Tiro que matou soltado foi disparado a mais de 1 metro de distância, aponta perícia; comandante do Batalhão havia sugerido suicídio

Os peritos colheram amostras de DNA na arma, pesquisaram vestígios de pólvora nas mãos das testemunhas e da vítima, analisaram as manchas de sangue e, depois, a necropsia no corpo. ‘Tiro que matou soltado foi com mais de 1 metro de distância’, dizem peritos
O Fantástico teve acesso ao inquérito policial militar que investiga a morte do soldado Wenderson Nunes Otávio, de 19 anos, dentro de um alojamento do Exército no Rio de Janeiro.
A perícia de local concluiu que, no momento do tiro, Wenderson estava sentado num sofá, inclinado, como se estivesse calçando o coturno. Concluíram ainda que o tiro foi dado a uma distância maior do que um metro e de cima para baixo, atingindo o soldado na lateral da cabeça.
Os peritos colheram amostras de DNA na arma, pesquisaram vestígios de pólvora nas mãos das testemunhas e da vítima, analisaram as manchas de sangue e, depois, a necropsia no corpo.
Comandante havia sugerido suicídio
O caso ocorreu em 15 de janeiro de 2025, no 26º Batalhão de Infantaria Paraquedista. Na época, o comandante da unidade, tenente-coronel Douglas dos Santos Leite, comunicou à família que Wenderson teria tirado a própria vida dentro do alojamento dos soldados.
“É impossível. Eu conheço meu filho. Eu queria saber a verdade e a verdade iria chegar”, afirmou o pai, Adilson Firmino Rosa.
Três colegas de alojamento relataram ter ouvido o disparo por volta das 16h50 e encontraram o soldado caído. Em depoimento, eles contaram que Wenderson estava com problemas com a namorada e que teria atirado em si mesmo porque, supostamente, o namoro havia terminado.
Ao Fantástico, a namorada de Wenderson nega essa narrativa:
“É mentira, ele estava lá em casa no dia que aconteceu isso. Ele saiu de lá de casa, a gente estava normal. E era um cara que eu amava muito, muito mesmo (chora)”.
O jovem foi levado para o Hospital Central do Exército, mas, cinco dias depois, teve morte cerebral.
“Disseram que foi um acidente, depois mudaram para suicídio. A gente quer a verdade”.
Legista descarta hipótese de suicídio
A pedido do Fantástico, o médico legista Dr. Luiz Carlos Prestes analisou o relatório de perícia.
“O trajeto [do projétil], ele traduz que esse disparo foi feito pelo atirador provavelmente em pé, à direita da vítima e que fez um disparo a distância. Não foram absolutamente encontrados vestígios no corpo da vítima de disparo a curta distância ou ainda com a arma encostada, que é típico daqueles casos de suicídio. Portanto, baseado nesses achados técnicos, está descartada a hipótese de suicídio”, afirma.
A análise de DNA na pistola 9 milímetros que causou a morte do soldado revelou a presença dos perfis genéticos de Wenderson e dos três colegas de alojamento que disseram que ele se suicidou. Mas, na análise de vestígios de pólvora nas mãos dos quatro soldados, o resultado foi negativo.
Em nota, o Exército disse que manteve contato com os familiares do militar e que a família recebeu atendimento psicológico e médico. Disse também que foram fornecidas à família informações sobre o andamento do inquérito, dentro dos limites legais. Segundo o Exército, a investigação segue em segredo de justiça e sob responsabilidade do Ministério Público Militar.
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