o STF começa a ouvir as primeiras testemunhas exclusivamente indicadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Testemunhas para a defesa de Andreson Torres começam a prestar depoimento no STF
A primeira turma do STF começou a ouvir as defesas indicadas por Anderson Torres, ex-ministro da justiça do governo Bolsonaro, no julgamento sobre a tentativa de golpe de Estado.
No processo, o ex-ministro é acusado de dar suporte jurídico e de mobilizar as forças de segurança a favor do grupo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Foi na casa de Torres que a Polícia Federal apreendeu a chamada “minuta do golpe”.
Ainda segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), Torres determinou que a Polícia Rodoviária Federal (PRF), vinculada ao Ministério da Justiça, realizasse operações no Nordeste durante o segundo turno das eleições presidenciais para dificultar o deslocamento dos eleitores onde Luiz Inácio Lula da Silva liderava as pesquisas.
Após o governo Bolsonaro, Anderson Torres assumiu o cargo de secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.
Em 8 de janeiro, durante as invasões às sedes dos três poderes, Torres estava de férias nos Estados Unidos.
Depoimentos no STF
O primeiro a depor foi o ex-secretário-adjunto de Operações Integradas do Ministério da Justiça, Braulio do Carmo Vieira. Os depoimentos não puderam ser gravados, mas os jornalistas acompanharam e fizeram anotações. Carmo Vieira disse que Torres foi convocado pelo então presidente Bolsonaro para uma “live” em que questionou as urnas eletrônicas, em julho de 2021.
DEFESA – Ele foi convocado para essa live? Convidado?
BRAULIO – Houve convocação do presidente.
DEFESA – Após a convocação, o ministro Anderson chegou a conversar com o senhor? Demonstrou desconforto? Conversaram sobre esse tema antes de comparecer a live?
BRAULIO – Existiam diversas reuniões, atuações do ministro Anderson, interações com o corpo de assessores. Houve sim desconforto pelo desconhecimento técnico do tema.
O ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal Djairlon Henrique Moura afirmou que houve um pedido de Anderson Torres para que as forças de segurança garantissem o máximo de efetivo durante o segundo turno das eleições para todo o Brasil, sem direcionamento.
Alexandre de Moraes confrontou a resposta de Djairlon com o depoimento de outra testemunha, colhido na semana passada. Na ocasião, Adiel Alcântara disse que Djairlon pediu um levantamento de ônibus somente com destino ao Nordeste antes do segundo turno.
Na sequência, Djairlon confirmou a informação. Mas, como outras testemunhas desta terça-feira, disse que não era para dificultar o deslocamento das pessoas e sim reforçar o combate a crimes eleitorais.
“Foi um pedido do então ministro Anderson Torres para que nos empenhássemos o máximo possível para realizar o policiamento durante as eleições, evitar crimes eleitorais, o transporte de valores, reforçar o máximo de efetivo naquela ocasião. Em mais de 60% dos veículos, não demorou mais de 15 minutos”, disse Djairlon.
A Primeira Turma do STF também ouviu o ex-diretor adjunto da Agência Brasileira de Inteligência — Saulo Moura da Cunha. Ele disse que a Abin emitiu vários alertas sobre o dia 8.
“Esse alerta foi emitido para o Sistema Brasileiro de Inteligência. Tivemos no que chama estado quase de certeza às nove da manhã do dia 8, quando é feita assembleia e decide que a manifestação teria como rumo a Esplanada”, afirma Saulo Moura da Cunha.
Até agora, 38 pessoas já prestaram depoimento.
Na sexta-feira, o STF começa a ouvir as primeiras testemunhas exclusivamente indicadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Os depoimentos das testemunhas de defesa do chamado núcleo crucial acabam na segunda-feira, 2 de junho.
STF começa a ouvir defesas do ex-ministro da Justiça Anderson Torres
Reprodução/TV Globo
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