Síndicos se unem estabilizar a inclinação dos prédios tortos da orla de Santos, SP


Grupo se reuniu para mobilizar as autoridades sobre a situação e solicitar um financiamento pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou do Banco Mundial. Santos, SP, tem 65 prédios tortos na região da orla da praia
A Tribuna Jornal
A cidade de Santos (SP) é conhecida em todo o país pelos prédios tortos, já que mais de 300 construções na orla da cidade pendem para um dos lados. Apesar da situação peculiar, esses imóveis são um incômodo diário para os moradores. Por isso, um grupo de síndicos de prédios tortos na orla de Santos se reuniu para mobilizar as autoridades e buscar ‘estabilizar’ a inclinação.
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Apesar da fama dos prédios tortos na orla, um levantamento feito pela Prefeitura de Santos revelou que a situação é observada em outras partes da cidade. Ao todo, são 319 edifícios nessas condições, sendo que os 65 em frente às praias apresentam maior inclinação.
Uma primeira reunião foi realizada, na tarde de terça-feira (6), no salão de festas do Condomínio Conjunto Tertulia, no bairro Gonzaga, e contou com a presença de políticos. Segundo a síndica Eliana de Mello, o objetivo é reunir os 65 responsáveis pelos prédios inclinados da orla para que seja feita uma associação.
No primeiro encontro, 12 síndicos participaram, além da participação de subsíndicos. O grupo deseja criar a ‘Associação de Síndicos dos Prédios Inclinados da Orla da Praia’. Eliana contou que eles tiveram acesso aos contatos dos demais síndicos que não participaram do primeiro encontro para convidá-los a participar do próximo. Outra reunião foi marcada para o dia 27 de agosto.
De acordo com a síndica, a associação pretende solicitar um financiamento pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou do Banco Mundial.
“É o cartão-postal e pode correr o risco de um deles colapsar, então a gente vai fazer uma associação, pelo menos, desses 65 que são os prédios inclinados da orla para depois tentar conseguir [o financiamento]”, explicou Eliana.
Ela relembrou que a maioria desses imóveis paga o laudêmio [taxa devida ao governo, que incide sobre a valorização de imóveis localizados em áreas compartilhadas com a União]. “É muito justo que o governo federal nos ajude e abrace a situação”.
O que diz a prefeitura?

Em nota, a Prefeitura de Santos esclareceu que não tem nenhum prédio torto em situação de embargo na cidade, muito menos na cota máxima permitida. Desta forma, cabe aos condomínios divulgarem seus percentuais de inclinação, identificados nos laudos de vistoria.
A administração municipal disse que analisa e monitora os edifícios com declividade, em especial os 65 mais acentuados, que estão situados entre o canal 2 e o 6, nos bairros do Gonzaga, Boqueirão, Embaré e Aparecida.
O levantamento inicial foi efetuado pela prefeitura e ocorreu os anos de 2012 e 2013 e, a partir de então, as análises das medições de desaprumo e análise da segurança estrutural passaram a ser de responsabilidade dos condomínios através do estabelecido na Lei de Autovistoria (leia mais abaixo).
‘A Torre de Pisa’
Turista compara prédios tortos de Santos (SP) a Torre de Pisa, na Itália
Vanessa Rodrigues/A Tribuna Jornal e Miguel Medina/AFP
Em uma entrevista ao g1, o turista – morador de São Paulo – e psicólogo Elizeu Ramos do Nascimento, de 52 anos, disse que os prédios tortos em Santos são tão surreais quanto a torre inclinada de Pisa, na Itália.
“Ao mesmo tempo é surreal ver pessoas morando nesses prédios. São seguros, dizem que não tem risco, mas não vejo muito como morar em um lugar desse”, disse.
A Torre de Pisa, construída no século 12, é conhecida mundialmente por sua angulação, mas especialistas dizem que ela agora está se endireitando. Em 2018, o grupo que acompanhava a restauração do edifício anunciou que a torre está ‘estável e bem lentamente vai reduzindo sua inclinação’.
Imóveis cobiçados
Prédio torto, no bairro Embaré, em Santos (SP), é vendido por R$ 770 mil
Roda Imóveis
Santos ficou conhecida nacionalmente como a ‘capital’ dos prédios tortos no Brasil. Apesar da situação peculiar, esses imóveis, muitos localizados na orla da praia, são bastante cobiçados e podem valer até R$ 1,7 milhão, com aluguéis estimados em até R$ 7 mil.
O corretor de imóveis e gerente comercial da Roda Imóveis, Caio Ferreira de Souza, explicou que os prédios tortos são mais difíceis de serem vendidos, não apenas pela inclinação, mas por outros fatores como dificuldade de financiamento, ausência de vaga de estacionamento e preço do condomínio.
“Esses apartamentos são com venda à vista porque os bancos não financiam mais. Não é que eles desvalorizam, mas a gente não consegue vender por financiamento”, explicou Souza.
Ele ressaltou, no entanto, que a locação não é difícil, o que dificulta é o preço dos condomínios, que são altos por causa de funcionários antigos ou pela troca por portaria terceirizada. “Da mesma forma que encarece a locação, acaba tendo desvalorização na venda”.
Levantamento
A análise sobre a quantidade de edifícios tortos em Santos foi realizada por técnicos da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Edificações (Siedi) após solicitação apresentada à prefeitura pelo vereador José Teixeira Filho, o Zequinha Teixeira (PP), que inclusive já recebeu ofício com os dados coletados.
Zequinha demandou o Executivo após cobranças da população sobre o tema. “Precisamos saber o aumento do grau de inclinação a cada um ou dois anos, e se isso coloca os moradores em risco”.
De acordo com a prefeitura, apesar de os prédios estarem tortos, as condições atuais deles não indicam comprometimento das seguranças estruturais.
Ao g1, o engenheiro civil Franco Pagani afirmou que nenhum prédio inclinado na cidade apresenta risco de queda, mas explicou que edifícios estreitos e altos demandam maior atenção pois inclinam com mais facilidade, enquanto os grandes e retangulares afundam e não geram perigo.
Lei e laudos por segurança
Santos, SP, tem 65 prédios tortos na região da orla da praia
A Tribuna Jornal
A Prefeitura de Santos informou que, a cada dois anos, exige que os edifícios apresentem laudos sobre a inclinação dos prédios. O objetivo é acompanhar se aumentou, estacionou e se alguma intervenção deve ser feita.
A cobrança é feita com base na Lei Complementar 441 de 2001, que requer a apresentação de laudo de autovistoria técnica atestando as condições de segurança e estabilidade.
As medições são acompanhadas pelo Programa dos Prédios Inclinados de Santos. A avaliação da necessidade de obras de reparos ou de manutenção da edificação são analisadas pelo responsável técnico pelo laudo.
A prefeitura ressaltou que existem soluções técnicas e viáveis para resolver o problema da inclinação, mas é do condomínio a responsabilidade pela contratação de empresa especializada para execução das obras, enquanto o município fiscaliza.
Prédios tortos na orla de Santos (SP)
Vanessa Rodrigues/A Tribuna Jornal
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