JD Vance adota tom diplomático sobre Musk após sugestão de Trump

O vice-presidente JD Vance revirou os olhos ao ser mostrado, durante a gravação de um podcast, o comentário de Elon Musk sugerindo que o presidente Donald Trump deveria sofrer impeachment e que Vance deveria substituí-lo.

“Ah, meu Deus”, disse Vance, enquanto tomava uma bebida energética sabor laranja com gás, sentado de frente para o comediante e podcaster Theo Von. “É disso que estou falando.”

“Do que você está falando — de campanha?”, brincou Von.

Mas Vance não mordeu a isca, nem mesmo se arriscou a fazer piada sobre a possibilidade de assumir o lugar de Trump.

“Esse tipo de coisa não ajuda em nada”, disse Vance sobre Musk, que transformou críticas à agenda de políticas internas de Trump em ataques pessoais agressivos — sendo esse comentário em particular um que claramente buscava colocar o presidente e Vance em lados opostos.

“A política é um lugar onde as pessoas apunhalam umas às outras pelas costas. Você não consegue realizar nada, a menos que todos estejam no mesmo time e realmente comprometidos em fazer as coisas acontecerem juntos”, continuou Vance. “A ideia de que… o presidente deva sofrer impeachment — desculpe, isso é loucura.”

Enquanto Musk alimentava ainda mais a disputa na quinta-feira (5), Vance estava gravando o podcast com Von em Nashville, no novo restaurante do cantor Kid Rock, aliado de Trump, e foi forçado a responder em tempo real.

Vance foi mostrado, pela primeira vez, a publicação de Musk acusando Trump — sem provas — de estar nos “arquivos de Epstein”.

Ao ler a postagem no monitor, Vance reagiu: “Eu nem tinha visto essa ainda.”

“Presumivelmente, quando isso for ao ar, as pessoas já vão saber mais do que eu mesmo, porque isso meio que aconteceu enquanto eu estava no avião vindo pra cá”, disse Vance durante a entrevista, divulgada na manhã do sábado (7).

Antes de voar para Nashville para gravar o podcast, o vice-presidente estava no Salão Oval, sentado à esquerda de Trump, quando repórteres bombardearam o presidente com perguntas sobre as críticas de Elon Musk ao seu “grande e belo projeto de lei”.

Segundo uma fonte familiarizada com o assunto, Trump e Vance conversaram diversas vezes ao longo da quinta-feira, e Trump incentivou Vance a falar de forma diplomática sobre Musk quando fosse questionado publicamente.

Durante o podcast, Vance defendeu Trump das acusações ligadas a Jeffrey Epstein, dizendo: “Absolutamente não. Donald Trump não fez nada de errado com Jeffrey Epstein.”

“Tudo que os democratas e a mídia dizem sobre isso é totalmente besteira”, acrescentou Vance.

No entanto, dessa vez não eram os democratas nem a mídia fazendo essa acusação — era ninguém menos que Elon Musk, ex-aliado próximo de Trump.

Ainda assim, Vance não atacou Musk nem adotou um tom agressivo para defender Trump. Preferiu seguir a linha diplomática que o presidente recomendou e deixou claro onde estão suas lealdades. Na ocasião, Vance disse esperar que os dois homens pudessem se reconciliar, mas a postagem de Musk sobre Epstein deixou dúvidas.

“Sou o vice-presidente do presidente Trump. Minha lealdade sempre será com o presidente, e acho que Elon é um empreendedor incrível”, disse Vance, acrescentando: “Espero que, eventualmente, Elon volte para o nosso lado. Talvez isso não seja mais possível agora, porque ele passou dos limites.”

No sábado, Trump disse à NBC News que não está interessado em consertar sua relação com Elon Musk.

O CEO da Tesla aparentemente apagou várias das postagens feitas na quinta-feira durante o embate com o ex-presidente — incluindo a que mencionava Epstein e sugeria o impeachment de Trump com substituição por JD Vance —, mas as críticas ao projeto de lei de Trump ainda permanecem em sua conta na rede X.

JD Vance e Musk, no entanto, sempre mantiveram uma boa relação, mesmo antes de Vance ser escolhido como vice na chapa de Trump. Segundo uma fonte ouvida pela CNN, os dois se falavam com frequência.

A CNN já havia noticiado anteriormente que Musk fez lobby para que Trump escolhesse Vance como vice, junto com aliados conservadores como Donald Trump Jr., Steve Bannon e Tucker Carlson.

Comentando sobre o atrito entre Musk e Trump, Vance elogiou o empresário por seu esforço em combater “desperdício, fraude e abuso” através do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), mas o retratou como alguém emocional, um empreendedor frustrado com a política.

“Elon é novo na política, certo? Os negócios dele estão sendo atacados o tempo todo. Estão literalmente incendiando alguns dos carros dele”, disse Vance, referindo-se a atos de vandalismo contra veículos e instalações da Tesla. “Acho que parte disso é que ele entrou na política e tem sofrido muito por isso.”

“Eu entendo a frustração”, continuou Vance. “É um bom projeto de lei. Não é perfeito, como tudo em Washington. Se você é um líder empresarial, provavelmente vai se frustrar com o processo, porque é mais burocrático, mais lento.”

“No fundo, cara, acho que é um grande erro ele atacar o presidente dessa forma”, concluiu Vance. “Se ele e o presidente entrarem em uma guerra pessoal, o mais importante é que isso vai ser ruim para o país, mas também acho que não será bom para Elon.”

Vance deu a entender que já havia um certo desgaste na relação entre Trump e Musk, mesmo antes da explosão pública de quinta-feira, por conta das críticas de Musk ao projeto de lei.

“Não quero revelar muita coisa em confidência, mas [Trump] já estava um pouco frustrado, sentindo que algumas das críticas eram injustas vindo de Elon. Mas acho que ele tem sido muito contido, porque o presidente não acha que precisa entrar numa guerra aberta com Elon Musk. E, na verdade, acredito que, se Elon se acalmasse um pouco, tudo ficaria bem”, disse Vance.

Embora tenha reconhecido que “Elon tem direito à sua opinião”, Vance alertou sobre os riscos de entrar em confronto com Trump.

“Essa guerra é realmente do interesse do país? Eu acho que não”, afirmou. “Então, espero que o Elon reflita e volte para o grupo.”

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