
Quase metade dos jovens prefere um mundo sem internet, segundo uma pesquisa britânica. Isso também se reflete em uma nova tendência: encontros onde os participantes deixam o smartphone em casa. Offline Club, um grupo holandês para quem deseja fazer um detox das redes sociais
@OfflineClub/Instagram
O Offline Club tem quase 530 mil seguidores no Instagram. Parece uma ironia, já que o objetivo da entidade é justamente promover uma pausa consciente das redes sociais, inclusive do Instagram.
Na apresentação dos três fundadores do clube, os jovens holandeses Jordy, Ilya e Valentijn dizem ser “estranho” que eles próprios tenham uma conta na plataforma. Segundo o trio, o propósito do Offline Club é “trazer de volta humanidade à sociedade, atualmente isolada e fixada na tela”.
Há cerca de um ano, eles organizam encontros com pessoas que pensam da mesma forma, onde smartphones e laptops devem ser deixados de lado.
“Você está pronto para abandonar seu telefone?”, diz uma postagem. E cada vez mais pessoas do Offline Club estão dispostas a desligar seus celulares por algumas horas – em alguns casos, por vários dias.
Nos encontros, em vez de ficarem olhando para seus smartphones o tempo todo, eles leem, jogam, fazem trabalhos manuais ou simplesmente relaxam. Quase como na época em que não havia smartphones.
A ideia vinda da Holanda se espalhou pelo mundo; Londres, Paris, Milão e Copenhague seguiram a tendência. A Alemanha também já teve os primeiros encontros do tipo.
Iniciativas semelhantes em restaurantes e clubes, onde os convidados são solicitados a deixar seus celulares em casa, estão se multiplicando.
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Sempre online
Os Offline Clubs têm alta receptividade. Os jovens, especialmente, têm dificuldades em se desligar, apesar de todos os recursos capazes de limitar o tempo que eles passam na internet.
Mesmo o retorno do telefone celular básico sem internet, comemorado nas redes sociais, não conseguiu substituir os smartphones.
De acordo com dados do final de 2024 da Bitkom, associação alemã do setor, jovens entre 16 e 29 anos declaram passar mais de três horas por dia nos smartphones. Eles têm o maior tempo de uso de todas as faixas etárias.
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Um desejo: menos internet
Ainda assim, quase 70% dos jovens entre 16 e 21 anos se sentem mal quando passam tempo na internet, segundo uma pesquisa recente da organização britânica British Standards Institution.
Metade deles é a favor de um “toque de recolher digital”, que restringiria o acesso a determinados aplicativos e sites após as 22h. E 46% dizem que prefeririam ser jovens em um mundo sem internet. Para a sondagem, foram entrevistados 1.293 jovens.
Os resultados estão de acordo com outras pesquisas, como a do instituto americano Harris Polls realizada no final de 2024. Nela, muitos jovens expressaram o desejo de que o TikTok, o Instagram ou o X nunca tivessem sido inventados.
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As ações dos governos
O resultado também pode inspirar alguns políticos, mesmo que seus esforços pareçam tímidos diante das demandas de alguns jovens.
Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, o ministro da Tecnologia do Reino Unido, Peter Kyle, indicou considerar a criação de toques de recolher obrigatórios.
A Noruega quer aumentar o limite de idade para o uso das mídias sociais de 13 para 15 anos. A Austrália já aumentou o limite de idade para 16 anos no final de 2024, tornando-se um pioneiro global.
Outros países, como Brasil e Dinamarca, mudaram suas políticas escolares e baniram tablets e smartphones do pátio da escola.
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Celulares e depressão
O uso excessivo de smartphones está associado a vários problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade, estresse, insônia e vício.
Um estudo publicado no início deste ano na revista BMC Medicine, por exemplo, aponta que os sintomas de depressão diminuem em 27% após três semanas de redução do uso de smartphones.
De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), a saúde mental dos jovens piorou drasticamente nos últimos 15 anos, uma tendência exacerbada pela pandemia.
Nesse período, também houve um grande aumento no uso de mídias digitais. A OCDE esclarece, no entanto, que os pesquisadores ainda não conseguiram provar uma relação causal clara entre as duas tendências.
Os fundadores do Offline Club, por outro lado, decidiram agir de imediato e expandir seus encontros.
Num evento em Londres, no início de abril, mais de mil pessoas desligaram seus celulares e sorriram para a câmera. Um novo recorde, declararam com orgulho os organizadores. Via Instagram, claro.
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